Por: Ana Luiza Rossi

Para começo de conversa, a voz de ouro de Volta Redonda: Dário de Paula

O radialista hoje conta com sua própria estrutura e estúdio em Volta Redonda | Foto: Ana Luiza Rossi/CSF

Uma voz que você reconhece todos os dias da manhã, seja na hora do café, como amigo da cidade ou o homem que sabe de tudo. Noticia o momento, atende moradores, tem hora marcada semanalmente com o prefeito de Volta Redonda e sempre disposto a começar a conversa. Este é Dário de Paula, radialista com nada mais nada menos que 62 anos de estrada, a voz de ouro da cidade - e não de bronze, ele deixa muito claro.

Nascido em 1947 na cidade vizinha de Barra Mansa, no entanto, volta redondense de coração, a trajetória do jornalista começou ainda na escola com incentivo de uma professora. "Fui muito bem alfabetizado. Meu pai falava muito bem o português e aprendi a ler muito cedo, aprendi a ler com muita facilidade. Então, na segunda série primária, eu lia muito bem, e a professora me escolheu para fazer a leitura dos discursos", contou. A partir disto, ficou encarregado do trabalho de porta-voz oficial de sua turma.

O primeiro contato

Em uma excursão da escola, ao visitar um moderno prédio que acomodava a antiga Rádio Siderúrgica, pertencente a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Dário se viu diante do desejo de querer trabalhar com a rádio - que dominava as manhãs, tardes e noites das residências até meados dos anos 60, antes do início da TV.

"Eu morava no Conforto e me arranquei a ir a pé no (bairro) Laranjal. Perguntei como fazia para trabalhar na rádio e aprender rádio. Eu tinha 10 anos", explicou. Na época, um redator havia um programa chamado "Clube do Estudante" na rádio e confirmou que Dário poderia aprender, onde passou a ocupar seu tempo de todos os fins de semana. O principal interesse do jornalista, na época, era fazer radio teatro.

Ao mesmo tempo apaixonado por futebol, Dário também relembrou quando começou a desenvolver a ideia para ser locutor esportivo. "Em um programa de auditório que tinha aos domingos pela manhã No Recreio do Trabalhador, o Ubirajara Ramos lançou um negócio que era para criar narradores de futebol para a rádio, um jogo de improviso. E eu me meti no meio. Me encantei", contou.

Menino prodígio

Aos 14 anos, foi apresentado ao diretor da rádio para compor a programação musical como auxiliar após Elisinha Coelho, cantora do clássico 'No Rancho Fundo' e contratada como programadora na Rádio Siderúrgica, se aposentar. "O Ubirajara me apresentou para o Senhor Naser, para dar uma rejuvenescida na programação da rádio. Ele me aceitou e passei a trabalhar todo dia e estudar a noite. Mas você vai se metendo em tudo, tendo vontade de aprender. Eu era vidrado na rádio", revelou.

Mesmo já contratado como programador, o radialista afirma que ainda tinha vontade de ser do esporte. Enquanto carregava os equipamentos e esticava os fios do microfone, acompanhava - com muito ânimo, os locutores narrarem a partida. "Eu ia no vestiário para pegar escalação e em um torneio início na Copa Vale do Paraíba, em Barra Mansa, o Ubirajara falou comigo que me daria uma oportunidade. Falei que queria, eu era 'atrevidinho'", disse. Apesar da voz de garoto, com apenas 15 anos passou a fazer reportagens e algumas transmissões esportivas.

Em 1968, finalmente, passou a ser o contratado da rádio como redator e escrever noticiários. Ao mesmo tempo, conseguiu a oportunidade de narrar novos jogos com a saída dos narradores, ficando desta vez como locutor fixo das partidas.

Uma pausa frustrante

Como bom aluno de economia, estatística e mercadologia, Dário deu início a faculdade de Administração e em 1977, pediu demissão da Rádio Siderúrgica e deu início a carreira de vendedor de produtos de manutenção industrial. E revela que em uma semana de comissão, ganhava o que tinha de salário como redator. "Fiquei seis meses, não aguentei e voltei para o rádio. Foram seis meses de tristeza", revela.

Seu retorno na rádio foi intenso. Tudo que tinha direito de fazer como narrador de futebol, fez na Rádio Sul Fluminense com a venda de publicidades e a condução de um programa. Então, surgiu a oportunidade de ingressar na área política como assessor de imprensa do ex-prefeito de Volta Redonda, Coronel Aluísio.

Enquanto atuava na imprensa do governo municipal, a Rádio Siderúrgica foi fechada e Dário influiu junto ao prefeito, para que o presidente da empresa de comunicação RadioBrás abrisse uma nova rádio, já que a cidade estava em crescimento intenso. "A RadioBrás abriu a Rádio Nacional de Volta Redonda, AM e FM", explicou.

Censurado

Quando o Coronel Aluísio foi substituído, Dário continuou na assessoria do governo municipal. No entanto, devido a uma matéria que enviou ao Jornal do Brasil sobre a política da cidade, foi exonerado do cargo. "Volta Redonda ainda era área de segurança nacional, mas aquilo foi uma vaidade de política. [...] Mas também ganhou um inimigo, com jornalista você não briga e nem faz as pazes", contou aos risos.

Se afastando da política mas com reconhecimento na carreira, foi contratado como redator da Rádio Nacional. "O gerente da rádio levou uma fita minha para a rádio do Rio de Janeiro. O que aconteceu? Fui narrar na Rádio Nacional do Rio. Virei o primeiro narrador". Mas, almejando vôos mais altos, topou conversar com a Rádio Tupi, onde ficou de 1986 até 1990 com enfoque no esporte.

- Quando foi em 89, estava no auge da carreira como narrador. Na campanha do Lula, participei do programa político narrando um gol e, o Collor ganhou a eleição. Collor tomou posse e no dia 30 de abril, fui demitido. Tiraram meu tapete - explicou. Em seguida, retornou para Volta Redonda para tentar recomeçar.

Início de um legado

Então, em 20 de maio de 1990 na Rádio Estéreo Sul, o jornalista alugou um espaço entre 08h e 10h e dava início ao Programa Dário de Paula, que até os dias de hoje, ainda se mantém no ar. "Em 93, fui para a Rádio 88, onde fiquei por 20 anos. Em 2012, fui para a Sintonia do Vale e 2015, entrei de sócio comprando a Rádio Sul Fluminense, mas não deu certo. Tirei meu programa e retornei para a Sintonia do Vale, onde estou há 3 anos".

Com toda sua estrutura atualizada e sua própria equipe, hoje, Dário comanda seu programa para prestação de serviços à comunidade. "É utilidade pública", ressaltou.

Futuro

Mesmo com 77 anos, Dário ainda não consegue se ver sem a rádio mas afirma que está tirando o pé do acelerador e que agora, quer envelhecer com tranquilidade. No entanto, fala que ainda não se sente realizado. "Eu sonhei, alcancei, eu quero mais. Já pensou o velhinho Dário de Paula, com 77 anos, fazendo um podcast que vai ser visto por pessoas de todas as idades? [...] Hoje está todo mundo, então tenho que ir para a internet", explicou.

Mesmo com esse pensamento, o radialista coloca que deu tudo certo em sua trajetória. "Me considero iluminado, agradeço à Deus. Não há bem que sempre dure e nem mal que sempre acabe. Sempre surge algo para você dar a volta por cima. Não pode desistir e se você acreditar, vai dar certo".