Por: Gabriela Gallo

"Arte serve para falar de assuntos delicados, como saúde mental"

A atriz e maquiadora Nati Maia preparando Rafa Di Souza para o ensaio | Foto: Arquivo Pessoal

Durante o mês é realizado o chamado Janeiro Branco, campanha de conscientização global sobre os cuidados com a saúde mental e emocional. Além de alertar sobre os possíveis cuidados, a campanha visa alertar os desafios de doenças que, muitas vezes, não são vistas.

Questionada pela reportagem, a psicóloga Alessandra Araújo explicou que existe diferença entre a saúde mental e a saúde emocional. “A saúde mental abrange o estado geral da mente, incluindo aspectos como o funcionamento cognitivo e a saúde psicológica. Já a saúde emocional está mais focada nas emoções específicas que uma pessoa experimenta e como ela lida com essas emoções. Ambos são importantes para o bem-estar global”, ela destacou em entrevista ao Correio da Manhã.

“Cuidar da saúde mental é crucial para o bem-estar geral e a qualidade de vida. Uma boa saúde mental contribui para a capacidade de lidar com desafios, manter relacionamentos saudáveis, tomar decisões informadas e alcançar metas pessoais”, reforçou a psicóloga.

A saúde mental deveria ser levada a sério da mesma forma em que se cuida da saúde física. No entanto, o tópico ainda apresenta um forte tabu. Além de diversas vezes não ter a urgência necessária, visto que são condições muitas vezes “invisíveis”, Alessandra Araújo também destacou que “falta de recursos adequados para o tratamento e ausência de modelos positivos de saúde mental na mídia” reforçam um estigma negativo.

“A complexidade das condições mentais e as diferentes formas como se manifestam também contribuem para a falta de compreensão, gerando receios e estigmas. Desconstruir essas percepções equivocadas é fundamental para promover uma abordagem mais aberta e inclusiva em relação à saúde mental”, ela alertou.

Vale destacar que, a depender da gravidade do estado, pessoas diagnosticadas com transtornos de humor, esquizofrenia e transtorno bipolar podem se tornar impossibilitadas (temporária ou permanentemente) de exercer suas funções laborais. Dessa forma é possível acionar o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), se necessário. Por isso é tão importante cuidar da saúde mental.

Saúde e Arte

E para contribuir no debate para os cuidados com a saúde mental, a atriz brasiliense Nati Maia criou o projeto “Calendário Artístico Preventivo – CAP”. Financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da capital federal, o projeto realiza ao longo do ano diversas campanhas de debate e conscientização da saúde mental. São 12 ensaios fotográficos, disponibilizados ao longos de cada mês do ano, que alertam sobre uma campanha diferente, tal como um calendário.

“Eu queria juntar artes cênicas e ciência, porque eu já trabalho nessa área desde 2017. Então, sempre foi um sonho meu fazer algum projeto que conseguisse juntar esses dois mundos, que parecem muito distantes, mas, na verdade, a gente percebe quão próximos eles são e o quanto eles têm para agregar um ao outro”, disse Nati Maia em entrevista exclusiva ao Correio da Manhã.

E a primeira etapa desse calendário é sobre Janeiro Branco. Fotografias de forte impacto mostram o modelo e ator Rafa Di Souza com insultos e xingamento de baixo calão escritos com tinta em seu corpo, enquanto ele encena momentos de desespero. Negro, ex-obeso e vindo da periferia, o modelo foi escolhido a dedo para retratos que simbolizam não apenas como as palavras e o bullying podem prejudicar a vida de alguém, mas o próprio racismo.

“Durante a sessão de maquiagem, a gente conversou muito sobre todo o bullying que ele passou ao longo da vida. Como foi pra ele essa mudança de vida após ele conseguir sair da obesidade, como foi para ele estudar, sendo da periferia, então foram muitos assuntos abordados. Todos os xingamentos, os adjetivos que eu escrevi nele, foi ele que falou já ter escutado ao longo da vida”, contou Nati Maia à reportagem.

“A campanha tem o propósito de estar marcado na pele dele. Nessa pele negra, palavras brancas. Em relação ao janeiro branco, mais palavras difíceis que fez ele ter que lidar com a saúde mental dele durante toda a vida. Acho que o fato de eu ter começado esse calendário com o Rafa, que é um homem negro e passa por todas as questões dessa negritude na sociedade, fez com que a gente começasse muito bem essa campanha de Janeiro Branco”, ela completou.

É possível acessar mais informações do projeto pelo instagram @calendario_art_prev.

Tratamento

A principal recomendação para tratamento é procurar um profissional de saúde qualificado, em geral, psicólogos. No entanto, o acesso ainda se torna restrito por um custo elevado ou falta de acessibilidade.

Dessa forma, a psicóloga Alessandra Araújo dá outras alternativas. Ela pontua que “outras formas de entrar em processos que são terapêuticos até que se organize e se possa fazer uma psicoterapia individual” são Serviços de Saúde Pública, Centros de Saúde Comunitários, Linhas de Apoio e Chat Online, Organizações Sem Fins Lucrativos e Grupos de Apoio. Além disso, “universidades com programas de psicologia muitas vezes oferecem clínicas de treinamento com taxas mais baixas, supervisionadas por professores”.

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