Presidente da CBAt comenta sobre o futuro do Atletismo no Brasil

Em entrevista exclusiva, Wlamir Motta Campos projetou o crescimento da Marcha Atlética

Por Por Pedro Sobreiro*

Wlamir Campos falou com exclusividade ao Correio da Manhã e avaliou o momento do Atletismo no país

Por Pedro Sobreiro*

Tradicional no esporte brasileiro, o Atletismo se tornou sinônimo de medalhas olímpicas para o país. Nas Olimpíadas de Paris, Caio Bonfim e Alison dos Santos, o Piu, trouxeram uma medalha de Prata e uma de Bronze, respectivamente para o Brasil.

Ao longo da Olimpíada, Piu foi constantemente citado pelos torcedores brasileiros como a principal esperança de medalhas para o país, ficando atrás apenas de Rebeca Andrade, da Ginástica Artística, que foi a grande sensação desses Jogos.

No último dia da Casa Brasil, Piu marcou presença para receber uma premiação especial do COB e interagir com os fãs. No palco, o atleta foi ovacionado por centenas de torcedores que se reuniram para homenagear o mais carismático atleta olímpico da atualidade.

No palco, ele foi recebido por Galvão Bueno para encerrar as atividades da Casa Brasil e comentou sobre a importância do esporte em sua vida e na mudança que ele pode fazer nas crianças do país.

Pedro Sobreiro - Carlos Vieira, presidente da Caixa, Wlamir Motta Campos, presidente da CBAt, Piu e Paulo Wanderley, presidente do COB, na Casa Brasil.

"O esporte é nossa cultura. Ele ensina lições para a vida, e eu aprendi muito por meio dele. Eu cheguei a fazer Judô antes, mas foi vindo para o Atletismo que entendi que o esporte era um meio de educação. Se você não virar o melhor atleta do mundo, você vai aprender muito e vai ter uma oportunidade para crescer na vida. E poder crescer através do esporte é maravilhoso!", afirmou Piu.

Em entrevista exclusiva ao CORREIO DA MANHÃ, Wlamir Motta Campos, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) comentou sobre o sucesso de Alison com o povo brasileiro.

"O Piu fez um excelente trabalho, mais uma vez entregando tudo. E para os Jogos Olímpicos de 2028, temos uma expectativa gigante. O Piu tem, hoje, 24 anos, então chegará a Los Angeles no seu auge", disse Wlamir.

O presidente também avaliou o desempenho dos atletas na Olimpíada de 2024 e projetou uma edição ainda mais vitoriosa na Olimpíada de Los Angeles.

"Os Jogos foram muito bons para nós. Tivemos o Caio Bonfim com a medalha de Prata, por exemplo. E muita gente disse que essa medalha foi uma surpresa. Para nós, que acompanhamos diariamente, não foi uma surpresa, porque o Caio foi quarto lugar na Olimpíada do Rio, foi terceiro lugar no Campeonato Mundial de Budapeste, no ano passado. A base vem muito forte também. Daqui a alguns dias teremos o Mundial Sub-20, no Peru, e acredito que muitos desses atletas estarão em Los Angeles. Eu acredito que nossa participação em Paris foi superpositiva", comentou.

"Nós fomos melhores do que fomos em Tóquio e no Rio de Janeiro, então temos uma perspectiva muito positiva, sempre acreditando na nossa base, que vem forte. Muito forte", concluiu o presidente.

Havia uma grande expectativa sobre outro atleta, que acabou perdendo as Olimpíadas por conta de uma lesão. Darlan Romani, xodó brasileiro nos Jogos Olímpicos de Tóquio, vinha em grande fase no Arremesso de Peso, mas sofreu com hérnias de disco às vésperas de Paris.

"Tivemos um problema com o Darlan [Romani], que precisou fazer uma cirurgia uma semana antes do embarque para os Jogos. E pelos resultados do arremesso de peso aqui em Paris, o Darlan teria todas as chances de ser pódio, já que ele teve marcas superiores a essas nesse último ano. Foi realmente uma pena", lamentou Motta Campos.

Ídolos

Um dos momentos mais legais da homenagem a Piu na Casa Brasil foi quando Maurren Maggi, eterna campeã olímpica em 2008 no Salto em Distância, se emocionou ao gravar a reação do público, que cantava fervorosamente a idolatria ao Alison.

Wlamir explicou que esse contato entre ídolos de diferentes gerações e as promessas do esporte fazem parte da filosofia da CBAt, que tem um programa espetacular de valorização de seus atletas.

Wagner Carmo/ CBAt - Caio Bonfim conquistou medalha de prata inédita na Marcha Atlética

"A CBAT é a única confederação olímpica do Brasil que tem um programa específico para ídolos, que é o Programa Ídolos do Atletismo. Todos os nossos medalhistas em campeonatos mundiais e medalhistas olímpicos, que são 32 até o momento, recebem uma remuneração mensal da confederação. O objetivo é fomentar o atletismo através da pedagogia do exemplo, seja em palestras, seja pela presença em eventos, sempre destacando esses feitos deles para o Brasil e influenciando novas gerações para que pratiquem o atletismo pelo Brasil. Então, a Maurren faz parte desse programa como campeã olímpica de 2008, o que é muito legal. Inclusive, a gente discute com o COB há algum tempo, porque nós entendemos que todas as modalidades deveriam ter uma valorização permanente daqueles medalhistas, e não só no momento da glória. Então, repito, o Programa Ídolos do Atletismo faz parte do nosso programa de patrocínio com as Loterias Caixa e todos os medalhistas olímpicos e mundiais são contemplados. Por exemplo, nós temos o Joaquim Cruz [Campeão Olímpico em 1984 e medalhista de Prata em 1988] que faz parte desse programa. É muito legal, porque trabalha os valores olímpicos e inspira as novas gerações", explicou o presidente.

Marcha atlética

No Brasil, uma medalha olímpica é sinônimo de muito mais que um lugar eterno no panteão dos heróis do esporte. Seu significado maior costuma refletir na inspiração para os jovens, que passam a se interessar mais pelas modalidades após ver seus compatriotas no pódio. E o esporte mais curioso desta edição foi justamente a Marcha Atlética, que trouxe ótimos resultados brasileiros e culminou na medalha de Prata de Caio Bonfim, uma referência mundial na categoria.

Para o presidente, a Marcha Atlética promete revelar muitos desportistas de alto nível para o futuro, então a CBAt já se prepara para um crescimento considerável da modalidade no país.

"Desde que assumimos a CBAt em 2021, nós investimos muito na Marcha Atlética, porque acredito que nós temos um potencial gigante. Por exemplo, depois de 2021, nós fomos com equipes de marcha com delegações completas. Então, pela primeira vez, nós fomos campeões Sul-Americanos por equipes, em 2022. Fomos campeões Pan-Americanos por equipes no Pan de Marcha Atlética, o que nunca tinha acontecido, tivemos, no ano passado, a Érica Sena em quarto lugar no campeonato mundial, e o Caio como terceiro colocado. Nós conseguimos incluir, e aí é muito legal, a Marcha Atlética nos JEBs, os Jogos Escolares Brasileiros. No ano passado, conseguimos incluir a Marcha nos Jogos da Juventude. Então, tenho certeza de que, em um futuro muito próximo, teremos muitos marchadores brasileiros de nível mundial, com o Caio Bonfim liderando esse movimento", explicou.

Wagner Carmo/CBAt - Alison dos Santos, o Piu, foi uma das grandes sensações brasileiras na Olimpíada de Paris e ganhou o bronze

O presidente também comentou que um dos fatores para essa expectativa do crescimento da Marcha Atlética no Brasil é que a modalidade não precisa de equipamentos especiais.

"O Caio Bonfim, para mim, é um exemplo, uma referência dentro e fora do Atletismo. E acredito, sim, que teremos um 'boom' da modalidade muito em breve no país. E uma vantagem da Marcha Atlética é que ela é uma modalidade fácil de praticar, diferentemente do Salto com Vara, por exemplo, que você precisa implementar todos os equipamentos. A Marcha Atlética não. Você pode treinar na rua. E nós temos vocação para isso, mas precisamos focar cada vez mais. Essa inserção da Marcha Atlética nas competições de base, tanto o JEBs quanto os Jogos da Juventude, também vem despertando bastante interesse pela modalidade e, com a medalha do Caio, acho que resultará em um 'boom' muito grande em breve", concluiu o presidente Wlamir Campos.

*(De Paris para o Correio da Manhã)