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Mini fundos de investimento requerem regulação 'mais atenta' da CVM

Mini fundos requerem mais atenção da CVM, especialmente manipulações de mercado | Foto: Divulgação

Por Redação

Após apurarem, em 2023, a segunda maior retirada líquida da série histórica (R$ 127,86 bilhões), iniciada em 2022, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) — só superada pelo 'tombo' de R$ 129,21 bilhões, no ano anterior — os fundos de investimentos ingressam em 2024 sob a expectativa de que o volume de resgates deverá ser menor do que no ano passado. No ranking dos saques, a liderança absoluta ficou com os fundos multimercados, que responderam por uma 'sangria' de R$ 134,32 bilhões.

Em contrapartida, houve migração de recursos para os chamados fundos estruturados ou alternativos, mediante um montante de aplicações de R$ 42,13 bilhões, por meio de Fundos de Investimento em Participações (FIPs); R$ 24,10 bilhões nos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) e outro R$ 19,26 bilhões.

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Anbima espera menos resgates de fundos neste ano | Foto: Divulgação

Foco de atenção

Mas migrando do macrocosmo para o microcosmo financeiro, é nos chamados mini fundos de investimentos — isto é, aqueles cujo patrimônio líquido não alcança a casa dos R$ 100 milhões - que deveria residir, no momento, o maior foco de atenção por parte da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), sobretudo no que se refere a manipulações de mercado, por declarações oportunistas de gestores ou, ainda, pela má fé de utilizar influencers originários do mundo artístico. Tanto em um caso, quanto no outro, investidores de 'primeira viagem' acabam sendo vítimas de golpes, em esquemas de fachada e que, no mínimo, arranham a credibilidade do mercado de capitais.

Exemplo emblemático disso pode ser dado pelo controverso gestor de mini fundos e sócio-fundador da Esh Capital, Vladimir Timerman, que não tem a mesma eficiência para entregar uma rentabilidade satisfatória aos seus investidores.

Especialista na criação de crises, Timerman nada fez, até agora, para reverter a 'queda livre' de rentabilidade do fundo que administra (ESH THETA 18 FC MULT), que despencou 66,79% (R$ 2,24005, a cota) nos últimos 12 meses, de acordo com informações prestadas, relativas a essa terça-feira (9), pelo site da Anbima, para um patrimônio líquido de R$ 95.067.476,17 e uma taxa de administração anual de 2%.

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Vladimir Timerman, fundador da Esh Capital | Foto: Divulgação

Derrocada 'conveniente'

Em julho passado, Timerman foi o protagonista da 'derrocada' da ação da varejista Mobly, que 'derreteu' 24,17%, após ele ter acusado a CTM Investimentos de manipulação de mercado, por meio de posições de seus fundos em ações da Mobly e de outros papéis.

A acusação do gestor deficitário encontrou terreno fértil na rede social do WhatsApp e por um site de notícias econômicas. Na ocasião, devido ao alto volume de saques dos fundos da CTM, em decorrência das 'denúncias de Timerman, o Banco Daycoval anunciou o fechamento das carteiras para resgate.

Sintomático nessa história é saber que três meses da queda acionária abrupta da varejista, o fundo Esh Theta 18 FIC, da gestora de Timerman, apresentava a maior posição vendida nos papéis da Mobly, cuja quantidade papéis alugados dobrou, de 2,9 milhões, de abril, para 5,8 milhões, em julho, totalizando um montante de R$ 23,8 milhões em posições vendidas.

Mais recentemente, Timerman voltou-se contra a CVM, ao lançar suspeitas que o órgão regulador estaria 'agindo em causa própria', ao manter advogados em seu quadro direito, como é corriqueiro fazer um órgão regulador de qualquer país sério ou em desenvolvimento, como o nosso.

Influencers digitais: dos palcos às páginas policiais

 

No caso dos influencers, estes se encontram mais em alta na esfera policial, servindo de 'instrumento útil' (como é o caso de artistas de grande apelo popular, como Amado Batista) para enganar investidores incautos, vítimas de golpes, por acreditarem na contratação de falsos ganhadores, prêmios fictícios, cuja entrega não passava de fachada estelionatária.

Na Operação Las Vegas, empreendida, nessa segunda-feira (8) nos estados de Goiás (Anápolis e Goiânia) e Mato Grosso, o Grupo Especial de Investigação Criminal (Geic) de Anápolis (GO) prendeu nove pessoas, associadas a golpes com falsos prêmios de capitalização, que vão responder pelos crimes de estelionato, lavagem de capitais e organização criminosa. Desse modo, foram cumpridos, além de mandados de prisão, busca e apreensão de artigos de luxo (carros importados e relógios de marca).

Na oportunidade, o delegado responsável pelo caso, Luiz Carlos da Cruz comentou: "Identificamos um possível ganhador, que apresentava um comprovante nas redes sociais. Esse comprovante era de um banco da Caixa Econômica Federal. Nós consultamos a Caixa e verificamos que esse ganhador se quer é cliente do banco. Verificamos que essa conta se quer era daquela pessoa. A agência e conta estavam atreladas a um dos sócios desse conglomerado empresarial".

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Operação da PF cumpriu, além de mandados de prisão, busca e apreensão de artigos de luxo | Foto: Reprodução

Como resultado das diligências, Cruz comentou que o grupo criminoso, na verdade, fazia parte de "um conglomerado empresarial, formado por, no mínimo quatro empresas, todas com o mesmo objeto social. Vendiam títulos de capitalização e prometiam prêmios, desde prêmios de R$ 1 mil até prémios altos, de R$ 700 mil", completou o delegado. Como saldo da operação, além dos nove mandados de prisão, foram cumpridos 16 mandados de busca, feito o sequestro de oito veículos, seis imóveis e mais R$ 27 milhões apurados pelo grupo criminoso, no período de três anos.

Confiança renovada

Pelo menos por enquanto, a percepção dominante do mercado é no sentido de que fatores positivos, como os cortes de juros (vide Selic, taxa básica de juros) e a adoção das reformas econômicas, deverão renovar a confiança dos investidores, em favor de modalidades que conjuguem mais rentabilidade com maior risco, como é o caso dos fundos multimercados, de ações e de renda fixa. A palavra de ordem aqui é diversificar, com o objetivo de auferir remuneração superior à Selic.

Dentro desse cenário, ainda 'cauteloso', a atratividade se voltaria para papéis de renda fixa que 'acenam' com isenção do imposto de renda, uma vez que, no ano passado, a 'folga monetária' iniciada pelo Banco Central (BC) foi mais lenta que o esperado, o que contribuiu para que a 'percepção' de risco se mantivesse elevada por meses a fio. Apesar disso, o destaque entre os fundos coube às Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), cujo volume de aplicações financeiras subiu 41%, para R$ 330,1 bilhões.

Avalanche de retiradas

Para o professor de Finanças do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), Gilberto Braga, a 'avalanche' de retiradas pode estar associada ao "uso de recursos guardados, sob a forma de reserva financeira familiar, para fins de aquisição de itens e recomposição dos orçamentos domésticos". Segundo ele, outro fator para a 'debandada' dos fundos seria a 'lentidão' da queda da inflação.

Ainda sobre o desempenho dos fundos, Braga considerou um 'exagero' o entendimento que a atuação dos chamados 'influencers digitais' colocaria em risco a estabilidade do mercado de capitais. "É uma questão que preocupa, mas a CVM [Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador do mercado de capitais] está lidando com isso. Falar em risco é um exagero", ponderou.

Questionado pela expressão 'exagero', o mestre do IBMEC argumentou "que a indústria de fundos é muito grande, sem falar na B3 [a bolsa brasileira]. Logo, os influencers precisam de regulação, mas não chegam a colocar um risco o mercado de capitais. Em temos gerais, a atuação é limitada, embora possam afetar uma quantidade significativa de pessoas, sob ponto de vista de suas finanças pessoais".

Embora saliente que, na qualidade de "reguladora do mercado, a CVM já dispõe de uma regulação específica para essas pessoas (influencers), Braga admite que "muitas delas não são registradas e suas recomendações podem oferecer riscos aos seus seguidores". Como medida preventiva, ele aconselha aos potenciais investidores que chequem, antes, "a regularidade dosinfluencers como consultores de investimentos no site da CVM, assim como dos ativos que recomenda. No caso de fundos, conferir o registro do fundo, do administrador e do gestor".

 

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