Nos Estados Unidos, intensificou-se a corrida eleitoral, com o debate, na quinta-feira (27) entre os dois principais candidatos. Reforçando o cenário polarizado mundial os candidatos, novamente, são os mesmos da eleição anterior. O republicano Donald John Trump (78 anos), ex-presidente, derrotado em 2020, e o democrata Joseph Robinette "Joe" Biden Jr (81 anos), atual presidente, vencedor naquela ocasião. Apesar da polarização do país, se os próximos debates presidenciais forem como o da última quinta e reflitam na decisão final do eleitor, o esperado é que Donald Trump ganhe a disputa presidencial. O desempenho de Joe Biden foi tão inferior ao do republicano que ele está sendo pressionado para desistir de sua candidatura e o partido Democrata lançar outro nome para concorrer no lugar dele. Na sexta-feira (28), no entanto, ele reforçou que irá concorrer e que busca se reeleger.
No debate, Biden demonstrou estar despreparado para discutir com o concorrente, que enfrenta uma série de processos judiciais que poderiam levá-lo para a cadeia caso não estivesse concorrendo ao cargo. Biden tinha uma voz rouca (devido a um resfriado) com pouco entusiasmo e hesitando para falar em diversos momentos. Já Trump transmitiu a confiança que o democrata não transmitiu. Ele disse uma série de mentiras com forma calma e transmitindo certeza, e em nenhum momento foi corrigido por Biden.
Empate
Antes do debate, diversas pesquisas realizadas apontavam rigoroso empate entre Biden e Trump. Ainda não se sabe se tais números sofreram algum abalo após a contenda da quinta-feira entre os dois candidatos. Levantamento anterior feito pelo YouGov/Economist, por exemplo, apontava ambos os candidatos com os mesmos 42% de intenção de voto. Nos Estados Unidos, ao contrário do Brasil, a eleição não é direta. Cada estado forma um colégio eleitoral, que escolhe o presidente.
O resultado das eleições nos Estados Unidos terá reflexos em todo planeta, o que não é diferente no Brasil, que terá eleições municipais neste ano, com forte presença de candidatos alinhados com princípios similares a Trump. A direita brasileira tem essa expectativa de avanço, diante de uma eventual vitória de Trump. No sábado (30), por exemplo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por exemplo, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, disse que a vitória de Trump “pavimentaria vários caminhos”.
Determinante
No entanto, o doutor em Ciência Política Leandro Gabiati disse a reportagem que, mesmo que Donald Trump seja eleito, isso não seria determinante para as eleições municipais brasileiras, já que as eleições deste ano acontecerão em outubro e a norte americana em novembro. Porém, uma eventual vitória de Trump poderá gerar impactos positivos para candidatos de direita que seriam mais simbólicos do que práticos.
“Uma vitória do Trump nos Estados Unidos vai gerar uma empolgação natural e ‘inflamar’ a campanha dessa direita mais ideológica. Depois da derrota do Bolsonaro nas eleições de 2022 e o fracasso do movimento intervencionista de 8 de janeiro, muita gente que simpatizava [com essas ideias] perdeu o fôlego, pensam duas vezes antes de ir para a rua. Então, talvez essa suposta vitória do Trump sirva para tentar chamar o eleitor de centro-direita que estava desanimado”, explicou Gabiati ao Correio da Manhã.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político. Neste ano, quem assumiu a presidência do TSE é a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármem Lúcia e entra para o plenário da Corte o ministro do Supremo André Mendonça, que acompanha o ministro Kassio Nunes Marques como indicados pelo ex-presidente Bolsonaro.
Questionado pela reportagem se a vitória de Trump poderia influenciar o tribunal para reverter a inegebilidade de Bolsonaro, possibilitando que ele concorra a presidente em 2026, o analista político destacou que ainda é muito cedo para definir as possibilidades, mas por enquanto, ainda é pouco provável. “Esse cenário é muito imprevisível, então por enquanto não temos como afirmar se o Bolsonaro ficará inelegível ou ganhará elegibilidade antes dos oitos anos determinado pela Corte [TSE]. No entanto, ainda que o TSE tenha mudado sua composição, quem decidirá em última instância o caso é o Supremo e a composição dele não mudará. Então a tendência é que nesse momento de apelo, Bolsonaro não terá números suficientes para mudar o caso”, completou.
Direita
A eventual vitória de Trump é um reflexo da força que partidos da direita, especialmente de extrema-direita, vêm experimentando em todo o mundo. Gabiati destacou que isso se trata de um cenário mundial polarizado, especialmente em democracias ocidentais como as da Europa e Américas. “Se tem um fortalecimento da direita mais ideológica, com pautas mais conservadores e de costumes. Esse campo ideológico vem se fortalecendo, mas há oscilações, a depender de questões internas”, disse.
E, no caso do Brasil, essa direita vem ganhando muita força para além do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apesar de Bolsonaro inelegível, ele segue como o líder político da oposição ao atual governo. E mesmo com mais de um ano e meio de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as últimas pesquisas eleitorais apontam que o ex-presidente segue com uma força política de 30% das intenções de voto, que podem variar para mais ou para menos.