Só quem sente na pele tem a exata dimensão do que é sofrer um preconceito. Este foi o ponto de partida do projeto "Quem Sente na Pele", que busca veicular depoimentos de quem já vivenciou situações assim com o objetivo de tratar de temas sensíveis, com o objetivo de combater as desigualdades e vulnerabilidades sociais em busca de um meio ambiente equilibrado, da promoção da igualdade de gênero e da prevenção e enfrentamento dos assédios moral e sexual e da discriminação.
A avaliação é da vice-presidente dos Comitês de Promoção da Igualdade de Gênero e de Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual e da Discriminação (Cogens), desembargadora Patricia Ribeiro Serra Vieira, que já vivenciou a discriminação de gênero. "Sou de uma geração em que a cultura da discriminação contra a mulher ficava camuflada (ou legitimada) pela nossa educação patriarcal, agregada a uma necessária, incessante e premente luta, para ocuparmos o nosso lugar como pessoa independente, culturalmente ativa e digna", compartilhou.
A magistrada também já viu de perto situações neste sentido e de racismo. "Por vezes, presencia-se situação em que a fala de uma mulher é 'apagada', ou melhor, 'desconsiderada', em prol de uma manifestação masculina, por muitas vezes, acolhida como conclusiva. Também já presenciei preconceito contra rapaz negro, em estabelecimento comercial, cujo segurança, sem qualquer constrangimento, o 'perseguiu', de forma desmedida e censurável, para dizer-se o mínimo", contou, acrescentando ainda que, como desembargadora, também presencia o uso de linguagem depreciativa e/ou discriminatória em processos de violência doméstica e de disputas familiares, com o intuito de colocar as partes na posição de culpadas pela situação "degradante, cruel e indigna a que é submetida", avalia.
Para a desembargadora, é possível, sim, combater essas situações no Judiciário. "Na minha opinião, sem descuidar de sua atividade fim, é claro, promovendo a cultura da diversidade e equidade, no âmbito da instituição, através de uma gestão judiciária à promoção de ações afirmativas, como vem sendo estimulada e implementada, na atualidade", afirmou.
O projeto
A ideia da iniciativa surgiu no ano passado, partir de um encontro entre um músico e um desembargador, que também atua na área musical. Prova de que compartilhar vivências é, de fato, mais impactante.
"O projeto 'Quem Sente na Pele' foi inspirado por um encontro que tive com Vanderlei Pereira, baterista que ficou cego aos 26 anos e que, naquele momento, viu seu mundo ruir, mas seguiu em frente, tornando-se um grande músico e, em seus shows, a que tive a oportunidade de assistir, narra os obstáculos que venceu, sendo ele um grande exemplo de superação. Por isso, por maior que seja nossa empatia, quem melhor saberá sobre as adversidades, preconceitos e discriminações são as pessoas que sentem na pele. Precisamos ouvi-las", afirmou o presidente dos Cogens, desembargador Wagner Cinelli.
O primeiro episódio do projeto, que tratou do tema depressão, foi gravado cerca de um mês após a inspiração. A veiculação de depoimentos sobre temas diversos é de periodicidade mensal.
São colaboradores(as), servidores(as), magistrados(as) e/ou profissionais de diferentes áreas sobre as condições e situações limitativas que apresentam, e seus efeitos, no convívio em sociedade. "Tal iniciativa se aloca no eixo temático das boas práticas institucionais, como contribuição à promoção e garantia da dignidade da pessoa humana", explicou a desembargadora Patrícia.
O projeto já veiculou também depoimentos sobre temas como racismo, deficiência visual, liberdade religiosa, autismo e LGBTfobia. Para assistir aos episódios, acesse através deste endereço: https://www.tjrj.jus.br/web/guest/videos-institucionais/videos-cogens/quem-sente-na-pele) para assistir aos episódios.