Por: Karoline Cavalcante

Risco de explosão e contaminação na Imprensa Nacional

Risco de tragédia vaza na Imprensa Nacional e pode atingir os arredores do Setor de Indústria Gráfica | Foto: Governo federal

A sede da Imprensa Nacional, localizada no Setor de Indústria Gráfica (SIG), está sob o risco de explosão na subestação de energia — que é uma instalação elétrica de alta potência — por vazamento de óleo de um dos transformadores antigos. A informação exclusiva foi divulgada pela coluna Magnavita.

O Correio da Manhã apurou que a explosão não é o único risco grave provocado pela subestação. Há também o risco de grave acidente ambiental.

Devido à idade do equipamento, suspeita-se que o óleo ascarel tenha sido utilizado como fluido de isolamento em um dos transformadores da área. Este transformador antigo, que apresenta vazamento de óleo, coloca em risco a segurança da própria Imprensa Nacional como também de tudo o que há nos seus arredores, que abriga importantes jornais, escolas, academias, restaurantes, órgãos públicos e outras empresas.

Com a suspensão da impressão do Diário Oficial, a instituição viu sua atividade principal desaparecer, transformando-se em um extenso depósito de máquinas impressoras que hoje não mais operam. Atualmente, a Imprensa Nacional opera com sua produção gráfica em grande parte paralisada, consumindo apenas 1/5 da energia contratada.

O grande número anterior de máquinas rotativas e outros tipos de impressoras obrigava a instalação de uma quantidade grande de transformadores devido à grande energia ali consumida. São na maioria transformadores antigos, a óleo, com grande necessidade de manutenção.

Sem solução ainda

Embora a substituição do transformador vazando esteja planejada, o processo licitatório ainda não foi iniciado, o que dificulta a resolução da situação de forma emergencial. Além do risco de explosão, há ainda o risco ambiental e à saúde humana com o vazamento e a vaporização de fluidos hidráulicos contendo ascarel.

Diante da gravidade da situação, o Correio da Manhã tentou contato com a Imprensa Nacional, mas não obteve retorno. Também procurou, sem sucesso, a Controladoria Geral da União (CGU), que é vizinha da Imprensa Nacional, e seria mais suscetível a danos em caso de explosão ou vazamento com risco ambiental.

Ascarel

O ascarel é o nome comercial dado no Brasil a um óleo que resulta da combinação de bifenilas policloradas (PCBs) com hidrocarbonetos provenientes do petróleo. Essa substância é amplamente utilizada como fluido isolante em equipamentos elétricos, como transformadores e capacitores. Contudo, devido à sua toxicidade e aos riscos que representa para a saúde humana, a Portaria Interministerial nº 19/81 proíbe em todo o país a implementação de processos voltados para a produção dessas substâncias.

O doutor em Química e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Jorge Menezes, alertou para os danos que a má utilização do fluido pode causar para a saúde humana.

“O vazamento e a vaporização de fluidos hidráulicos contendo ascarel de equipamentos dielétricos representa riscos à saúde humana e ao meio ambiente. A contaminação ocorre devido ao manuseio e armazenamento inadequados. Isso pode gerar danos à saúde humana, tendo em vista que o ascarel é cancerígeno.” alertou Menezes

“Nesse sentido, pode afetar principalmente o baço, o fígado e os rins, bem como gerar danos irreversíveis ao sistema nervoso central. Outras enfermidades causadas pelas bifenilas policloradas são lesões dermatológicas acentuadas, alterações morfológicas nos dentes, alterações psíquicas e efeitos teratogênicos”, finalizou o professor.

O ambientalista Thiago Ávila, destacou a necessidade de ações urgentes para mitigar os danos. “É necessária uma ação de prioridade e urgência. Os efeitos quando esses componentes infiltram no solo e atingem um lençol freático são severos ao bioma. É necessário, além de resolver essa crise atual, contendo o vazamento e recuperando o dano ambiental causado, investir também em prevenção, evitando que mais situações assim aconteçam”, disse Ávila.

O geógrafo e professor associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Marcos Pedlowski, também menciona o impacto na fauna, pois os compostos não são biodegradáveis.

“O Ascarel ou PCB (Bifenilos Policlorados) combina persistência com bioacumulação. Ou seja, fica muito tempo no ambiente e isso leva à bioacumulação e biomagnificação ao longo da cadeia alimentar, afetando peixes, aves e mamíferos”, explicou Pedlowski.