Por: Marcelo Perilier

As celebrações históricas de 2024

Che Guevara foi um dos principais líderes da Revolução Cubana | Foto: José Espanca/ Wikimedia Commons

Inicia-se mais um ano e para nós, historiadores e pesquisadores, é hora de olhar o calendário e observar os fatos que marcaram o mundo com os anos de final 4, que celebram datas redondas, e de final 9, que comemoram anos quebrados em 5, que, para a historiografia, também é considerado redondo, por ser a metade. E na largada, um fato que estremeceu a América e provocou uma grande revolução política mundial, a ponto de quase estourar outra guerra. Depois de anos de luta, os revolucionários liderados por Che Guevara e Fidel Castro conseguiram tirar o general Fulgêncio Batista do poder, estabelecendo, em 1º de janeiro de 1959, o primeiro país comunista na parte ocidental do mundo, e logo aquele considerado o “quintal” dos Estados Unidos: Cuba.

Quando tornou-se independente da coroa espanhola, a ilha foi muito bem agraciada pelos interesses norte-americanos no local, principalmente pela proximidade com a Flórida. Por isso, o termo de “quintal” dos Estados Unidos. Não por menos, as relações comerciais entre os dois países foram bem prósperas e de acordos “mútuos”, com os governos estadunidenses impondo seus conceitos na ilha. E a porta de entrada para isso foi a Emenda Platt na constituição cubana, dando totais poderes para os EUA intervirem em Cuba, toda vez que a política insular não fosse a par dos norte-americanos.

Por décadas, empresas exploraram a ilha, especialmente as carvoeiras, adquirindo terrenos e quinhões de terras férteis. Em março de 1952, um golpe colocou o general Fulgêncio Batista no poder instaurando um período ditatorial no país. Isso provocou revolta de grupos de oposição que instalaram esquemas de guerrilhas para tomar o governo. Liderados por Fidel Castro, eles se concentraram na Sierra Maestra e, em 1956, iniciaram os conflitos com as tropas de Batista. Após três anos de guerras e disputas duras, o general renunciou ao comando da ilha em 1º de janeiro de 1959, deixando o caminho livre para Fidel e seu grupo assumir o comando.

Porém, o regime político adotado, pela questão do grupo, ligado a Marx e Engels, foi o de transformar o “quintal” norte-americano em um regime soviético, instaurando uma política comunista na América, sendo o primeiro a adotar isso no continente. Isso fez com que os Estados Unidos adotassem medidas duras de contra-ataque, como o conflito na Bacia dos Porcos, em 1961, mas foi em vão, com Cuba virando uma fiel aliada da União Soviética, bem perto dos EUA. Tanto que um ano depois, uma possível instalação de mísseis de longo alcance soviético quase provocou a Terceira Guerra Mundial, que seria a mais cruel e devastadora de todas, pois poderia envolver armas nucleares.

No fim, Cuba teve seu regime socialista comandado pela Família Castro até 2018, com a restauração de medidas diplomáticas e políticas com os Estados Unidos. Hoje, a ilha é comandada por Miguel-Díaz Canel e seu regime político é considerado unitário.

O ano também reserva, ao longo dos seus 366 dias, já que estamos em período bissexto, ou seja, teremos o dia 29 de fevereiro, outras marcas importantes, seja na história nacional ou internacional.

Fatos nacionais

No país, ainda em janeiro, o aniversário de 470 anos de São Paulo. Hoje considerada a principal metrópole brasileira, pela sua concentração de empresas e financeira, ela foi, séculos atrás, a precursora do movimento dos bandeirantes, rumo ao desconhecido interior do território nacional, em busca de ouro e minérios. Não por menos, há várias estátuas e monumentos em homenagens a esses desbravadores que, por mais que os relatos contêm suas mazelas, deve-se exaltar essa virtude de “invadir” a parte espanhola da América – não pode esquecer que o início do movimento dos bandeirantes coincide com o período da União Ibérica – e aumentar um pouco quinhão português no novo continente.

Depois, no Império, virou a cidade do café, com a famosa terra roxa e solo massapé, deixando o Vale do Paraíba o principal fornecedor nacional, desbancando as lavouras do Rio de Janeiro, já desgastadas quando ou paulistas começaram e alavancaram o plantio. Na Primeira República, os políticos locais comandaram a estrutura Executiva do país, numa parceria com Minas Gerais, até 1930, quando ela foi rompida e Getúlio Vargas, com ajuda dos militares, subiu ao poder.

Por falar em República (ou res publica – coisa pública), o ano também é de celebração para o fato, que aconteceu a 135 anos, em 15 de novembro de 1889. Orquestrado por militares, com alguns até considerando ter sido um golpe contra a família imperial, o fato é que, desde a Guerra do Paraguai (1864-1870), o Exército vinha se sentindo mais forte politicamente, pois lutou com pouco apoio do imperador Dom Pedro II e sobreviveu pelas próprias pernas no conflito. Com isso, juntando as ideias e ideais que vinham da Europa, especialmente a corrente positivista de Augusto Comte, alguns generais, marechais e outros de alta patente começaram a arquitetar um plano para destituir o Império e criar uma nova estrutura política no país, mais alinhada ao estilo republicano. Angariando apoio de outras classes da aristocracia brasileira, retirou-se a família imperial do poder e proclamou-se a República. Se foi golpe ou não, há correntes que caminham para esta teoria e outras discordam. O fato é que, mesmo com a mudança política, o povo continuou, em grande parte, sendo ignorado e não obtendo as melhorias necessárias – por mais que Dom Pedro II tenha deixado o Brasil sendo uma das grandes potências mundiais na época e com bons índices sociais internos.

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Monumento no Centro do Rio em homenagem ao marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República | Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil

Voltando a Vargas, durante seu longevo governo, um provisório que durou 15 anos, há uma efeméride bem peculiar e que, provavelmente, ficará esquecida para muitos: os 90 anos da constituição de 1934, que deu o direito ao voto feminino no Brasil. Quando estourou a Revolução Constitucionalista de 1932, cobrando uma postura de Vargas para deliberar uma Assembleia Constituinte, várias propostas foram postas à mesa e outras juntadas para fazer a Carta Magna. Dentre elas, o decreto eleitoral de 24 de fevereiro de 1932, que estabeleceu o voto feminino no país, com o Rio Grande do Norte sendo o primeiro estado a adotá-lo, incorporado à constituição de 1934.

Todavia, a primeira eleição nacional que registrou o voto feminino foi a de 1945, pois Vargas, em 1937, deu um golpe para continuar no comando no país, sob a justificativa de que estava livrando o país das “forças comunistas, que arquitetaram um plano para tirá-lo do poder e fazer uma república soviética no Brasil”. Depois de anos, o Plano Cohen ainda é uma dúvida se era verdadeiro ou não, mas o fato é que serviu de ponte para Vargas instaurar um regime fascista no Brasil.

E se ainda estamos na república, o primeiro movimento para tentar estabelecer seu modelo no país completa exatos 200 anos: a Confederação do Equador, de 1824. Uma insurreição dos estados do Nordeste contra o autoritarismo do então imperador Dom Pedro I, especialmente com a criação do poder Moderador na constituição, a primeira do país, que também celebra 200 anos, dando a ele o poder de veto de medidas do Executivo, Legislativo ou Judiciário. O movimento pedia a adoção de um modelo republicano no país e mais apoio financeiro e estrutural nas províncias da região. Seus principais líderes foram Frei Caneca e Cipriano Barata, com o primeiro sendo morto por enforcamento e o segundo preso, mas liberado anos depois. A revolução serviu, também, para mostrar a força da imprensa na propagação de ideias no povo brasileiro.

Fatos internacionais

Se tem um evento internacional que modificou o mundo de tal forma a intervir no eixo político, econômico e cultural, este é a Revolução Francesa, que completa 235 anos em 14 de julho.

O movimento, inspirado nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, foi transformador para a sociedade francesa na época, que conseguiu garantir alguns direitos e reduzir privilégios da realeza. Fora isso, fez mudanças significativas na política, com o surgimento do termo “democracia” (poder do povo), e a divisão dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário.

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Pintura de Jean-Pierre Louis Houël retratando a tomada da Bastilha, antiga prisão francesa | Foto: Divulgação

E se tratando de Revolução Francesa, não pode deixar de lado a Era Napoleônica, cujo início foi em 1799, há 225 anos. Além disso, os 220 anos da coroação de Napoleão como imperador da França.

Outros fatos que estão na lista são as Grandes Guerras, com a Primeira comemorando 110 anos do seu início e a Segunda, 85. Fora isso, os 80 anos do famoso Dia D, que garantiu a vitória dos Aliados contra o Eixo, com o desembarque das tropas norte-americanas na Normandia.

Para não deixar passar em branco, o famoso crash da Bolsa de Valores de Nova York, que celebra 95 anos e provocou uma turbulência sem igual na economia e no setor financeiro mundial. E os 35 anos da queda do Muro de Berlim, um marco que “reunificou”, antes dividido em parte ocidental (democrática) e parte oriental (soviética).

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