A região Norte do país possui uma diversidade cultural e uma quantidade expressiva de jovens talentosos que, devido a barreiras sociais, muitas vezes desistem de seguir adiante nos estudos. Entrar no ensino superior pode significar dar "um tiro no escuro". Não é possível garantir a continuidade do sonho, quando há tantos desafios que se sucedem, entre eles a falta de ensino de qualidade; a distância entre as comunidades e os centros metropolitanos, além da carência de recursos.
Mesmo com tantos empecilhos, a região menos povoada do país e que abriga apenas 8,54% dos habitantes do território nacional consegue ter resultados expressivos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O jovem paraense Witor Barbosa, de 18 anos, foi aprovado em medicina veterinária na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e na Universidade Federal do Pará (UFPA). Ele conta que teve o apoio da família e dos professores para não desistir do sonho de ingressar no ensino superior. Witor afirma que foi preciso criar condições sociais para materializar esse sonho, que é o mesmo de muitos jovens que vivem na região norte.
"Só o ensino público não é suficiente porque os alunos precisam reforçar matérias que eles têm dificuldades e isso exige um direcionamento à parte, com cursos ou aulas particulares", diz o estudante.
75 de uma só escola
No Enem 2023, a Escola Estadual Albanízia de Oliveira Lima, localizada em Belém (PA), teve 75 alunos com notas acima de 900 na redação e outros 200 com notas acima de 780. Witor concluiu o ensino médio na instituição e estudou a vida inteira em colégios públicos. Ele relata que, com o intuito de complementar os estudos, precisou conquistar uma bolsa integral para ingressar em um cursinho intensivo particular.
"A grade curricular das escolas particulares permite ter mais aulas e, querendo ou não, mais aulas significam mais estudo. Mesmo que o aluno da rede pública possa estudar em casa, não vai ser a mesma coisa, porque tem toda a questão social. Muitos precisam trabalhar e ajudar em casa", explica.
Distância
Para conquistar a vaga na universidade pública, ele conta que precisou otimizar o pouco tempo disponível.
"Os principais desafios foram a distância e o pouco tempo disponível para estudar em casa. Eu precisava pegar o ônibus às 5h30 para percorrer mais de 40 quilômetros até a escola", afirma o estudante.
A professora de filosofia Aline Rossi leciona na escola onde Witor se formou. Ela conta que os bons resultados da unidade de ensino se devem à integração entre a gestão, a comunidade escolar e o poder público. "Todos trabalham para o alcance dos resultados", diz a educadora.
Como parte da solução para as mazelas educacionais do país, ela enfatiza o enfrentamento das desigualdades sociais.
"A princípio, no Brasil, apenas a classe rica possuía acesso à alfabetização e letramento, consequentemente a desigualdade social também passou a ser escolar. O sistema educacional brasileiro precisa ser receptivo às várias culturas existentes no Brasil, precisamos falar de uma escola brasileira indigena, quilombola, inclusiva. Ainda vemos, por exemplo, que a escola não possui efetivamente uma educação que contempla a integralidade da pluricultura brasileira", finaliza Aline.
Segundo dados do Mapa do Ensino Superior, do Instituto Semesp, com cerca de 18,9 milhões de habitantes, a região norte possui o menor número de matrículas em universidades. Juntando as modalidades presencial e EAD, o Norte representa 7,8% da educação superior do país. O Pará é o que possui o maior número de matrículas na região (40,3%) e Roraima o menor (3,9%).