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Debate entre 'novinhos' na França contrasta com Biden e Trump nos EUA

Debate na França, ao contrário dos Estados Unidos, é marcado por políticos jovens | Foto: Folhapress

Por Guilherme Botacini e André Fontenelle (Folhapress)

As campanhas para a eleição legislativa na França e presidencial nos Estados Unidos vivem um cenário diametralmente oposto quando o assunto é a idade de seus protagonistas.

Enquanto nos EUA Joe Biden, 81, disputa com Donald Trump, 78, em pleito no qual a faixa etária de ambos é motivo de incerteza e chacota, na França, Jordan Bardella, 28, duelou com Gabriel Attal, 35, em debates em que foi difícil acompanhar as falas de cada um em meio a frases rápidas e tantas interrupções, acusações e trocas de farpas.

Na quinta-feira (27), o último evento do tipo na França antes do fim da campanha ocorreu no mesmo dia em que Biden, em Atlanta, teve desempenho vacilante, na qual reforçou dúvidas de eleitores sobre sua idade e foi encurralado por Trump.

O democrata inclusive reconheceu a má impressão deixada, mas se reafirmou como candidato. "Eu sei que não sou um homem jovem. Isso é óbvio. Eu não ando tão bem, não falo tão bem, não debato tão bem quanto eu debatia, mas sei como falar a verdade. Sei diferenciar o certo do errado, sei fazer esse trabalho", disse, sob aplausos de apoiadores.

Bardella, na França, tem feito o papel de moderar a imagem da Reunião Nacional (RN), partido da ultradireita do qual se tornou presidente sob as bênçãos de Marine Le Pen, que mira o pleito presidencial de 2027.

Ele é ainda um dos fatores responsáveis por fazer com que a legenda, até não muito tempo atrás pouco atraente para os mais jovens, chegasse com força a esse eleitorado.

Isso fica evidente na forma nativa como usa o TikTok, por exemplo, onde tem fama. Imagem e linguagem de Bardella são mais velozes, e seu perfil parece mais adequado à rede do que Biden e Trump, cujas tentativas de se posicionar na plataforma chinesa para atrair a juventude soam frequentemente forçadas.

Há, por outro lado, dúvidas sobre a inexperiência de Bardella, que nunca ocupou nenhum cargo político além da estrutura partidária da RN.

Quando questionado em uma entrevista se tinha medo de assumir como primeiro-ministro da França aos 28, respondeu: "Fiz aos 28 o que deveria ter feito aos 45 ou 50. Penso que um líder seja também avaliado pela capacidade que tem de se cercar [das pessoas certas]".

Já Attal se tornou o primeiro-ministro mais jovem da história do país, até Emmanuel Macron dissolver a Assembleia Nacional após derrota no pleito europeu. É ele que tem tomado a frente do bloco governista de centro nos debates.

Ele e Bardella se enfrentaram na quinta ao lado de Olivier Faure, 55, líder do Partido Socialista. Antes, na terça, foram acompanhados por Manuel Bompard, 38, da França Insubmissa, legenda da esquerda radical unida em bloco com os socialistas.

Há ainda outros personagens relevantes na política da França que evidenciam a diferença etária com os EUA, como Raphaël Glucksmann, 44, eleito eurodeputado à esquerda, Manon Aubry, 34, que encabeçou a lista de eurodeputados eleitos pela França Insubmissa, e Marion Maréchal, 34, ultradireitista e sobrinha de Marine Le Pen.

Ultradireita cresce

As primeiras projeções do resultado do primeiro turno das eleições legislativas da França, às 20h de Paris (15h de Brasília) deste domingo (30), indicam que a ultradireita será a maior força do Parlamento pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. O segundo turno será no domingo (7).

O Reunião Nacional (RN), maior partido da ultradireita, obteve 34% dos votos, segundo a boca de urna, contra 28,1% da Nova Frente Popular (NFP), de esquerda; e 20,3% do Ensemble! (Juntos), coalizão do presidente Emmanuel Macron, grande derrotado das eleições.

Isso representaria, em uma média das estimativas das diferentes empresas de pesquisas, 230 a 275 deputados para o RN, a depender do jogo de alianças entre o primeiro turno e o segundo. São necessários 289 para ter a maioria absoluta. A esquerda ficaria com 150 a 180 deputados, e a ex-maioria governista com 65 a 95 deputados. Esses números ainda devem sofrer alterações ao longo das próximas horas, com o avanço da apuração.

"Nada está ganho. Precisamos de uma maioria absoluta para que Jordan Bardella seja nomeado primeiro-ministro", disse Marine Le Pen, 55, principal figura do RN e eleita deputada já no primeiro turno, referindo-se a seu pupilo e presidente do RN, de 28 anos.

Esta foi a eleição com o maior comparecimento dos últimos 40 anos: 67,5% dos eleitores foram às urnas, contra 47,5% na eleição legislativa anterior, em 2022. A última vez que a participação foi tão alta (67,9%) remonta a 1997. Esse índice é uma demonstração do enorme interesse despertado pelo pleito entre os 49 milhões de eleitores franceses.

Durante a campanha, Bardella afirmou que só aceitaria o cargo se seu partido tiver a maioria absoluta das 577 cadeiras da Assembleia. Ele poderá, porém, atingir essa maioria por meio de alianças com outros partidos de ultradireita, de direita e até do centro.

Macron anunciou a dissolução da Assembleia Nacional no dia 9 de junho, assim que saíram os primeiros resultados das eleições para o Parlamento Europeu. Nelas, seu partido, Renascimento, ficou em segundo lugar, com apenas 14,6% dos votos, menos da metade dos 31,4% do RN. A decisão de Macron causou perplexidade até mesmo entre seus aliados. As projeções apontam o risco de seu grupo tornar-se apenas a terceira força do Parlamento.