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Paris 2024, uma Olimpíada para ecoar pela eternidade

A imponência da 'Torre Eiffel Olímpica' é algo indescritível. Ela é o símbolo de uma cidade pronta para relembrar os motivos que já fizeram dela a mais importante do mundo. | Foto: Pedro Sobreiro

Por Pedro Sobreiro*

A edição de 2024 dos Jogos Olímpicos é muito mais do que uma 'simples' olimpíada, feita para reunir os melhores  atletas do mundo em uma competição regida pelos sete valores estabelecidos pelo Barão Pierre de Coubertin no Século XIX. Muito mais que representar e disseminar valores de igualdade, equidade, justiça, racionalidade, compreensão e autonomia, a Olimpíada Paris 2024 marca o aniversário de 130 anos da criação dos Jogos modernos, que aconteceu, inclusive, na própria capital francesa, e também o centenário da Olimpíada de Paris 1924, um dos eventos mais fascinantes da história humana.

Após uma tentativa frustrada de realizar os Jogos Olímpicos em Paris, em 1904, Coubertin viu sua amada cidade ser escolhida para sediar os Jogos novamente. Então, 20 anos depois, a palavra que definiu aquela Olimpíada foi 'inovação'. Não é exagero dizer que existiram os Jogos Olímpicos antes e depois de Paris 1924. Foi nessa edição que naseu o lema oficial do evento, "Mais Rápido, Mais Alto, Mais Forte". Também foi a primeira edição a ter um centro específico para receber os atletas, além da primeira - e simples - Vila Olímpica da história.

Mas ela foi marcante justamente por ter acontecido em Paris em um momento em que a 'Cidade Luz' era literalmente um farol para o mundo. Com pensadores, políticos, artistas, cientistas e arquitetos que serviam de referência para todo o mundo, a Capital da França só tinha olhos para o desenvolvimento e para um futuro melhor. E os Jogos daquele ano foram uma belíssima 'joia na coroa' dessa vanguarda.

Agora, um século depois, as Olimpíadas retornaram a Paris em um momento muito especifico da história parisiense. Passando por diferentes tipos de caos, a França parece ter se desligado de sua própria história, cedendo a debates ultrapassados e anacrônicos, tanto política quanto socialmente. É  como se Paris tivesse aberto a mão de sua vanguarda e tivesse sido consumida por um conservadorismo carregado de preconceito.

Diante disso, os Jogos Olímpicos surgem para relembrar Paris do que um dia a cidade já foi. E o que melhor representa esse movimento é a Torre Eiffel portando os icônicos Anéis Olímpicos. É difícil descrevercom palavras o impacto que é chegar a um dos maiores cartões-postais do planeta e vê-lo com anéis gigantes, que carregam valores espetaculares há três séculos. É um cenário ainda mais fascinante e chega a beirar o inacreditável. É como se você se deparasse com um set de filmagem de um filme de ficção científica. É um sonho se tornando realidade.

Só que a parte realmente importante dessa Olimpíada pode ser vista mesmo pelas ruas de Paris. Por onde se passa, é possível ouvir diferentes idiomas,diferentes idades, diferentes raças com uma coisa em comum: o sorriso no rosto. É uma felicidade genuína de pessoas que sabem que estão vendo a história ser escrita diantes de seus olhos.

É fabuloso ver o contraste escolhido pela organização de misturar referências anacrônicas com a tecnologia. Um grande exemplo disso é a já lendária Pira Olímpica, que ostenta a Chama Olímpica em uma estrutura que remonta aos balões, os primeiros passos da  aviação, que nasceu na cidade pelas mãos do brasileiro Santos Dumont. Ela permanece no solo durante o dia e reúne milhares de pessoas às margens do rio Sena para vê-la subir e ficar imponente no céu pariense na parte da noite.

Em tempos em que a polarização política parecia infindável na França, em que a dificuldade de convivência com as pessoas diferentes parecia só aumentar, a olimpíada de Paris veio para relmbrar a todos como é fantástico se reunir com pessoas conhecidas e desconhecidas para se encantar com a impressionante habilidade humana de superar limites.

Nesse mês olímpico, o que não falta para os parisienses é motivo para sentir orgulho de suas origens. Outro acerto da organização foi a escolha damascote. As 'Phryges' foram inspiradas nos históricos gorros ou barretes frígios, símbolos nacionais da Liberdade. Em vez de representarem animais ou tecnologias, as mascotes desta edição representam um ideal. Talvez seja por isso que elas foram prontamente abraçadas pelos franceses, que vestem as camisas com  a mascote estampada, utilizam chapéus inspirados nelas e andam com as pelúcias para todos os lados. E chega a ser curioso que elas tenham virado piada no Brasil, porque poucas vezes vimos uma mascote ser tão abraçada pelo público quanto elas estão sendo em Paris, talvez só percam para o Ursinho Misha, de Moscou, e para o simpático Vinícius, que representou toda a malemolência carioca nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.

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Representando ideais de Liberdade, as Phryges viraram febre entre criançs e adultos de Paris | Foto: Paris 2024

Por mais que existam polêmicas, principalmente acerca do programa problemático de despoluição do rio Sena, a Olimpíada de Paris parece ter mesmo vindo para trazer de volta um pouco de vida, autoestima e resgate de sua própria essência para a cidade. Podendo ser justamente esse o maior legado do evento: uma França que esteja disposta novamente a revolucionar o mundo com ideias e ideais de puro progresso. Eles não recuperaram apenas o prazer de 'turistar' na própria cidade, mas também o de viver sua cidade, o que costuma ser o primeiro passo para grandes mudanças.

*De Paris para o Correio da Manhã