Por Carlos Martins e
Marcelo Perillier
A folia do Rio de Janeiro tem seu ponto alto nos tradicionais desfiles das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí. O projeto, do renomado arquiteto Oscar Niemeyer, e elaborado por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, fez os cortejos das agremiações ficarem mais nivelados, limpos e com o público podendo ver de perto suas escolas do coração. Nesses 40 anos da Passarela do Samba, muitas histórias já aconteceram, muitos títulos foram celebrados e outros reclamados. Porém, o mais importante disso tudo é a celebração da maior festa popular à céu aberto, que é o carnaval do Rio, pois mostra a cultura popular do estado e a criatividade das escolas e das suas respectivas comunidades, já muitos têm barracões em morros.
Para 2024, a festa teve sambas e enredos pomposos. Alguns, como no caso da Mocidade, caindo na boca do povo antes mesmo do desfile que, por sinal, teve alguns problemas na dispersão, fazendo a escola de Padre Miguel encerrar o cortejo no limite do tempo. Já o Salgueiro, que levou a história do povo Yanomani para a Avenida, empolgou, mas, na comparação com o que se falava antes, deixou um gostinho de "quero mais".
Quem brilhou, mais uma vez, comendo pelas beiradas, foi a Imperatriz e a cigana Esmeralda. A escola de Ramos foi bonita, limpa e apostando demais nesta cultura, com alas remetendo ao universo cigano e um enredo que, a cada setor na Sapucaí, era entoado com força pelo público. Outra que também deixou todos vibrados foi a Viradouro. No mito da serpente, a agremiação de Niterói enfeitiçou a todos pelas cores, pelas fantasias e pelos efeitos dos carros alegóricos. É outra que tem chance de conquistar o título, que seria o terceiro de sua história.
Beija-Flor, Grande Rio, Vila Isabel, Mangueira e Portela podem vir numa prateleira um pouco abaixo, mas com chances de levar o caneco. Todas fizeram desfiles de primeira linha, que levantaram o público. A escola de Nilópolis falou das maravilhas de Maceió e do "imperador" Rás Gonguila. Já a de Caxias, que muitos a criticavam pelo samba difícil, fez a onça rugir na Avenida, com uma comissão de frente de fazer o queixo cair pela tecnologia e os carros impecáveis pelo brilho e mistura de cores. Reeditando um enredo de 1993, a Vila mostrou a força da criança como a esperança para o mundo e, ao estilo Paulo Barros, misturou o tradicional com o moderno, mostrando que o carnaval pode ser criativo, sem perder sua essência. A Estação Primeira contou a vida e a obra da musa do samba Alcione; com vários artistas nos carros, a verde e rosa não deixou barato e tem chance de lutar pelas seis primeiras e desfilar no Sábado das Campeãs. E a Águia de Madureira? O que falar da Portela, que no ano do seu centenário quase caiu, mas renasceu e fez um desfile primoroso. Todavia, os problemas nos acabamentos das alegorias e fantasias podem custar à escola o caneco.
Unidos da Tijuca, que misturou o fado português com um conto de fadas; Paraíso do Tuiuti, que falou de João Cândido e a Revolta da Chibata; e a Porto da Pedra, que voltou a desfilar no Grupo Especial depois de 11 anos, com o enredo sobre a alquimia e a sabedoria popular, brigam pelo descenso.