Por:

Dos lares aos aplicativos: os desafios da rádio mais ouvida do Rio

Nessas quase nove décadas de funcionamento, a Super Rádio Tupi noticiou eventos históricos, como o fim da Segunda Guerra Mundial | Foto: Divulgação

Por Pedro Sobreiro

Aqueles que vivem no Rio de Janeiro certamente têm alguma história com a Super Rádio Tupi. Veículo histórico da imprensa brasileira, a rádio foi fundada por Assis Chateaubriand em 25 de setembro de 1935. A inauguração foi um marco tão importante para a então capital do Brasil, que contou com a presença de Guglielmo Marconi, cientista italiano que inventou o rádio.

De lá para cá, são 88 anos de informação, esporte e entretenimento. É curioso ver como a rádio cresceu, viveu seu auge nas décadas de 1950 e 1960, a chamada Era de Ouro, se adaptou com a chegada da televisão e, mais recentemente, da internet.

Comandada esses anos todos pelo Diários Associados, a Super Rádio Tupi ficou famosa por ser a mais ouvida do Rio, criando, ao longo dessas quase nove décadas, uma relação íntima de confiança e credibilidade para com seus ouvintes. Segundo levantamento realizado pela Radio.com, a Super Rádio Tupi é realmente a mais ouvida do Rio, mas o que choca é a ampla vantagem para a segunda colocada.

Em entrevista ao CORREIO DA MANHÃ, Josemar Gimenez, presidente do Diários Associados e da Super Rádio Tupi, revelou que o número de ouvintes pode ser ainda maior do que o registrado.

"Nós fizemos uma grande pesquisa agora junto às comunidades do Rio de Janeiro, com quase 2.500 entrevistados. A gente vai nas comunidades, porque a nossa audiência não é a aferida pelo IBOPE nas comunidades. O IBOPE não pesquisa, por questões de compliance deles, eles não fazem a pesquisa em áreas consideradas de risco. E a gente sempre acha que a nossa audiência, que já é grande, é muito maior se levarmos em conta as comunidades do Rio de Janeiro. E o grande detalhe disso aí, além da Tupi ser a mais ouvida nas comunidades, quase o dobro da segunda colocada, é que o rádio, com os comunicadores, é uma importante ferramenta de combate às fake news. Por quê? Por conta da credibilidade. Os comunicadores da Tupi são verdadeiros influenciadores digitais. É nisso que a gente está trabalhando e que dá aí a importância do rádio justamente no combate a fake news. Isso fica percebido perfeitamente nessa pesquisa nossa", explicou o presidente.

Mais do que isso, em tempos de internet e aplicativos que aproximam notícias, entretenimento e afins das pessoas, a Super Rádio Tupi precisou se reinventar para chegar a diferentes públicos. E assim nasceu o App, que também se tornou o aplicativo de rádio mais acessado do país. Para que o App emplacasse, a grande aposta foi em um velho conhecido do público radiofônico brasileiro: as transmissões esportivas.

"O aplicativo é outra frente que investimos, e isso aí nos conforta muito, porque é outra audiência que está fora do Kantar IBOPE, que afere a audiência e serve como parâmetro para as agências de publicidade, grandes anunciadores... Enfim. Esse é um grande trunfo da Tupi. Você vê os números e nós somos, hoje, a rádio, não só do Rio de Janeiro, mas também a rádio mais ouvida por aplicativo do Brasil. No Rio de Janeiro, a Super Rádio Tupi é realmente disparada, a liderança, e isso é muito em função de todo o escopo da Tupi, da história, da marca forte e credibilidade da Tupi, mas esse aplicativo, essa audiência nossa no app, eu atribuo muito a nossa forte cobertura no esporte. Porque desde muitos anos, com a influência de rádio, os times cariocas têm muita torcida no Brasil, em especial o Flamengo. Então, se você for ver, hoje, a Tupi é muito ouvida pelo aplicativo no Nordeste, onde você tem um grande contingente de torcedores flamenguistas. Eu acho que a nossa audiência no aplicativo se deve muito também em função da nossa programação esportiva", destacou Josemar Gimenez.

Lenda eterna do jornalismo esportivo brasileiro, José Carlos Araújo, o Garotinho, é a grande voz por trás das transmissões esportivas na Tupi. O narrador atravessa décadas como uma referência do rádio e explicou ao Correio da Manhã qual a receita para o sucesso.

"O importante no rádio é você se manter sempre antenado e atualizado. Você tem que estar sempre acompanhando aquilo que há de novidade no meio da comunicação. Eu acho que esse é o segredo para a gente se manter exatamente nesse patamar em alta performance ao longo de 60 anos de carreira. E no caso da audiência fiel, a preferência se deve, principalmente, pelo fato de que a Rádio Tupi faz um rádio de entretenimento informativo. Então, o jornalismo está sempre presente nas 24 horas da programação, através dos comunicadores que são verdadeiros porta-vozes da galera, do povão, de uma maneira geral. São 24 horas ligadinhas e voltadas para o grande público, quer seja no futebol, no jornalismo da cidade do Rio de Janeiro ou no jornalismo internacional. Enfim, a gente está sempre presente e também com o entretenimento, porque tem humor, tem música e os comunicadores cumprem essa missão muito bem", afirmou o Garotinho.

Desafios da liderança

Nessas quase nove décadas de funcionamento, a Rádio Tupi noticiou eventos históricos, como o fim da Segunda Guerra Mundial, os cinco títulos da Seleção Brasileira em Copas do Mundo, edições do carnaval carioca e muitas outras. Atualmente, a grande nova frente é o meio dos aplicativos, mas isso não significa que os desafios terminaram.

Para quem faz as transmissões diárias, a chave do negócio é entender como falar para diferentes tipos de públicos. Essa abrangência na forma de noticiar e entreter é o que um radialista da Rádio Tupi deve ter em mente, como explica José Carlos Araújo.

"O maior desafio é você conseguir alcançar do executivo até o trabalhador, o cara mais humilde. E eu acho que esse é o grande desafio de quem trabalha em comunicação. Não é você só atingir o povão, ou só atingir a classe A-B, o desafio maior é exatamente conseguir alcançar todas as classes e sendo quase que unanimidade. E esse desafio a gente vem encarando ao longo de todos esses anos com muita competência", disse.

Ao CM, o Diretor Artístico da rádio, Marcus Di Giacomo, aponta que a meta é sempre superar o dia anterior.

"A atual grade da Rádio Tupi apresenta um grande mosaico com a distribuição dos programas conforme interesse do ouvinte. Certamente os maiores nomes do rádio estão na Tupi. Mesclando nomes consagrados com novos talentos, jornalismo e esporte, entretenimento e serviços, a Rádio Tupi consegue liderar a audiência em vários horários do dia. E o desafio é diário. Todos os dias a gente busca atender o interesse do ouvinte, fazer com que todos se empenhem em superar o dia anterior e entender quais as principais informações, os assuntos mais comentados e distribuir na programação conforme o perfil dos programas. Além do desafio de buscar fazer o melhor rádio frente à concorrência de grandes emissoras de rádio no Rio", disse Marcus.

Porém, para quem vive os bastidores do rádio, o principal desafio é financeiro.

"Pra fazer uma rádio, nos dias de hoje, 24 horas ao vivo, com serviço, jornalismo, pegando os grandes comunicadores ainda, e tendo como passado toda a história do rádio, é pensar que estamos falando de uma rádio. A gente não põe uma pessoa atrás de uma mesa de som, um locutor, e ele fica ali por seis horas tocando música e falando pouca coisa, entendeu? Nós, na nossa rádio, ficamos 24 horas com jornalismo, prestação de serviço, interatividade com o ouvinte, e todo esse processo, os programas... É uma coisa muito custosa. E aí entra toda dificuldade, mas é um prazer enorme. Agora, é uma dificuldade, nos tempos atuais, onde o setor de comunicação passa por ajustes e dificuldades, a gente manter no ar uma rádio com essa robustez toda", disse Josemar Gimenez. "Eu acho que existe também o negócio, mas é muito mais também um diletantismo de um grupo que tá fazendo este ano 100 anos, que é o Diários Associados, mostrando ainda que tem força e que consegue fazer aquilo que foi determinado até pelo seu mentor e criador, que foi Chateaubriand, que é realmente fazer notícia, que é entretenimento, que é lazer... Enfim, que é ter influência, de uma certa forma, no processo e na história do Brasil, né?", concluiu o presidente.

União pelo futuro

E se os últimos anos foram marcados pelo sucesso e liderança de audiência nas diferentes empreitadas, muito se deve a união dos funcionários e diretores, que compreendem a rádio não apenas como um emprego, mas como uma família.

"O sentido de rádio família que propagamos é real. A família Tupi existe literalmente. O ambiente de trabalho é leve, tem astral, comprometimento e respeito. A Rádio Tupi tem 88 anos. Devemos muito aos profissionais do passado o sucesso atual da rádio. Uma rádio que teve no seu elenco Luiz Gonzaga, Paulo Gracindo, Ary Barroso, Carmem Miranda, Julio Louzada, Doalcei Camargo, entre tantos outros expressivos nomes. E a Tupi continua fazendo história com um elenco cheio de personalidades consolidadas pela popularidade e admiradas pelos ouvintes, em igual proporção aos nomes do passado. Nossa meta agora é manter a Rádio Tupi na melhor performance, cuidando do conteúdo e entendendo a necessidade de estar em novas plataformas, sem modificar nosso formato e, sim, ampliar e entender as necessidades do nosso ouvinte para fortalecer nosso slogan: O Rio segue a Tupi. O Rio segue a líder!", concluiu Marcus Di Giacomo.

Por fim, o presidente Josemar Gimenez apontou o que os ouvintes podem esperar para os próximos anos da Super Rádio Tupi.

"A gente vai continuar investindo em serviço, em jornalismo. Eu acho que nós temos que buscar, com muito cuidado, ampliar o nosso leque de ouvintes, principalmente novas faixas etárias. Isso é nosso objetivo principal. A gente, há um mês e meio, fez um investimento grande no jornalismo, criando o Jornal da Tupi, que vai de seis a sete e meia. Contratamos aí, Sidney Rezende, Marcelo Madureira, Chico Otávio, enfim, para a gente realmente poder dar força e opinião política à Rádio Tupi. E a gente vai fazendo isso, sabe? A gente está sempre mexendo, sempre mudando, sempre tentando buscar alguma coisa nova para tornar ainda mais eclética essa gloriosa rádio que já está fazendo quase 90 anos de história no Rio de Janeiro".

Em tempos de tecnologia digital, o rádio segue firme no Rio de Janeiro, mostrando que nem mesmo a comodidade do mundo virtual é capaz de superar a credibilidade e essa sensação de relação de confiança construída entre ouvintes e rádio ao longo das décadas. É inspirador ver um veículo como a Super Rádio Tupi não se contentar com a história já feita e seguir apostando e investindo na construção de uma nova história para o rádio.