A advogada e influenciadora Deolane Bezerra foi presa na manhã desta quarta-feira (4) no Recife, em operação da Polícia Civil de Pernambuco contra uma organização criminosa que atua em jogos ilegais e lavagem de dinheiro.
A influenciadora conhecida como Dra. Deolane e a mãe dela, Solange Alves, foram detidas no bairro de Boa Viagem, zona sul do Recife. A casa da família em São Paulo também foi alvo de busca da polícia, que apreendeu itens como relógios e dinheiro, disse Dayanne Bezerra, irmã de Deolane.
A Polícia Civil de Pernambuco afirmou que a quadrilha é alvo da operação Integration, deflagrada nesta quarta, lavava dinheiro de jogos ilegais por meio de bets e outras empresas. As sedes de duas casas de apostas também foram alvo de busca e apreensão.
A defesa de Deolane afirmou que ainda não teve acesso aos autos e não sabe o teor da acusação contra ela, já que o processo corre em segredo de Justiça.
A influenciadora foi encaminhada na tarde de quarta à Colônia Penal Feminina do Recife, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco (Seap-PE).
"Por se tratar de um caso de repercussão, a unidade prisional tomou as medidas cabíveis de segurança a fim de resguardar a integridade física da pessoa privada de liberdade, mantendo-a em cela reservada", disse a pasta, em nota. No local, Deolane deve passar por audiência de custódia.
Nas redes sociais, Deolane publicou uma carta em que diz ser vítima de perseguição e injustiça.
"Estou passando aqui para tranquilizá-los e afirmar mais uma vez que estou sofrendo uma grande injustiça. É notório o preconceito e a perseguição contra minha pessoa e minha família, mas isso tudo servirá para provar mais uma vez para todos vocês que não pratico e nunca pratiquei 'crimes'", diz influenciadora.
Antes de ser encaminhada ao presídio, Deolane prestou depoimento no Depatri (Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais). Sua mãe também estava no local, mas passou mal e foi socorrida pelos bombeiros, que a levaram a um hospital particular da cidade. No início da tarde, Solange voltou à delegacia e depois foi encaminhada junto à filha ao presídio.
Investigação
A investigação, segundo a Polícia Civil, foi iniciada em abril de 2023, para identificar e desarticular organização criminosa voltada à prática de jogos ilegais e lavagem de dinheiro.
Conforme o inquérito, a quadrilha usava várias empresas de eventos, publicidade, casas de câmbio, seguros e outras para lavagem de dinheiro feita por meio de depósitos e transações bancárias.
A operação cumpriu 19 mandados de prisão e 24 de busca de apreensão domiciliares, sequestro de bens, como carros de luxo, imóveis, aeronaves e embarcações e valores.
A polícia também conseguiu o bloqueio de ativos financeiros no valor de R$ 2,1 bilhões, retenção de passaporte, suspensão de porte de arma de fogo e cancelamento do registro de arma de fogo. Os mandados foram expedidos pelo Juízo da 12ª Vara Criminal da Comarca de Recife.
Além da capital pernambucana, os mandados foram cumpridos em Campina Grande (PB), Barueri (SP), Cascavel (PR), Curitiba (PR) e Goiânia (GO).
"Os jogos ilegais acontecem de várias formas. A ilegalidade dessa organização está lincada a esses jogos que não são autorizados legalmente. Eles operavam também bets. Mas o básico, o crime de origem, diz respeito a esses jogos que não são autorizados pela legislação brasileira. As bets eram utilizadas pela organização criminosa também, além de outras empresas, na lavagem do dinheiro ilícito oriundo desse ramo ilegal de jogos", explicou Renato Rocha, delegado geral da Polícia Civil de Pernambuco.
As casas de apostas cujas sedes foram alvo de operação são a Esporte da Sorte e a VaideBet. As duas empresas, assim como uma de propriedade de Deolane, estão entre as bets que tentam comprar a outorga do Ministério da Fazenda para atuar no mercado regulado de apostas. O investimento mínimo é de R$ 50 milhões.
Esportes da Sorte
A irmã de Deolane, que também é advogada, disse que a influenciadora e a mãe foram presas em um processo envolvendo a Esportes da Sorte.
Procurada, a casa de apostas afirmou que não teve acesso à decisão judicial, mas que tem prestado esclarecimentos no inquérito em curso desde março de 2023.
"A operação policial será impugnada perante o juízo competente, demonstrando-se que houve interpretação precipitada e equivocada dos fatos apurados, sem qualquer análise ou consideração dos argumentos já apresentados. Tanto é assim que a autoridade policial não apreendeu qualquer objeto, documento ou equipamento na sede da empresa", completou, em nota.
A Polícia Civil também cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Darwin Henrique da Silva Filho, CEO da Esporte da Sorte. A defesa do empresário disse que ele estava em compromisso profissional fora do estado no momento da operação.
Em Barueri, na Grande São Paulo, a Polícia Civil de São Paulo apreendeu um carro de luxo em um condomínio de alto padrão. Em Jundiaí, no interior paulista, uma aeronave foi recolhida pelos agentes.
VaideBet
A aeronave prefixo PR-TEN, apreendida em Jundiaí, está registrada em nome da empresa Balada Eventos e Produções, do cantor Gusttavo Lima. Ela, porém, é operada pela J.M.J Participações, holding que tem como sócio-proprietário José André da Rocha Neto, um dos responsáveis pela VaideBet.
A empresa do cantor, por meio do advogado, afirmou que a aeronave foi vendida para a J.M.J por meio contrato de compra e venda, devidamente registrado junto às autoridades.
"Portanto, a empresa J.M.J é a proprietária e está registrada como operadora até o deferimento do processo de transferência pelo órgão", afirmou o advogado. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e a holding confirmaram a informação.
Em relação à operação da Polícia Civil, a VaideBet afirma que está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos.
"A marca, no entanto, ressalta que recebeu com surpresa o cumprimento do mandado de busca e apreensão realizado nesta quarta-feira, uma vez que desde o ano passado se prontificou em contribuir com as investigações, tendo previamente indicado os endereços e contatos pertinentes", disse, em nota.
A empresa também disse que em agosto o Grupo BPX , dono da VaideBet, deu entrada no requerimento de licença junto ao governo federal para obtenção de outorga para atuação regularizada no Brasil a partir do início do próximo ano.
Informações de Francisco Lima Neto, Paulo Eduardo Dias, Artur Búrigo e Valentine Herold (Folhapress)