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Chef quer ajudar restaurantes brasileiros a entrarem nos EUA

Chef Gio já trabalhou em grandes restaurantes, como o do famoso Emeril Lagassé | Foto: Divulgação

Com o sonho desde criança de ser chef de um grande restaurante, Giovana Camargo decidiu, em 2015, ir para os Estados Unidos estudar na famosa escola de gastronomia Le Cordon Bleu. Nascida em Arapongas, interior do Paraná, já casada e com filhos, a chef Gio, como é conhecida lá, ficou encantada com a experiência e resolveu arriscar, convenceu a família e foi para lá de vez para construir a sua carreira no universo da alta gastronomia. E o que era apenas um sonho, tornou-se realidade. Com passagens por cozinhas célebres, como a de Emeril Lagassé, famoso chef americano e a do Four Seasons, o hotel mais luxuoso localizado dentro do parque temático da Disney, construiu uma carreira sólida, que abriu novas oportunidades. Devido a sua experiência e o conhecimento dos gostos do norte-americano, ela passou a ser procurada por empresas alimentícias brasileiras que buscam entrar no mercado norte-americano. Além de ajudar na divulgação, Giovana presta consultoria, orientando as marcas sobre a melhor forma de tornar o produto afeito a cultura de lá. Adepta a desafios, há dois anos recebeu a proposta de elaborar uma linha de molho de pizza, que está para ser lançado no Brasil e, em paralelo a rotina da cozinha e do papel de consultora, ainda encontra tempo para editar um livro com receitas de países da América.

Como nasceu esse sonho de ser chef?

Minha paixão pela culinária começou desde criança. Em casa, ninguém cozinhava, mas eu sempre buscava entender sobre a cozinha. Meu pai tinha uma fábrica de doces, como maria mole, cocada, paçoca, então eu cresci no mundo alimentício. Quando tinha 20 anos, fui para Londres e me aventurei em um restaurante, fiz um intercâmbio de cerca de 6 meses. Fiquei encantada com a estrutura de restaurante e percebi que era aquilo que queria fazer.

Entretanto ainda demorou um tempo até você realmente entrar no ramo da gastronomia.

Infelizmente quando voltei do intercâmbio meu pai pegou um câncer muito sério e acabou falecendo. Eu me casei com meu marido, com quem estou há 26 anos, e depois nos mudamos para Bonito, no Mato Grosso do Sul, pois a ideia era abrir um restaurante. Porém eu percebi que ainda não estava preparada e precisava estudar mais. Então voltamos ao Paraná e comecei a estudar na filial do Instituto de Culinária da América. Eu me formei em todos os graus, em cerca de 1 ano e meio. Mas ainda sentia que precisava aprender mais, então fui fazer faculdade de gastronomia em Londrina. Durante as férias, eu comecei a juntar um dinheiro para viajar para fora. Na primeira vez fui para a Le Cordon Bleu de Paris, onde fiz um curso rápido de 15 dias e eu pensei é isso que estou buscando. No ano seguinte, em 2015, fui para a filial de Miami e fiz mais um curso.

Miami foi um divisor de águas para você?

Sim, pois voltei convencida que iria retornar para fazer o curso completo. Conversei com o meu marido que ali estava o meu desejo de uma culinária profissional e fiz a inscrição sem saber se seria aceita. No final de novembro, quando estava acabando a graduação, veio a resposta de que havia sido aprovada. Foi uma loucura. Com duas filhas, vida, cachorro, mas assim que recebi a aprovação avisei que estava indo. O universo fluiu e tudo deu certo, todos acabaram vindo comigo. Era a única brasileira na turma.

Qual foi a visão que você teve da gastronomia dos EUA?

Eu costumo dizer que a alta culinária dos EUA é uma fast alta culinária, pois o pré-preparo é muito bem-feito. Por exemplo, agora, no meu último trabalho no Four Season, um hotel da Disney, por um tempo fiquei responsável pelo café da manhã. Para se ter uma ideia, o melão, por exemplo, já vinha empacotado e cortado no formato certo. Independentemente se você está dentro de uma rede de lanchonete ou de um restaurante cinco estrelas, o pré-preparo, que é o mais importante para a viabilidade do estabelecimento, foi o que mais me encantou. Tenho até tatuado no meu braço, "mise en place", que é estar preparado antes.

Você tem prestado consultoria para que produtos brasileiros entrem no mercado norte-americano, como isso é feito?

Não é fácil, pois o americano tem dificuldade de se adaptar a produtos que não fazem parte da sua realidade. Uma farofa, por exemplo, ele não aceita, porque acha que é um tempero para fazer o frango empanado. Então é bastante difícil essa adaptação, mesmo aqui tendo muitas etnias e culturas. Eu acredito que seja uma herança que trazemos da vivência infantil no paladar adulto. E isso é muito claro aqui, porque eles são muito fechados para o novo. Então eu sempre busco introduzir o produto o aproximando com algo que já seja conhecido por aqui.

Foi assim com a Forno de Minas?

Sim. Eles não entendiam o que era o pão de queijo, então busquei apresentar como sendo um alimento saudável em função do fast-food ser muito gorduroso. Foi seguindo essa linha que comecei a ir aos restaurantes e deu certo. Passou a vender muito bem. Além disso, aqui a cultura colombiana é muito forte e lá tem um pão que se chama pandebono. Então quando eu ia em um restaurante que tinha linhagem latina, eu falava pandebono ao invés de pão de queijo. São estratégias que surgem quando se conhece bem a realidade daqui.

Pelo jeito você gostou bastante desse lado empresarial, tanto que está lançando uma linha de molho de pizza no Brasil.

As oportunidades vão aparecendo e temos que aproveitar. No caso do molho de pizza, eu consegui unir essas duas facetas da minha carreira, pois ajudei na criação do produto em si. Fui para cozinha e ficamos testando até chegar ao resultado final. É uma linha de molho para atender as grandes redes de pizzaria, que agregue sabor e agilize o dia a dia. Estou bem feliz, pois inicialmente seriam vendidos 200 mil rótulos para redes atacadistas, mas os pedidos já superaram mais de um milhão.

Quais são os próximos planos? Talvez abrir um restaurante?

Não excluo essa possibilidade. No momento, quero me dedicar ao lançamento do molho de pizza e terminar o livro que estou editando de receitas de pratos típicos de países da América. Também desejo muito poder ajudar a desenvolver o mercado aqui, nos Estados Unidos, para os chefs brasileiros. Ao longo desses anos que estou aqui, infelizmente vi muita gente competente que veio abrir um restaurante, mas não deu certo. Então quero poder contribuir com a experiência que tenho, com o entendimento de como são as coisas aqui. Desejo que a gastronomia brasileira, que é tão rica, conquiste o mercado norte-americano.

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