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Volta Redonda, 'De Cidade do Aço à Cidade do pó': moradores voltam às ruas em protesto contra poluição da CSN

Moradores de Volta Redonda fazem ato contra a poluição da CSN | Foto: CSF

Por Sônia Paes

Ao som músicas alusivas à poluição, moradores de Volta Redonda promoveram na manhã deste domingo, dia 21, um protesto contra a poluição que a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) despeja em Volta Redonda, sul do interior do Estado do Rio. O ato começou na Praça Brasil e terminou com um abraço simbólico ao Escritório Central da empresa. O prazo do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado entre a CSN e o Inea, em 2018, vence no mês que vem, e previa uma série de medidas para reduzir a poluição.

Nas grades que cercam o prédio, desativado há décadas pela Siderúrgica, os manifestentes amarram uma fita preta, pedindo o fim do chamado "pó preto" que toma conta do município.

O ato foi liderado por Alexandre Fonseca, do "Movimento Sul Fluminense contra a Poluição", criado para tentar encontrar soluções que minimizem os impactos que a Usina Presidente Vargas (UPV), da CSN, causam ao meio ambiente. "Queremos que Volta Redonda seja um símbolo da luta pelo meio ambiente", disse Alexandre, do alto de uma caminhonete de som, que percorreu o trajeto feito em toda a Vila Santa Cecília.

A concentração começou tímida na Praça Brasil, ainda por volta das 9 horas, com o tempo frio, mas as pessoas foram chegando aos poucos, assim como lideranças de associações de moradores de bairros, e a mobilização tomou corpo.

Com cartazes criticando a falta de sensibilidade da CSN com relação à poluição, apitos, tambores, a população seguiu pacificamente até a Praça Juarez Antunes e finalizou o ato na escadaria do Escritório Central, após o "abraço". Tudo acompanhado pela Polícia Militar e a Guarda Municipal. O movimento acabou chamando a atenção e a adesão de algumas pessoas que estavam na feira-livre, realizada todo domingo no local.

-Tem que fazer isso mesmo, a poluição em Volta Redonda está insportável - disse uma senhora, observando a manifestação.

Críticas em meio a busca de soluções

A presidente da Federação da Associação de Moradores de Volta Redonda (FAM), Fátima Martins, disse que a "Cidade do Aço" foi transformada na "Cidade do Pó". Ela recordou que a empresa, fundada na década de 40, graças ao então presidente Getúlio Vargas, carrega o sacrifício dos antepassados dos moradores:

"Temos que honrar nossos avós e todos aqueles que deram o próprio sangue para fundr a CSN. Getúlio Vargas deve estar revirando em seu túmulo com a situação atual da empresa", comparou, lembrando que o Rio Paraíba do Sul, outra vítima da poluição, não abastece somente Volta Redonda, mas uma grande parte da capital carioca.

Os males que o ar poluido gera à saúde foi lembrado por Carlinhos Moraes, que faz parte da Associação dos Leucopênicos de Volta Redonda, criada em 1982 para lutar por pacientes vítimas de leucopenia (quando tem baixo número de células brancas no organismo).

Entidades ambientais

José de Arimathea de Oliveira, do Comitê da Bacia da Região e Hidrográfica do Médio Paraíba do Sul e outras entidades ligadas ao meio ambiente, disse que decidiu fazer parte do movimento devido à situação insustentável do município. Outro que fez duras críticas à CSN foi o organizador do movimento Alexandre Fonseca. Ele cobrou providências dos órgãos municipais, estaduais e federais, e disse que sempre tentou diálogo com a empresa, no sentido de encontrar soluções para o problema:

-Não queremos que a CSN feche, isso é óbvio. Mas a empresa precisa tratar com respeito a população e os próprios empregados. Ela ignora os trabalhadores, mas não consegue sobreviver sem eles logicamente. É preciso dar dignidade e qualidade de vida para a população - ressaltou Alexandre, ao falar para os moradores na Praça Juarez Antunes, um dos símbolos de movimentos grevistas que guarda, inclusive, um busto do bispo Doma Waldyr Calheiros, reconhecido pelos trabalhos huminatários que fez ao longo de sua vida.

Sem apoio político

Alexandre Fonseca cobrou atuação dos políticos do município também e indagou sobre a falta de participação deles no ato: "Cadê os nossos vereadores, deputados? Não tem ninguém aqui para nos ajudar", disse.

Além do deputado estadual Jari de Oliveira, do PSB, e de alguns pré-candidatos a vereador, não havia outros políticos no ato.

Outra presença marcante no ato foi a de João Thomaz, ex-presidente do Sindicato dos Engenheiros, com uma roupa que imitava o interior da UPV e soltava pó. Ele é um profundo conhecedor da usina, onde começou a trabalhar antes de ela ir à leilão, em 1993.