Por: Gabriel Rattes

Em exclusiva, Ulan Galinski conta detalhes da classificação para Paris

O bicampeão mundial Henrique Avancini se aposentou no ano passado, e agora se dedica a treinar a jovens promessas do MTB para as principais competições da modalidade. | Foto: Felipe Almeida

A Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) divulgou os representantes da modalidade de Mountain Bike (MTB) para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. O atleta Ulan Galinski, que atualmente é o melhor brasileiro no ranking mundial, representará a amarelinha no masculino. O atleta faz parte da equipe do petropolitano Henrique Avancini, a Caloi Henrique Avancini Racing. Henrique é o maior nome do MTB nacional da história e detentor da melhor colocação de um brasileiro nas olimpíadas, a 13ª colocação em Tóquio 2020. Em entrevista exclusiva ao Correio da Manhã, Ulan contou detalhes dessa classificação e quais são as expectativas para os Jogos Olímpicos.

Ulan Bastos Galinski é baiano, filho de uma brasileira e um francês, e nascido há 25 anos em Palmeiras, cidade no coração do Vale do Capão na Chapada Diamantina. Ulan está na linha de frente da nova geração de ciclistas brasileiros que buscam a elite do esporte. A história com o MTB começou em 2014, quando viajou 80 km para assistir a uma etapa da Ultramaratona de Mountain Bike Brasil Ride. Foi lá que conheceu Henrique Avancini e abriu um novo mundo em sua vida: a possibilidade de viver do esporte.

"No ano de 2014 eu não era nem um dos cinco principais atletas júnior do estado da Bahia. O meu sonho na época era conquistar o título baiano na categoria júnior. Porém, assim que alcançava um objetivo, eu sempre olhava para frente e imediatamente já procurava o próximo desafio. Lembro que em 2015 conquistei meu primeiro título baiano e aí imaginei 'agora eu quero conquistar um bom resultado, uma vitória numa prova de nível nacional na categoria júnior'. Tive algumas experiências, mas continuei sempre trabalhando e tentando evoluir. No final de 2016 então veio esse título", contou.

Em 2019, o atleta começou a se destacar na categoria Sub-23 do cenário nacional, mas ainda não era nem top 10 melhores da elite no Brasil. Como ele mesmo disse, sempre foi "um menino muito sonhador e que tem objetivos acima da realidade", por isso, já estava pensando em uma possível classificação para as Olímpiadas. Ulan conta que estava em uma reunião de família, por ironia do destino, em Paris, capital da França, quando foi questionado sobre a possibilidade de disputar os Jogos Olímpicos em 2024.

"Eu estava no meu penúltimo ano de categoria Sub-23. Por coincidência meu pai é francês, a gente tinha marcado um encontro em Paris com a família toda junta e tinha acabado de sair que a cidade seria sede das Olimpíadas de 2024. Alguém me perguntou na mesa se existiria a possibilidade de eu participar. Meio inseguro falei que sim, que tinha possibilidade, que poderia ser algo realista e que eu iria disputar. Naquele momento ainda parecia loucura, mas realmente acreditei com muita convicção e trabalhei para concretizar isso", disse.

Então, cinco anos depois, Ulan é convocado pela seleção brasileira para a disputa dos Jogos, sendo o melhor brasileiro no ranking mundial, ocupando a 35ª colocação. "Foi um longo processo de acertos e falhas, mas sempre mantendo os pés no chão e a cabeça erguida, trabalhando, buscando evoluir e passo a passo a gente conseguiu chegar lá. É uma sensação inexplicável. É a concretização de um sonho de criança, que desde 2019, como eu havia falado, se tornou um objetivo".

Títulos

Em setembro de 2023, o atleta baiano foi campeão da etapa de Congonhas da Copa Internacional de Mountain Bike (CIMTB), na modalidade de Cross-country Short Circuit (XCC). Ulan ainda possui conquistas no currículo como: vice-campeão do Brasileiro de XCO 2023 (Elite); 4° lugar nos Jogos Panamericanos 2023; Campeão do Brasileiro de Maratona 2021 (Elite); Campeão da Taça Brasil de XCO 2021 (Elite); Campeão da Copa Internacional 2020 (Super Elite); Vice-Campeão do Brasileiro de XCO 2019 e 2020 (Sub-23); 14º Colocado no Campeonato Mundial de XCO 2020 (Sub-23); e Vice-Campeão do Brasileiro de XCO (2022).

Início de ano positivo

O começo de ano para Ulan tem sido marcado por quebra de recordes pessoais. Já foram disputadas três etapas de Copa do Mundo. A primeira delas, em Mairiporã, atingiu a sua melhor marca em Copas, a 20ª colocação. "No atual cenário de Copa do Mundo acabei me tornando apenas o segundo atleta brasileiro da história a conseguir esse feito. O único que tinha feito isso até então foi Henrique Avancini", afirmou. Depois, na etapa de Araxá, Ulan afirma ter tido um dia ruim fisicamente, mas terminou entre os 50 primeiros colocados. "Tive um dia muito ruim fisicamente e mesmo assim alcancei um resultado que, há dois anos, eu precisaria estar em um dia muito inspirado para conseguir. Isso mostra que a gente evoluiu", afirmou

Na etapa mais recente, na República Tcheca, Ulan conseguiu alcançar o melhor resultado em Copas do Mundo na Europa. "Foi onde eu consegui ter a convicção que realmente demos um passo adiante. Era um circuito que eu sempre tive bastante dificuldade, típico europeu, com bastante raízes. Eu consegui meu melhor resultado em Copas do Mundo na Europa, correndo de forma muito consciente, muito consistente durante todas as voltas e finalizando ali num grupo que é muito difícil de andar. Em 31º, muito perto do top 30, disputando com grandes nomes do MTB mundial e isso sem dúvida traz uma convicção e confiança a mais para mim, para os Jogos Olímpicos", concluiu.

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Time de Avancini vai levar um pouco de Petrópolis a Paris neste ano. | Foto: Felipe Almeida

Influência do Bicampeão Mundial

Ulan tem tido o maior brasileiro da história do MTB, Henrique Avancini, como treinador e principal mentor durante os últimos cinco anos. De acordo com o atleta baiano, a experiência em grandes competições de Avança, como é popularmente chamado, tem sido fundamental no aprendizado. "Por algum motivo o destino uniu nossas histórias, uniu a gente e é uma parceria que vem dando muito certo. Ele tem sido e foi muito importante em todo meu desenvolvimento. É um atleta muito experiente, muito inteligente e uma pessoa que sabe e quer passar conhecimento. Isso tem sido fundamental no meu crescimento e no meu desenvolvimento. Sem dúvida foi peça-chave na conquista desse objetivo", disse.

Avancini se aposentou das competições no ano passado sendo: 23 vezes campeão brasileiro, 14 deles na elite; 5 títulos de Copa do Mundo (4 no XCC e 1 no XCO); bicampeão Mundial de maratona cross-country; vice-campeão mundial de XCC em 2021; líder do ranking mundial ao final de 2020; 13º lugar em Tóquio 2020, o melhor resultado da história do Brasil na competição.

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Aos 25 anos, Galinski acumula títulos em competições no Brasil e Europa. | Foto: Felipe Almeida