É fato. A Cidade do Cabo é a versão sul-africana do Rio de Janeiro, assim como Joanesburgo corresponde a São Paulo. As primeiras vivem em função de suas belezas proverbiais, espremidas entre morro e mar, e seus cidadãos gostam de se dizer mais despreocupados, descontraídos. As outras, megalópoles espalhadas, tendem a conquistar apenas os iniciados, mas são as únicas que podem se considerar cosmopolitas de verdade em ambos os países.
Fica fácil, portanto, eleger a Cidade do Cabo, segunda maior cidade da África do Sul como o mais óbvio cartão de visitas do país, sobretudo agora, com a recente retomada dos voos diretos para o Brasil.
O avião nem pousa e já se nota a Table Mountain, o maciço em forma de mesa pairando sobre o que outrora era sede do cabo das Tormentas, tão temido pelos navegadores portugueses do século 15.
Subir ao topo daquele platô num teleférico e contemplar a cidade do alto é o item número 1 da lista de turistas de primeira viagem. São 1.086 metros de altitude, quase três vezes mais do que o Pão de Açúcar. Conforme o bondinho sobe, sua plataforma vai girando, de forma que todos a bordo podem ter uma boa visão do Atlântico, que vai ficando distante, e do paredão rochoso que se impõe a quase 90º. O ingresso para ida e volta custa 360 rands (R$ 94).
Evite subir em dias nublados, não tão incomuns por ali, e se prepare para rajadas de vento, que podem ser geladas a depender da estação do ano. Mas em dias ensolarado, é possível avistar não só todas as praias ao redor, mas até mesmo o cabo da Boa Esperança, a porção mais meridional do local, a alguns quilômetros de distância.
É nesse cabo que fica um farol, que pode ser visitado. O percurso de carro, que leva cerca de uma hora a partir do centro da cidade, cruza fazendas de ovelhas e avestruzes e trechos idílicos de praia rochosa, com suas casas de veraneio incrustadas no morro.
O farol está erguido no alto de 87 metros de altitude, virado para um costão de pedra e pode ser acessado por meio de um teleférico ou a pé, com dificuldade média, por degraus num trecho repleto de babuínos - cuidado: eles são rápidos, gostam de abrir mochilas atrás de comida e podem arrancar telefones celulares das mãos das pessoas.
Caso o turista resolva visitar o cabo da Boa Esperança, vale dar uma esticada até Boulders Beach, na área conhecida como Simon's Town, e ver a colônia de pinguins africanos, estabelecida ali desde os anos 1980. Os bichinhos, que levam uma pelagem cor-de-rosa na região dos olhos, podem ser vistos bem de perto a partir de decks de madeira. A área de conservação cobra cerca de 176 rands, ou R$ 46, dos visitantes internacionais.
Ainda falando de praia, Muizenberg é conhecida como o reduto dos surfistas - muito embora a água ali seja geladíssima - e pelas casinhas coloridas fincadas na areia, usadas antigamente para que os banhistas se trocassem. Uma curiosidade histórica: Agatha Christie, a autora britânica de livros de mistério, costumava surfar por ali nos anos 1920, época em que o esporte ainda era restrito a gente rica. A tradição legou à região cafés, restaurantes com vista para a praia e vibe mais relaxada.
Para além do visual, a Cidade do Cabo seduz pelo estômago. A área do Victoria & Alfred Waterfront, reduto que concentra os turistas, é o nicho para comer e beber bem, seja nos restaurantes à beira do mar, como o Ginja, que oferece pratos típicos com toque contemporâneo.
A região, com seus barzinhos e lojas de madeira em ruas coalhadas de pedestres, remete ao Pier 39 da cidade californiana de San Francisco. Ali, o Victoria Wharf Shopping Centre é um centro comercial charmoso, com lojas locais e cadeias internacionais. Já o Watershed é um galpão mais hipster, repleto de lojas autorais vendendo roupas, enfeites e objetos de decoração.
Falando em bebida, a produção nacional de vinhos tem berço ali, numa tradição com mais de três séculos. A Groot Constantia, fundada em 1685, é a primeira vinícola da África do Sul e pioneira em firmar o local como um dos mais respeitados na área. A propriedade, a menos de meia hora do centro da cidade, sedia festas de casamento ao sopé de montanhas e oferece degustação de cepas como syrah e pinotage, endêmica do país.
A vinícola também voltou a produzir ali o Grand Constance, um vinho licoroso e adocicado que era o preferido de Napoleão Bonaparte nos tempos em que ele estava exilado na Ilha de Elba. A garrafa de 375 ml custa cerca de R$ 213.
Os preços da comida e dos serviços, aliás, são das principais vantagens da África do Sul como destino para brasileiros, especialmente se comparados ao que se paga nos Estados Unidos ou na Europa.
Na cotação atual, R$ 1 equivale a pouco menos do que 4 rands. Com cerca de 180 rands, ou mais ou menos R$ 50 é possível fazer uma refeição mais do que farta em lugar turístico.
Caso se queira provar o que há de mais refinado, dá para gastar cerca de R$ 182 e comer mexilhões defumados e tataki de atum do menu-degustação de quatro tempos do Foxcroft, restaurante eleito entre os melhores do país. Ou, se a verba permitir, dar um pulo no One & Only, naquele que talvez seja o hotel mais luxuoso da cidade, e tentar uma mesa no Nobu, que faz uma fusão da culinária nipo-peruana com sabores sul-africanos; o menu-degustação ali sai por cerca de R$ 600.
A depender das datas daviagem, pode dar ainda para curtir as first thursdays - programação cultural que envolve bares, restaurantes e galerias de arte, abertos até tarde da noite nas primeiras quintas-feiras de cada mês. A dica é rumar para a Bree Street, o coração boêmio dessa cidade que, assim como sua prima carioca, adora uma festa.
O jornalista viajou a convite da South African Airways e da Wesgro, agência de promoção de turismo da região de Western Cape.