Por: Ana Paula Marques

Alternância do poder: possível volta da direita em 2024

Vitória de Milei traz discussão de retorno da direita na América Latina | Foto: Divulgação/ Vox España

Foi com surpresa que Javier Milei, venceu as eleições argentinas. Seus números cresceram ainda durante as primárias. A dúvida era enquanto ao seu ultraconservadorismo em meio a uma onda de esquerda na América Latina — nos últimos quatro anos, quatro países trocaram governistas de direita por chefes progressistas. A vitória de Milei foi comemorada pela direita brasileira e criou a expectativa de uma nova onda conservadora.

Agora as expectativas da direita mundial são para as eleições norte-americanas de 2024. Os Estados Unidos deve ser palco de outro embate entre Donald Trump e Joe Biden nas urnas. Apesar de ser réu em vários processos e somar mais de 91 acusações, com dois estados, Colorado e Maine, o julgando inelegível, as pesquisas de 4 de dezembro realizadas pelo apontador FiveThirtyEight, mostram que Trump tem 59,8% das intenções de voto dentro do seu partido.

Donald Trump pode concorrer porque, apesar de ter diversos processos na justiça, os Estados Unidos não proíbe que pessoas investigadas possam concorrer. Seus problemas estarão relacionados às decisões do Colarado e do Maine. As Cortes dos dois estados consideraram que Trump é inelegível com base em um dispositivo constitucional que impede a candidatura de alguém que tenha patrocinado uma insurreição contra as instituições democráticas do país. Os dois estados entenderam que Trump teria agido assim ao estimular a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Nos Estados Unidos, os estados, reunidos em Confederação, tem autonomia jurídica. Trump, porém, poderá recorrer das decisões na Suprema Corte.

Tanto Biden quanto Trump precisam passar pelas eleições primarias em suas legendas. É histórico que as eleições estadunidenses influenciam não só a América Latina, mas também em todo o mundo, e uma possível volta de Trump pode trazer a direita para os holofotes novamente.

Volta da direita?

Em 2019, seis países da América Latina eram liderados por presidentes de direita. Após a vitória de Alberto Fernández na Argentina neste mesmo ano, o cenário foi mudando. Em 2023, oito países são coordenados por presidentes progressistas. A vitória de Milei pode ter freado o que se batizou de “onda rosa”.

Milei se autodeclara anarcocapitalista — um ramo do liberalismo econômico que prega a abolição total do Estado no sistema capitalista, uma vertente considerada de extrema-direita. Durante a eleição deste ano, uma de suas propostas era dolarizar a economia e fechar o Banco Central da Argentina.

Outra vitória vem causando a sensação de ascensão por meio da direita, esta na Holanda. Apesar de ser conhecido pelo consumo liberado de maconha e bairros famosos pelo turismo sexual, três dias após a vitória de Javier Milei, a extrema-direita obteve sucesso também no país, com a vitória do Partido pela Liberdade, liderado pelo político Geert Wilders, conhecido por posições anti-Islã e anti-União Europeia. A sigla deve conquistar entre 35 e 37 cadeiras no Parlamento holandês.

Alternância de poder

Segundo o cientista político Melillo Dinis, todo o mundo, e principalmente, a América Latina, não está fora de um movimento político eleitoral que se chama alternância do poder. Segundo Melillo, essa alternância tem sido realizada com mais frequência a partir de três fenômenos.

“O primeiro é quando a democracia formal entrega muito pouco resultado à população. E, a partir disso, esta população muda de viés sem muito refletir sobre uma posição ou outra, ou seja, entre a direita e a esquerda. O que a população quer é solução para os seus problemas” continua .

“O segundo fenômeno está associado a uma pressão muito grande da opinião pública, que, acelerada pela dinâmica própria do digital e das redes sociais, acaba desgastando a imagem do governante”, disse.

O terceiro fenômeno, segundo o analista, está ligado a presença de populistas, que acabam se adequando a formatos ou a estereótipos de condução da política que acontecem tanto na direita quanto na esquerda.

“Recentemente, o que tem sobressaído são personagens que têm um perfil muito próximo do que tivemos com Jair Bolsonaro, como agora com Javier Millei na Argentina. Esses populistas têm como grande característica pessoal o seu narcisismo irresponsável, ou seja, a sua incapacidade de avaliar as consequências de seus atos, motivados por uma presença na política individual, raramente de um grupo”, explica.

Para Melillo, Trump avança diante do “fracasso retumbante das políticas de Joe Biden, além obviamente de sua idade que vai avançando. Essa alternância de direita e esquerda não funciona de uma maneira matemática, mas é parte do jogo da política”, especifica.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.