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Histórica Paraty inicia obras de acessibilidade

Rota-piloto de acessibilidade às ruas do município está sendo executado pela Prefeitura de Paraty com a supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional | Foto: Divulgação/Leonardo Menezes Xavier

A paradisíaca Paraty, na região da Costa Verde, cercada por ilhas e um trecho da Mata Atlântica, terá acesso equitativo às riquezas arquitetônicas e culturais do Centro Histórico da cidade. O projeto de uma rota-piloto de acessibilidade está sendo executado pela prefeitura, sob a supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A finalidade do projeto é construir rampas e travessias para tornar alguns trechos mais inclusivos e acessíveis para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

Detalhe: caminhar pelo Centro Histórico do município não é uma tarefa fácil para moradores e turistas. O calçamento das ruas com pedras irregulares - conhecido como pé-de-moleque - começou a ser feito no século XVIII, graças ao desenvolvimento trazido pelo ciclo do ouro. Entretanto, foi a riqueza gerada pelo ciclo do café que terminou por calçar todas as ruas, por volta de 1830.

O projeto foi criado por Leonardo Menezes Xavier, arquiteto da Prefeitura de Paraty e aluno do Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural, promovido pelo Centro Lucio Costa (CLC), unidade especial do Iphan. A iniciativa é tema da dissertação de Xavier, sob orientação do André Bazzanella, chefe da Casa do Patrimônio do Iphan no Vale do Paraíba.

Desde 2019, o sítio misto Paraty e Ilha Grande: Cultura e Biodiversidade é reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco. Por este motivo, a equipe do Escritório Técnico do Iphan na Costa Verde (ETCV), localizado na cidade, vem orientando as ações da prefeitura para que seja viabilizada uma alternativa de acessibilidade no sítio tombado, sem que as intervenções provoquem danos ou impactos aos valores do tombamento.

"O sucesso de uma intervenção como essa, com potencial de impactar positivamente um grande número de pessoas, corrobora a missão institucional do Iphan e pode ser vista, também, como uma ferramenta de educação patrimonial", avalia o chefe do ETCV, André Cavaco.

Primeiras ações para a rota-piloto

O projeto teve início em 2021, quando o Coletivo Paraty Acessibilidade apresentou um estudo preliminar ao Escritório Técnico do Iphan na Costa Verde, detalhando rotas para promover um turismo acessível no Centro Histórico do município.

Em dezembro do mesmo ano, foi constituído um Grupo de Trabalho (GT), formado por representantes do Iphan, sociedade e prefeitura. As ações do grupo tiveram como foco a elaboração do projeto de acessibilidade, considerando o acesso necessário e a fruição equitativa dos bens que compõem o Patrimônio Cultural Brasileiro.

A primeira rota prioritária definida interliga a ponte do Pontal, a Praça Matriz e o Largo de Santa Rita, pela Rua Dona Geralda. Devido à complexidade do projeto, o GT decidiu desmembrar esta rota, começando por uma rota-piloto que conecta a ponte do Pontal à Praça da Matriz.

A rota-piloto contempla adaptações na pavimentação em pedra para travessias e a instalação de rampas e passeios acessíveis em concreto armado no estacionamento da praça. Essa adequação na proposta considerou a possibilidade de execução imediata, por parte da prefeitura, em um dos principais e mais acessados espaços públicos do bairro histórico.

A partir de referenciais históricos e pesquisas de mercado, o mestre-calceteiro Vicente Cardoso, que trabalha com calçamento de ruas com pedras e paralelepípedos, liderou a execução de modelos experimentais de pavimentação, utilizando diferentes tipos de pedras e paginação, criando uma travessia acessível temporária para o uso da população.

Este processo foi fundamental para definir o modelo final a ser implementado em todo o Centro Histórico, de acordo com a Lei 10.098/2000 e em atendimento à NBR 9050/2020, que trata da acessibilidade a edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos.

Após os experimentos, o modelo escolhido foi o executado com pedra moledo sem rejunte, tipo de granitóide poroso disponível na região, devidamente nivelado e assentado sob colchão de areia. A rota-piloto está prevista para ser concluída em julho de 2024.

Futuras implementações

A instalação de rampas de acesso deverá ser feita em todo o Centro Histórico, a partir da ampliação do projeto, que irá considerar o equilíbrio entre questões técnicas e estéticas, preservação do Patrimônio Cultural e demandas da população.

Estas ações não visam apenas melhorar a acessibilidade física, mas também fortalecer a relação entre a comunidade e o Patrimônio Cultural.

"À medida em que a cidade histórica deixa de ser apenas um bem do passado e se torna um bem apropriado pelos sujeitos do presente, seu processo de ocupação e gestão deve, necessariamente, contemplar novos conceitos, programas e funções. Nesse contexto, a promoção de acessibilidade no Centro Histórico de Paraty corrobora para que esse bem tombado se torne mais inclusivo, democrático e igualitário", conclui Xavier.

Patrimônio Histórico Nacional

Bela cidade colonial, considerada Patrimônio Histórico Nacional e, desde 2019, também Patrimônio Misto da Humanidade pela UNESCO, preserva até hoje os seus inúmeros encantos naturais, culturais e arquitetônicos.

As construções de seus casarões e igrejas traduzem um estilo de época e os misteriosos símbolos maçônicos que enfeitam as suas paredes nos levam a imaginar como seria a vida no Brasil de antigamente. A proibição do tráfego de automóveis no Centro contribui para esta viagem pelo "Túnel do tempo".

A cidade foi fundada em 1667 em torno à Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, sua padroeira. Teve grande importância econômica devido aos engenhos de cana-de-açúcar (chegou a ter mais de 250), sendo considerada sinônimo de boa aguardente.

No século XVIII, destacou-se como importante porto por onde se escoava das Minas Gerais, o ouro e as pedras preciosas que embarcavam para Portugal. Porém, com a construção de um novo caminho da Estrada Real, desembocando diretamente no Rio de Janeiro, levou a cidade a um grande isolamento econômico.

Após a abertura da Estrada Paraty-Cunha, e principalmente, após a construção da Rodovia Rio-Santos na década de '70, Paraty torna-se pólo de turismo nacional e internacional, devido ao seu bom estado de conservação e graças às suas belezas naturais.

Em sua área encontram-se o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Área de Proteção Ambiental do Cairuçú, onde está a Vila da Trindade, a Reserva da Joatinga, e ainda, faz limite com o Parque Estadual da Serra do Mar. Ou seja, é Mata Atlântica por todo lado.