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Fenômeno com jeitão carioca ganha nova temporada

'Impuros' chega à quinta temporada levando o Rio para o mundo | Foto: Divulgação/ Disney

Por Pedro Sobreiro

Sucesso nos streamings, a série 'Impuros' sobreviveu à venda da FOX para a Disney, e agora migrou do Star para o Disney , chegando a públicos ainda mais diferentes.

A produção se passa no Rio de Janeiro dos anos 1990 e acompanha a ascensão de Evandro do Dendê, que viria a se tornar o maior nome do tráfico da América Latina, passando por uma série de confusões e provações no caminho. A quinta temporada chegou ao Disney neste mês e já está dando o que falar. Desta vez, a trama está ainda mais internacional e envolve temas como o Jogo do Bicho e as negociações entre as facções de Rio e São Paulo.

Para promover o lançamento, a Disney realizou uma pré-estreia em Botafogo, onde o elenco e os convidados puderam assistir os dois primeiros episódios da temporada. O evento contou ainda com a presença do lateral Marcelo, do Fluminense, que tirou foto com os fãs.

Em entrevista ao CORREIO DA MANHÃ, os diretores René Sampaio, Tati Fragoso e Tomás Portela comentaram sobre a nova temporada e sobre como o Rio se comunica com a série.

Nos últimos anos, as séries sobre o narcotráfico viraram um verdadeiro fenômeno nas TVs e nos streamings pelo mundo. Porém, mesmo envolvendo o tema, René Sampaio não enxerga 'Impuros' como um grande representante do gênero. Para ele, o que conquista o público é a relação familiar dos personagens.

"Se for para comparar 'Impuros' com outras séries, acho que ela está mais para as produções sobre famílias que disputam poder e amor do que necessariamente as séries sobre o narcotráfico. Desde de 'Dallas', dos anos 80, até 'Succession', acho que é por aí", comentou René.

E como toda grande produção que envolve as comunidades do Rio de Janeiro, existe aquele debate sobre os 'Favela Movies', que retratam a vida complicada dos cariocas que vivem nas favelas. Ao mesmo tempo que pode parecer uma propaganda negativa para a cidade, esse gênero é extremamente popular no Brasil e no mundo. Os diretores concordam que há algo sedutor por trás dessas histórias, principalmente porque permitem trabalhar o drama.

"Eu acho que é uma situação-limite. E as situações-limites abrem muito espaço para uma dramaturgia forte. As pessoas vivem ali em uma zona cinza, em que são expostas o tempo inteiro ao preto e ao branco. São contrastes muito grandes, porque ou você é conivente com o tráfico ou você é da igreja, ou sua vida está em risco. São conflitos quase medievais, que te levam a um lugar onde o Estado se impõe forte. É dramaturgicamente muito complexo. E tem algo também que é o estereótipo das favelas. As pessoas só conhecem uma visão da favela. E é um lugar que principalmente os estrangeiros não conhecem, e acham muito sedutor", explicou Tomás Portela.

Já Tati acredita que os 'favela movies' geram a identificação em parte do público.

"Isso traz uma verdade. Quer dizer, a história da Arlete na primeira temporada é muito comum. Já ouvi diversas mães nas comunidades dizendo que isso aconteceu com elas, que elas perderam os filhos daquele jeito. Então, tem essa verdade que todo mundo gosta de ver, principalmente fora do país. Isso traz o público estrangeiro para perto, seja por curiosidade ou identificação", continuou Tati Fragoso.

E dessa vez há uma subtrama sobre o Jogo do Bicho, que se popularizou absurdamente nos últimos anos, rendendo produções elogiadíssimas pela crítica. No entanto, a direção garante que está tomando muito cuidado na hora de trazer esse elemento para a trama, justamente por seu poder e popularidade.

"O Jogo do Bicho está muito ligado à criminalidade do Rio de Janeiro. É até difícil de separar as coisas. Ele vai estar presente na temporada. Acho que a guerra do Bicho não é o nosso foco, e é uma preocupação nossa para não deixar que ele ganhe a série, mesmo diante dessa popularidade muito grande que ganhou recentemente. Mas nossa série não é sobre isso", afirmou Portela.

Internacional

Outro ponto que chama atenção é a quantidade de cenas que se passam no exterior. Como a trama aborda o tráfico de drogas internacionais, há cenas gravadas pela América do Sul, com atores dos respectivos países.

"Desde a primeira temporada, a gente vem gravando cenas no Uruguai. Não só por ser um local rico de paisagens, mas por trazer um elenco latino muito bom. É sempre uma experiência muito enriquecedora. Montevideu principalmente, porque é uma cidade com lugares desertos. No Rio de Janeiro, se você quiser um lugar deserto, inóspito, você tem que pegar pelo menos 1h30 de estrada. A gente filmou no Uruguai, inclusive, cenas que se passam no Brasil, por conta da facilidade de lugar inóspitos por lá", disse Tomás.

"É uma série falada em português, inglês e espanhol. Com muito português e espanhol. Então, acho que a gente consegue trazer uma verdade para o público toda vez que a gente escolhe lugares e atores de fora do Brasil. Eles entram na nossa série para dar um gostinho diferente, com sotaques diferentes", completou René Sampaio.

Audiência de peso

Parte do sucesso de uma série de cinco temporadas é ter uma equipe entrosada e envolvida. Ao CORREIO DA MANHÃ, René Sampaio revelou o segredo do sucesso.

"Acho que o grande mistério de fazer uma série de sucesso é que a gente também não sabe tudo o que a gente quer fazer. Porque a série acontece conforme a gente vai fazendo, então tudo pode mudar. A gente espera surpreender o público, porque tem ideias constantes. Enquanto houver surpresa, essa curiosidade nossa de até onde queremos levar o personagem, vai dar tudo certo. Quando a gente souber tudo o que quer fazer com o Evandro, acho que aí será hora de acabar a série. Porque a gente é autor, diretor, produtor, mas também é espectador. A gente gosta de ver o que está fazendo e de inventar coisas novas", disse.

"Os atores participam muito da criação. Estamos na quinta temporada, então esses personagens já são dos atores. A gente ajuda em outras coisas, mas deixa eles muito livres para criar", concluiu Tati Fragoso.

Além disso, o elenco é formado por grandes nomes do cinema e TV brasileiros, como Leandro Firmino, eternizado nas telonas como o Zé Pequeno, de 'Cidade de Deus'. O mais curioso de tudo é que os diretores confirmam que ele é completamente diferente dos personagens que interpreta, sendo um amor de pessoa.

"É sempre divertido trabalhar com o Leandro Firmino. Nosso elenco é incrível. E mesmo trabalhando em ambientes hostis, muito quentes, a gente se diverte. Acho que tem um clima anárquico, de subversão, que faz com que o humor brote. O personagem do Firmino tem muita coisa já escrita, mas tem momentos que nascem da pura anarquia dos sets. A gente vai testando e tem muita liberdade", disse Tomás Portela.

"O Firmino tem carisma. Ele é inegavelmente muito carismático e muito diferente dos personagens que ele faz. Você conversa com ele e é outra pessoa. Fala baixo, é muito calmo, não fala palavrão. Nunca vi ninguém falar mal do Firmino. Ele é educadíssimo, aí, quando entra no personagem, ele traz um carisma muito próprio dele", concluiu René.

Por fim, eles revelaram o que pretendem para o futuro de Evandro do Dendê e da série como um todo.

"Se tem uma coisa que eu posso te adiantar que a gente não fez com o Evandro e que eu não pretendo fazer tão cedo é matá-lo. Vida longa ao rei!", brincou Tomás.

As cinco temporadas de 'Impuros' estão disponíveis no Disney .