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Alerta: pediatras devem identificar casos potenciais de obesidade e lipedema para prevenir o surgimento de doenças crônicas

Pediatras devem identificar casos potenciais | Foto: Freepik

Ainda durante o Congresso Internacional de Obesidade (ICO2024), especialistas recomendaram que pediatras devem saber identificar crianças e adolescentes com tendência em desenvolver enfermidades crônicas no futuro, como obesidade e lipedema, e orientar os pais sobre a importância da prevenção ainda nesta idade.

"Os pediatras, desde cedo, devem desenvolver um olhar mais apurado para identificar meninas com tendência a ter lipedema no futuro, assim como obesidade, para começar desde já o trabalho de prevenção. Características como uma desproporção corporal com pernas grossas e cintura fina, além do surgimento de áreas roxas na cintura para baixo (principalmente a partir dos 15 anos), já podem evidenciar uma predisposição genética para a enfermidade", esclarece o cirurgião geral e plástico Fábio Kamamoto, fundador do Instituto Lipedema Brasil.

A condição atinge principalmente as mulheres, sendo mais comum em fases como a puberdade, gravidez/amamentação e menopausa. Mais de dez milhões de brasileiras podem ter lipedema e não sabem, segundo dados do Instituto Lipedema Brasil.

Mundialmente, 10% das mulheres sofrem com a doença vascular crônica, de origem hormonal, caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura no corpo, em especial, nas pernas, provocando dor, inchaço, hematomas e sensação de peso nos membros inferiores.

Na opinião da medica endocrinologista Cintia Cercato, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO), o papel dos pediatras é fundamental na conscientização dos pais de crianças e adolescentes que já demonstram uma tendência maior ao desenvolvimento de obesidade no futuro.

"A faixa etária que tem o maior crescimento nas taxas de obesidade é justamente nas crianças e adolescentes aqui no Brasil. Por isso, é muito importante que esses casos sejam identificados mais precocemente. Quanto mais cedo tratarmos o problema, menores são as chances dessas crianças tornarem-se adultos com obesidade. Já na fase de adolescência, temos menos oportunidades de prevenção do problema. Quanto mais cedo, melhor", frisou Cintia Cercato.

A endocrinologista lembra que existe um estudo1 muito interessante mostrando que se você faz uma intervenção com a adoção de um estilo de vida mais saudável, incluindo a prática de atividade física, nos três a cinco primeiros anos, é possível mudar a história dessa criança ao longo da vida, tornando-a uma pessoa sem obesidade.

Outro ponto destacado pela presidente do Conselho Deliberativo da ABESO é que os próprios pais dificilmente percebem a obesidade nos seus filhos, a não ser que eles já estejam com o estado mais grave da doença.

"Ainda existe uma tendência cultural, social de achar que a criança cheia de dobrinhas é mais saudável ou de ficar super alimentando aquelas mais magrinhas. Há ainda trabalhos2 muito consistentes mostrando que os pais de crianças com pré-obesidade dificilmente percebem o real estado de seus filhos. Portanto, o mais importante é chamar a atenção dos pais para que estejam mais atentos em identificar essa condição nos próprios filhos", conclui Cíntia Cercato.

Metade das crianças no Brasil terá sobrepeso em 2035, de acordo com o Novo Atlas Mundial da Obesidade 2024, organizado pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation - WOF), com apoio e tradução do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO)/Instituto Cordial.