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Dores e doenças na coluna afetam maior parte da população

Casos de dores na coluna são maiores em mulheres pela baixa estatura, massa muscular e articulações mais frágeis | Foto: Danik Prihodko/ Divulgação

As dores e problemas de coluna afetam ou vão afetar 80% da população mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde. Um indicativo disso, no Brasil, é que a hérnia de disco foi a primeira no ranking de doenças que afastou profissionais de sua função, em 2023 de acordo com dados do Ministério da Previdência Social. O grupo mais atingido por essas patologias e dores são as mulheres e tem diversos fatores que levam a isso. O neurocirurgião e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Orlando Maia, relata que muitas pacientes o procuram com esse problema de coluna, e as principais causas são as mudanças hormonais, sedentarismo, estilo de vida que pode ser corrido e a mulher fica mais sobrecarregada, além da própria estrutura física que é mais frágil.

Segundo especialistas, geralmente, mulheres apresentam uma menor estatura, menor massa muscular e óssea, articulações mais frágeis e menor adaptação ao esforço físico intenso, fatores que podem contribui para um número maior de casos de dores na coluna. Além disso, o uso de saltos, carregar objetos muito pesados, a jornada dupla de trabalho - trabalhar fora e ainda ter os afazeres domésticos - falta de exercícios físicos são outros agravantes apontados por médicos. "Claro que esses problemas podem afetar pessoas de qualquer gênero, porém costumo receber mais mulheres com essas questões, em meu consultório. O importante é o diagnóstico pois, em casos graves, as patologias impedem as pacientes de fazer tarefas cotidianas e podem ser necessárias cirurgias de correção", explica Orlando Maia.

Doenças mais
comuns e sintomas

As doenças recorrentes e caracterizadas por curvaturas anormais na coluna são: a lordose que, quando é mais crítica é chamada de hiperlordose; cifose e escoliose, a diferença entre elas são os sintomas e as curvaturas. Na lordose, a curva está nas áreas lombar e cervical da coluna, dando aquela aparência de cabeça para frente e parte do quadril projetado para trás. Já a escoliose é considerada um desvio patológico da coluna para os lados (direito ou esquerdo). E a cifose são os desvios de coluna no qual ombros, pescoço e cabeça são projetados para frente, provocando um arredondamento acentuado das costas, popularmente chamado de "corcunda". "A lordose e a cifose podem apresentar sintomas como: dor lombar, fraqueza e dor nas costas, já a escoliose pode não causar dores, mas ela pode se tornar aparente quando se realiza o teste de Adams", esclarece Maia, que também é membro da Câmara Técnica de Neurocirurgia do Rio de Janeiro.

Como a escoliose é mais comum em crianças e adolescentes, principalmente em meninas, o teste de Adams, é um exercício que ajuda a identificar o problema, pois é pedido que a criança ou adolescente curve o tronco para frente com os pés e mãos unidos, sem dobrar os joelhos, se existir a escoliose, um dos ombros fica mais elevado.

Tratamentos

Para a escoliose, primeiro é indicado o tratamento conservador, com fisioterapia, coletes e exercícios, mas se a curvatura passa dos 45 graus, a cirurgia é recomendada. "A curvatura pode comprimir a região onde ficam os pulmões e o coração. Nos casos em que a angulação da escoliose é muito grande, ou seja, mais de 50 graus, pode acontecer uma compressão desses órgãos, comprometendo a capacidade pulmonar", explica o pneumologista Renato Calil.

Nos casos de cifose, o tratamento cirúrgico está indicado quando a deformidade atinge valores superiores a 75 graus. E na lordose na região cervical pode variar de 20º a 40º graus, já na região lombar pode variar entre 40º e 60º graus, o que são valores ainda considerados normais, porém quando se agrava pode causar desequilíbrio, cansaço na musculatura do tronco, o que leva à dor nas costas e também eleva os riscos de queda.

Outras complicações comuns

A lombalgia também é uma inflamação muito comum na lombar. Um estudo publicado, recentemente, na revista The Lancet Rheumatology registrou que mais de 600 milhões de pessoas sofriam com a lombalgia, no mundo, em 2020. O problema, geralmente, é postural, causado por maus hábitos, como má posição para sentar, para se deitar, para se abaixar no chão ou para carregar algum objeto pesado, assim como passar muito tempo sentado e sem fortalecer a musculatura da região. Comum em mulheres grávidas por causa do peso da barriga.

A hérnia de disco também é um dos principais problemas de coluna, costuma atingir atletas e pessoas que fazem exercícios de alto impacto. Algumas das razões para o surgimento da hérnia são o sedentarismo, hábitos de vida não saudáveis e carregar muito peso de forma a exigir constantemente da coluna. Segundo o neurocirurgião, a doença pode comprometer a medula. A compressão da região pode gerar dificuldade de marcha, fraqueza de um dos braços ou de algum membro inferior. Então, nesses casos, é preciso intervir rapidamente. "Atualmente existem diversos tipos de tratamentos: desde medicamentos até procedimentos minimamente invasivos e cirurgia. Uma opção muito utilizada em crises com menor risco, é a técnica da infiltração, que é a injeção de medicamentos em pontos específicos da coluna para alívio da dor e lubrificação para diminuição do atrito das vértebras. O paciente normalmente tem alta no mesmo dia e pode voltar às atividades em 24 horas", destaca o especialista Orlando Maia. "Há, ainda, opções de procedimento minimamente invasivo para bloqueio neural nos pontos de dor, que serve tanto para hérnia quanto para lombalgia, e até para pacientes com fibromialgia acometidos na coluna, por exemplo", acrescenta o médico.

O neurocirurgião explica que, em casos que o tratamento conservador não funciona, existe a opção da microcirurgia, feita com o auxílio de microcâmeras, introduzidas por pequenos tubos e guiadas por um microscópio cirúrgico. O objetivo do procedimento é remover a hérnia e corrigir o local, para que a região se regenere. "É um procedimento simples e seguro que pode trazer grande alívio para a dor de alguns pacientes, principalmente aqueles que apresentam dor lombar intensa", completa Maia.

Como se prevenir

Algumas orientações de especialistas para evitar dores de coluna são: usar uma cadeira que apoie as costas e simultaneamente os pés no chão, o ângulo das pernas e do chão tem que estar em 90º. A tela do computador não pode ficar abaixo da linha dos olhos e os antebraços devem apoiar na mesa. Dormir na posição correta, de lado e com um travesseiro entre os joelhos, para diminuir a tensão muscular da lombar e quadris. Mas se optar por dormir de barriga para cima, é importante que o travesseiro não seja nem tão alto, para não dobrar a cervical, e nem tão baixo que gere tensão e dor na região. Outra dica, é não usar um colchão tão mole, e nem tão duro a ponto de pressionar pontos da coluna.

"Fortalecer a coluna com a prática da musculação e exercícios orientados por um profissional, melhorar a alimentação, ter qualidade de sono, e investigar a causa da dor no começo são as melhores formas de prevenir que as doenças se agravem, e as dores na coluna", ensina o neurocirurgião. "Mas se o paciente sente alguma dor que chega a paralisar o corpo ou dores fortes que não passam, é preciso procurar um especialista para o diagnóstico correto", conclui Maia.