Em um artigo publicado no periódico científico Nature Medicine em 5 de julho, pesquisadores defendem que o atual método para diagnóstico da obesidade em adultos é insuficiente e deve ser modificado.
Segundo os autores, que fazem parte da Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (Easo, na sigla em inglês), usar somente o IMC (índice de massa corporal) para classificar uma pessoa como obesa é limitante, uma vez que a doença é crônica e multifatorial — e, como tal, deve ser avaliada e tratada com base em diferentes fatores clínicos.
O IMC é calculado dividindo o peso de uma pessoa (em quilos) pelo quadrado de sua altura (em metros). O método vem sendo criticado por especialistas por ser muito simplista e limitante, em relação à saúde geral dos indivíduos.
São considerados com excesso de peso aqueles que têm IMC igual ou maior do que 25 e obesos, os que têm o índice igual ou maior do que 30.
"A obesidade deve ser considerada um processo de doença crônica progressiva que pode transitar de um estado relativamente assintomático para uma fase em que o acúmulo anormal e/ou excessivo de gordura é acompanhado por prejuízos à saúde e, finalmente, para uma condição potencialmente fatal ou incapacitante", afirmam.
"O IMC sozinho é insuficiente como critério diagnóstico e a distribuição de gordura corporal tem um efeito substancial na saúde", escrevem os pesquisadores.
"Mais especificamente, o acúmulo de gordura abdominal está associado a um maior risco de desenvolver complicações cardiometabólicas e é um determinante mais forte do desenvolvimento de doenças do que o IMC", acrescentam.
Segundo a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, cerca de 20% da população brasileira é considerada obesa e mais da metade (55,4%) tem excesso de peso.
Um estudo divulgado há poucas semanas alerta que, até 2044, quase metade dos brasileiros (48%) será obesa se forem mantidos os padrões atuais. A projeção ainda aponta que outros 27% podem atingir o sobrepeso.
No mundo, segundo dados de 2022 da Organização Mundial da Saúde, 43% dos adultos estão acima do peso e 16% estão vivendo com obesidade.
A obesidade pode levar a um aumento do risco de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, afetar a saúde dos ossos e a reprodução e aumentar o risco de alguns tipos de câncer, além de impactar negativamente a qualidade de vida.
No artigo, os cientistas europeus propõem que um dos critérios mais importantes a serem adotados para o diagnóstico dessa condição é a análise do acúmulo de gordura abdominal (ou visceral), que é um fator de risco significativo para a deterioração da saúde, também em pessoas com IMC baixo.
O novo quadro para classificação da obesidade proposto inclui pessoas com nível de IMC mais baixo do que o adotado até hoje, mas com grande acúmulo de gordura abdominal e a presença de quaisquer "prejuízos médicos, funcionais ou psicológicos". O objetivo é reduzir o risco de subtratamento nesse grupo de pacientes.
Em relação ao tratamento da obesidade, os pesquisadores apontam que as medidas devem se basear em modificações comportamentais, incluindo terapia nutricional, atividade física, redução do estresse e melhoria do sono, com a possível adição de terapia psicológica, medicamentos para obesidade e cirurgias metabólicas ou bariátricas.
"O manejo da obesidade deve ir além da perda de peso e incluir a prevenção, resolução ou melhoria de complicações relacionadas à obesidade, uma melhor qualidade de vida e bem-estar mental, e melhoria da função física e social e da aptidão física", dizem.
"Esta declaração aproximará o manejo da obesidade do manejo de outras doenças crônicas não transmissíveis, nas quais o objetivo não é representado por resultados intermediários de curto prazo, mas por benefícios de saúde a longo prazo", ressaltam.
Eles também destacam que, dado o crescimento da obesidade entre pessoas mais velhas, é preciso dedicar atenção especial ao diagnóstico nessa faixa etária. Além disso, apontam que o tratamento de pessoas obesas precisa incluir o monitoramento para diferentes tipos de câncer relacionados a essa condição.
Por Jéssica Maes (Folhapress)