Por: Yan Vittor Souza

Entenda a doença que levou à morte do ex-boxeador Maguila

Como boxeador profissional, Maguila competiu entre 1983 e 2000 | Foto: adilsonmaguilarodrigues/Instagram

José Adilson Rodrigues dos Santos, mais conhecido como Maguila, foi um boxeador profissional que competiu entre 1983 e 2000. Em razão das pancadas na cabeça que sofreu ao longo dos 17 anos de carreira, ele desenvolveu a demência pugilística, o que levou o Brasil a se despedir de um de seus maiores boxeadores da história em 24 de outubro de 2024, aos 66 anos.

A fim de compreender melhor a doença que afetou Maguila e tantos outros pugilistas, o Correio da Manhã entrevistou o neurologista do Hospital de Base de Brasília (HBDF), Maciel Pontes, para esclarecer os aspectos médicos e preventivos relacionados à condição.

O que é a demência pugilística

A encefalopatia traumática crônica (ETC), como é nomeada pela medicina, se deve ao dano neurológico que acontece no cérebro decorrentes de anos de impacto repetidos no crânio. Esses impactos acumulados acabam por danificar o tecido cerebral, causando uma série de sintomas neurológicos e cognitivos com o passar do tempo. A intensidade, a frequência e a duração da carreira no boxe influenciam diretamente o risco de desenvolvimento da doença.

O médico explica o que diferencia a demência pugilística de outros tipos de demência: “Ao contrário do Alzheimer, que envolve o acúmulo de placas beta-amiloides e emaranhados neurofibrilares, a ETC está mais associada a danos físicos diretos e pode apresentar maior incidência de alterações comportamentais, como agressividade e impulsividade”.

Sinais e sintomas

O doutor relata ainda alguns sinais a respeito da doença: “Sinais precoces de demência em pugilistas podem incluir mudanças de comportamento, como irritabilidade, impulsividade e perda de controle emocional, além de dificuldades de concentração e perda de memória recente. Esses sintomas podem surgir ainda durante a carreira do atleta, especialmente se houver histórico de várias concussões.”

Exames e monitoramento

Exames de imagem e monitoramento constante da saúde cerebral são fundamentais para o acompanhamento dos pugilistas ao longo de suas carreiras. Segundo o neurologista, exames como a ressonância magnética funcional (fMRI) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET) são eficazes para identificar alterações estruturais e metabólicas no cérebro. Além disso, testes neuropsicológicos periódicos podem ajudar a detectar mudanças cognitivas e comportamentais. Biomarcadores específicos do líquido cefalorraquidiano — fluido corporal que circula pelo sistema nervoso central — e exames de sangue também podem ser utilizados para complementar o monitoramento.

Prevenção e proteção

Sobre a prevenção da doença e medidas cautelares que podem ajudar a minimizar o risco de demência pugilística, o doutor ressalta a importância do uso de capacetes acolchoados durante treinos, bem como melhorias nos regulamentos para reduzir o número de golpes na cabeça. Períodos de descanso obrigatórios entre lutas e a educação sobre os riscos do boxe também são recomendados. No entanto, a proteção oferecida pelos capacetes durante as lutas é limitada devido à natureza do esporte.

Outros casos

Além de Maguila, outros atletas também enfrentam a doença, com casos famosos como os de Éder Jofre e Muhammad Ali. O também Brasileiro e ex-boxeador Éder Jofre, considerado o “Pelé do boxe”, faleceu no ano de 2022 em virtude da Encefalopatia Traumática Crônica. Outro caso conhecido é o de Muhammad Ali, falecido em 2016, vítima da mesma causa que assombra os pugilistas.