A saúde bucal e os riscos da estética facial
Especialista alerta sobre excessos e fraudes que vêm sendo cada vez mais comuns
Em meio ao crescente aumento da procura por tratamentos não invasivos, como harmonização facial e preenchimentos, muitos pacientes têm sido arrastados para tratamentos perigosos, arriscados e muitas vezes feitos por profissionais que não têm qualificação. Dados recentes da Sociedade Brasileira de Dermatologia mostram um crescimento de 390% na busca por intervenções estéticas no Brasil. Essa busca está impulsionada por tendências de beleza, mas pode trazer consequências indesejadas.
O Brasil é o segundo país do mundo em número de procedimentos estéticos, atrás apenas dos Estados Unidos. O dentista Arthur Silveira, membro do Instituto Ária de formação odontológica, destaca a necessidade de cautela na realização de procedimentos estéticos faciais. “O excesso de intervenções, sem um acompanhamento adequado, pode gerar problemas sérios, incluindo infecções e danos permanentes à saúde”, alerta o especialista.
Padrões de qualidade
Silveira, que é especialista em prótese, na área de reabilitação e estética, explica que a popularidade das técnicas pode levar a um aumento no número de clínicas que não seguem padrões de qualidade. Isso resulta em situações que podem comprometer a saúde dos pacientes.
Entre os procedimentos mais comuns, estão a aplicação de toxina botulínica e preenchimentos faciais. Silveira enfatiza que, embora esses tratamentos possam melhorar a estética, é crucial que sejam realizados por profissionais qualificados e em ambientes seguros. O uso inadequado de substâncias pode ocasionar complicações, como a migração do produto aplicado para áreas indesejadas. Isso não apenas afeta a aparência, mas também pode impactar a função bucal.
Porta de entrada
O dentista observa que muitos pacientes buscam procedimentos para corrigir problemas estéticos, mas não percebem que a saúde bucal deve ser uma prioridade. “A boca é uma porta de entrada para o corpo. Se não cuidarmos dela, poderemos enfrentar problemas maiores, como doenças sistêmicas”, explica. Ele reforça que a harmonização facial deve ser acompanhada por uma avaliação odontológica, garantindo que a saúde bucal esteja em dia antes de qualquer procedimento.
A Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) revelou que entre 2016 e 2020 houve um crescimento de 24,1% no uso de procedimentos não cirúrgicos no Brasil. A aplicação de botox e preenchedores se destaca na lista de preferências dos brasileiros. Essa tendência é preocupante, especialmente quando não são seguidos critérios rigorosos de segurança. Silveira alerta que é fundamental que os pacientes se informem sobre as clínicas e os profissionais que irão realizar os procedimentos, evitando escolhas apenas baseadas em preços baixos.
A crescente demanda por intervenções estéticas deve ser acompanhada por uma abordagem responsável e informada. O especialista enfatiza que a saúde bucal deve ser integrada ao cuidado com a estética facial. “Antes de qualquer procedimento estético, uma avaliação odontológica é fundamental. Cuidar da boca é cuidar do corpo como um todo”, conclui.
Os dados apresentados nas pesquisas evidenciam que, apesar do desejo por uma aparência aprimorada, a saúde deve sempre ser a prioridade. O crescimento do número de procedimentos estéticos no Brasil indica uma mudança de comportamento na sociedade, mas é vital que essa mudança venha acompanhada de informações e cuidados adequados. Os pacientes devem ser orientados a buscar profissionais qualificados e a valorizar a saúde em primeiro lugar, evitando armadilhas que possam prejudicar seu bem-estar.
Prejuízos no setor
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) relatam um aumento nas tentativas de fraudes envolvendo reembolsos para procedimentos estéticos. Embora esses tratamentos não tenham cobertura obrigatória, as entidades alertam que algumas clínicas têm sugerido reembolsos fraudulentos para encobrir custos.
De acordo com um levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, os prejuízos ao setor podem chegar a R$ 34 bilhões devido a procedimentos considerados desnecessários.