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Rio de Janeiro quer aumentar concorrência com nova Bolsa

A previsão é que a Bolsa comece a operar no segundo semestre do ano que vem | Foto: Marcelo Piu/ Prefeitura do Rio

Elevar a arrecadação, aumentar a concorrência e ampliar o acesso de empresas e investidores ao mercado financeiro estão entre as pretensões da Prefeitura do Rio de Janeiro com a instalação de uma Bolsa de Valores na cidade, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Chicão Bulhões.

Atualmente, a Bolsa em atividade no Brasil é a B3, localizada em São Paulo. Bulhões diz que o Rio não tem "nada contra" a operação paulista, mas entende que é necessário dar mais uma opção a empresas e investidores.

Ao defender o projeto carioca, o secretário declara que "até" países como a China comunista têm mais de um empreendimento do tipo. Na visão dele, a Bolsa carioca pode contribuir para "popularizar" o mercado de capitais no Brasil.

"É muito bom ter concorrência e possibilitar o acesso de mais empresas e empresários. Vai ser importante para que a gente dê um primeiro passo para aumentar o mercado brasileiro e atrair mais investidores", afirma.

"Pode ser uma Bolsa com novos ativos, mas com concorrência. Não temos nada contra a B3."

O prefeito Eduardo Paes (PSD), que deve concorrer à reeleição neste ano, sancionou na quarta (3) a lei que cria incentivos para a nova Bolsa. O texto prevê a redução de ISS (imposto municipal) de 5% para 2% nas atividades.

A ATG (Americas Trading Group), comprada pelo Mubadala Capital, de Abu Dhabi, trabalha no desenvolvimento da Bolsa no Rio. A previsão local é de que o empreendimento esteja em operação até o segundo semestre de 2025.

Uma das indefinições envolve o endereço onde a Bolsa será instalada. Segundo Bulhões, ações da prefeitura para revitalização do centro do Rio animaram os executivos envolvidos no projeto, o que pode ajudar na escolha da região.

A proximidade do aeroporto Santos Dumont é outro fator que joga a favor da área central, indica o secretário. O certo, segundo ele, é que a operação não ficará no prédio da antiga BVRJ (Bolsa de Valores do Rio de Janeiro), que encerrou as atividades em 2002.

O empreendimento anterior funcionava na praça XV, no centro do Rio, e acabou incorporado pela Bolsa de Valores de São Paulo, atual B3.

De acordo com a prefeitura carioca, o setor financeiro foi o quarto maior pagador de ISS da cidade no triênio de 2021 a 2023. O valor gerado para o município foi de R$ 1,5 bilhão. Com a nova Bolsa, a meta é pelo menos dobrar a arrecadação, diz Bulhões.

A instalação do projeto ainda depende da liberação do BC (Banco Central) e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão regulador do mercado de capitais com sede na capital fluminense.

Em entrevista na quarta, o presidente-executivo da ATG, Cláudio Pracownik, estimou que até o final deste ano a estrutura física e digital estará pronta e que os testes serão realizados no primeiro semestre de 2025.

Ele sinalizou que o empreendimento irá negociar as mesmas ações da B3, incluindo os papéis das blue chips Vale e Petrobras. Acrescentou que Brasil e Espanha são os únicos países do G20 com apenas uma Bolsa de Valores, contra mais de 15 opções nos Estados Unidos.

Em nota, a B3 afirma que a concorrência é "uma realidade" com a qual lida diariamente em "diversos segmentos de atuação".

"No segmento de balcão, por exemplo, a B3 tem concorrentes no registro de ativos financeiros e na negociação de títulos públicos e privados, entre outros. No mercado de renda variável, é preciso considerar a concorrência com bolsas internacionais, já que as empresas brasileiras podem escolher listar suas ações no exterior."

A B3 ainda declara que os clientes estimulam a companhia a trazer mais produtos e inovações que facilitem o dia a dia do mercado. "A Bolsa reafirma seu compromisso de seguir as melhores práticas em todos os mercados em que atua, incluindo aspectos concorrenciais, de governança e controles, com a robustez e a segurança do mercado de capitais brasileiro."

Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e professor do Ibmec-RJ, diz ver o projeto carioca com bons olhos em razão da possibilidade de gerar competição no mercado.

Ele, porém, afirma que ainda há dúvidas sobre a forma de operação e a viabilidade da nova Bolsa. Uma das incertezas envolve os nichos a serem explorados pelo empreendimento.

"A B3 já é muito consolidada, muito respeitada. Em um primeiro momento, na minha cabeça, a nova Bolsa deveria ir um pouco mais para espaços que poderiam eventualmente atrair novos players", diz.

"Por exemplo: small caps [ações de companhias geralmente de menor porte] ou empresas que não têm tanta liquidez na B3 poderiam servir como porta de entrada para a nova Bolsa."

Segundo Espirito Santo, também é importante que exista integração entre as duas operações. "Se eu não puder comprar uma ação em São Paulo e vender aqui no Rio, se isso for inviável ou dificultado, vai ficar complexo. Você precisa muito dessa interação."

Por Leonardo Vieceli (Folhapress)