Crise ambiental no Brasil: queimadas e qualidade do ar em alerta

O que está acontecendo com o meio ambiente? Veja os principais impactos

Por Mayariane Castro e Adryel Oliveira

O Brasil queima. Efeitos climáticos afetam a saúde da população e até a economia

As nuvens de fumaça que encobriram parte do território brasileiro na última semana acenderam um alerta para autoridades e população com relação aos cuidados com o sistema respiratório e a qualidade do ar. O Distrito Federal figurou entre os locais com pior qualidade do ar no mundo, atingindo o quinto lugar no ranking mundial entre o último domingo (25) e a segunda-feira (26). Para completar o cenário, Brasília, no último domingo, chegou ao primeiro lugar nacional de pior qualidade do ar, com uma quantidade de dióxido de carbono três vezes maior do que o considerado normal pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo especialistas, a população mais afetada pelas queimadas que atingiram o Distrito Federal nesta última semana são populações periféricas. O professor Adolfo Fuica, representante do Santuário Ecológico Beija Flor, geógrafo e fundador do Foro de ONGs do DF, detalha que populações que moram em regiões de assentamento com pouco ou nenhum acesso a saneamento básico foram os mais atingidos pela nuvem de fumaça que cobriu a capital.

“Afeta toda uma relação de vida com a questão do próprio desenvolvimento econômico da área e se diminui a questão até de empregos e as habilidades de atividades diante das condições climáticas. Essas pessoas são afetadas no seu organismo, no dia a dia, como também vão acumulando isso na pele e no organismo. Os pulmões e aparelhos respiratórios filtrantes acabam recebendo uma quantidade muito grande de partículas articuladas e isso vai sendo alojado no corpo de uma forma nociva”.

Situação no DF

As notícias para o Distrito Federal não são boas. Normalmente, os meses de agosto e setembro são conhecidos entre os habitantes como os mais quentes do ano e com maior número de queimadas na região. Também é comum para moradores do DF o longo período de seca enfrentado anualmente com a mudança das estações e pelo bioma do local. Atualmente, o DF está há mais de 120 dias sem chuva e enfrenta uma das piores secas dos últimos 44 anos, conforme indicam estudos.

Para Adolfo, a tendência para o DF é de piora. “Nós temos uma quantidade de rios elevada na qual há o descarte de dejetos. Resíduos domésticos e esgoto, o que é nocivo para o meio ambiente. Além disso, houve um aumento de obras considerável que diminuiu em alguns locais a área verde disponível. Então, nós estamos impermeabilizando todo o solo e o pouco que resta nas áreas de preservação se queima todo ano”.

Ele completa e diz que várias instituições, com os vários sistemas que existem, governamentais e da sociedade civil, têm capacidade de regenerar o cerrado com políticas públicas. “Nós temos que assumir e criar um plano de proteção ambiental, como plantar dois, três milhões de árvores por ano no DF, fazer registro de todas as nascentes um pedido de proteção delas. Criar, a média e longo prazos, uma legislação que proíba o descarte de dejetos de certas áreas, dos assentamentos in natura nos nossos córregos. Desta forma, conseguimos minimizar os impactos

O especialista Nelsão Ambiental, dos Guardiões do Meio-Ambiente, explica que as queimadas podem causar um efeito dominó. Ele conta que, a longo prazo, o impacto das queimadas pode chegar à área da saúde por conta das doenças respiratórias que podem se desenvolver pela baixa qualidade do ar e pela alta inalação de gases tóxicos e fuligem no ar.

Queimadas no Brasil

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam um cenário preocupante para a realidade brasileira. O Brasil é o país com mais focos de incêndio em 2024 na América do Sul, somando 115.944 focos até 28 de agosto (quarta-feira), seguido por Venezuela (38.784 focos) e Bolívia (37.848 focos).

Mato Grosso detém, até o momento, o posto de estado brasileiro mais atingido pelas queimadas, somando quase 16 mil focos de incêndio em todo ano de 2024. O estado é seguido pelo Pará (16.364 focos) e Amazonas (13.615 focos). Já o município com mais queimadas é Corumbá, localizado no Mato Grosso do Sul e somando 4.268 focos de queimada no ano.

Os biomas mais atingidos são a Amazônia e o Cerrado, com a Amazônia sendo atingida por 48,3% dos focos de incêndio registrados pelo Inpe e o Cerrado por 31,6%. A Mata Atlântica está em terceiro lugar com 11.084 focos (9,6%). O Pantanal, apesar do grave problema com as queimadas, figura em quarto lugar no ranking com 8.726 focos de incêndio registrados pelo instituto. Caatinga e Pampa ocupam o quinto e o sexto lugar, respectivamente.

Na última semana, o bioma amazônico atingiu um novo recorde negativo de mais queimadas em 24 horas. Entre terça-feira (27) e quarta-feira (28), a Amazônia brasileira registrou 2.433 focos de calor. Este foi o período com o maior número de queimadas em 2024, com uma média superior a 100 focos por hora.