Cursos com foco em ESG ganham atenção financeira de investidores

Uma forma de consolidar práticas sustentáveis é ter métodos efetivos que registrem mecanismos e planejamentos criados, o que entra na parte de governança em ESG.

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Encontro presencial do MBA em ESG da Universidade de Fortaleza, no bairro Água Fria

O impacto ambiental e social de uma empresa é hoje um dos fatores para definir sua sobrevivência financeira e competitividade no mercado. Para atender a essa demanda que vem de consumidores e investidores, instituições de ensino têm apostado em MBAs com foco em ESG, conceito que engloba os aspectos ambiental, social e de governança de uma corporação.

Segundo Renata Brito, coordenadora do MBA ESG Management da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), as turmas são formadas por profissionais de áreas diversas, mas muitos vêm da indústria de energia, comunicação e consultorias. "Como as empresas estão um pouco assustadas e sem saber muito bem para onde ir, elas procuram consultores, que por sua vez vão atrás dessa formação."

É o caso da economista Agner Correa, 61, que migrou do mundo corporativo para a consultoria e se viu diante de termos que não dominava. Sócia da consultoria de negócios Go4!, ela participou da primeira turma do curso da PUC-Rio, em 2021, para atender melhor seus clientes. "Adquiri uma boa base para pesquisas e passei a filtrar melhor o que são conteúdos com consistência e o que são projetos que muitas vezes trazem apenas uma pegada mercadológica ou marqueteira."

Suellen Galvão, coordenadora do MBA em ESG da Universidade de Fortaleza (Unifor), avalia que iniciativas pouco fundamentadas podem surgir com a pressa das empresas em atender as expectativas do mercado sobre mudanças de comportamento nos negócios. "Desenvolver uma cultura em ESG não é apenas ter um projeto com começo, meio e fim. A sustentabilidade precisa ser incorporada ao planejamento estratégico."

Uma forma de consolidar práticas sustentáveis é ter métodos efetivos que registrem mecanismos e planejamentos criados, o que entra na parte de governança em ESG. "É preciso registrar o progresso, por isso existe uma demanda por relatórios mais transparentes e padronizados", afirma Cláudia Santiago, superintendente do núcleo de educação executiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em Campinas.

Assim como o curso da Unifor, o MBA em ESG Environmental, Social & Governance da FGV é recém-criado. A mesma ementa será oferecida no Rio de Janeiro e em Campinas, com as primeiras turmas previstas para novembro deste ano e março de 2024, respectivamente. "O lançamento do programa é uma resposta acadêmica ao crescente foco global em práticas e negócios sustentáveis", diz Cláudia.

Ela destaca como aspecto específico do MBA da FGV o engajamento para as mudanças climáticas por meio de conceitos como economia circular e logística reversa, em que o produto volta ao ciclo de produção depois de ter passado pelo consumidor com o objetivo de maximizar a reutilização de recursos.

Na Unifor, o diferencial é o módulo socioeconômico, que aborda finanças sustentáveis, responsabilidade social e a relação com o terceiro setor.

Na avaliação de Marcio Sanches, coordenador da Universidade Corporativa Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior, o ESG extrapola as grandes corporações e passa a ser buscado também em empresas menores e em instituições sem fins lucrativos.

"É um movimento que envolve as cadeias de fornecimento como um todo e, assim como a transformação digital, sustentabilidade é um conceito universal que todo mundo precisa acompanhar."

Também do ponto de vista social, Sanches defende que os cursos incluam estratégias de inclusão, antirracismo e diversidade porque cada vez mais a imagem das empresas depende do modo como lidam com os direitos de grupos minorizados.

Apesar da sigla ter se estabelecido em 2004, a partir de um documento do Banco Mundial, especialistas ainda consideram o ESG um tema novo. Na PUC-Rio, seminários com profissionais do mercado ocupam boa parte da grade para manter o programa e os alunos atualizados.

Unifor e FGV mencionam a Organização das Nações Unidas (ONU) como referência, principalmente a partir dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos para 2030. "Praticamente todos os anos há novas colocações, então estamos atentos às atualizações de normas, exigências, novos pactos e acordos internacionais firmados", diz Suellen, da Unifor.

*Por Beatriz Gatti (Folhapress)