Por Fernando Molica, Rafael Lima e Gabriela Gallo
Suspeito, até o fechamento desta edição, de ter sido o autor dos atentados no início da noite de quarta-feira (13) na Praça dos Três Poderes, Francisco Wanderley Luiz, o Tiú França, havia postado em seu Facebook foto em que aparece no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 24 de agosto.
Na legenda, escreveu: "Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro) ou não sabem o tamanho das presas ou é burrice mesmo. Provérbios 16:18 (A soberba precede a queda)".
O provérbio citado na Bíblia é: "Antes da ruína há o orgulho; antes do escorregão, a arrogância".
Candidato derrotado a vereador pelo PL de Rio do Sul (SC) em 2002, França reproduziu, em seu perfil, diversas mensagens que parecem ter sido retiradas de sua conta do WhatsApp.
Em diversas delas, trata de ameaças de explosões, fala em bomba em casa dos "comunistas de merda" William Bonner, José Sarney, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso.
Às 21h55 de quarta-feira, o Facebook indicava que as mensagens haviam sido postadas havia duas horas.
Ao usar dois pontos para indicar capítulo e versículo, Wanderley Luiz indicou ter consultado uma edição evangélica da Bíblia. As edições católicas usam vírgula para a separação.
Explosões
Por volta das 19h30 de quarta-feira, duas explosões, em um intervalo de 20 segundos, ocorreram na Praça dos Três Poderes, coração da política, na capital federal. Uma delas, em frente ao Supremo Tribunal Federal e um corpo foi encontrado próximo ao local. Além disso, um veículo explodiu no estacionamento que fica entre o STF e o Anexo IV da Câmara dos Deputados. No porta-malas do carro, com placa de Rio do Sul (SC) e de propriedade de Francisco Wanderley Luiz, havia fogos de artifício e tijolos.
Informações iniciais apontam que o envolvido na explosão passou primeiro pela Câmara dos Deputados e explodiu próximo ao Supremo, pq não conseguiu de fato entrar no prédio oficial da Suprema Corte.
Imediatamente após as explosões, o esquadrão antibombas chegou ao local para a realização de uma varredura para identificação de outras possíveis bombas nas proximidades.
Diante da situação, a Polícia Federal (PF) abriu inquérito para apurar as explosões, que deverá ser enviado ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes. Em 2022, o magistrado foi o relator de uma tentativa de explosão no aeroporto de Brasília.
Segundo informações, há duas linhas de investigações. Uma que foi a mesma pessoa que deixou o veículo e foi até o Supremo, e outra em que uma segunda pessoa possa ter envolvimento nas explosões.
Três Poderes
No mesmo momento em que as bombas explodiram, estavam ocorrendo sessões nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado, que foram suspensas após os fatos. A sessão do STF já havia terminado, e diante do perigo, ministros e servidores foram retirados em segurança do local.
Por volta das 22h30, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) divulgou uma nota à imprensa reiterando que a explosão "deve ser apurada com a urgência necessária para esclarecimento de todas as suas causas e circunstâncias".
"Reafirmo, veementemente, meu total repúdio a qualquer ato de violência", reiterou Lira.
O presidente da Casa ainda suspendeu as atividades parlamentares do dia 14 de novembro, por medidas de segurança.
"[Decido] determinar que os setores responsáveis realizem, com a máxima urgência, uma avaliação completa dos danos causados e implementem medidas para restabelecer a segurança e a funcionalidade das instalações. [E] Encaminhar o ocorrido para investigação detalhada pela Polícia Legislativa, a fim de apurar as circunstâncias e responsabilidades envolvidas nos eventos de 13 de novembro de 2024", publicou Lira, em decisão oficial da presidência.
Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse à imprensa que o momento é de precaução.
O presidente Lula não estava no Palácio do Planalto, local bem próximo das explosões e que teve a segurança reforçada.
A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), se dirigiu ao local onde ocorreu a explosão e conversou brevemente com a imprensa local. Segundo a ela, os primeiros indícios apontam que o homem morto em frente ao STF é o próprio Francisco Wanderley Luiz, o que não foi confirmado.
Antes da explosão em frente ao STF, o homem tentou entrar no prédio. Ele jogou um explosivo embaixo da marquise do edifício, mostrou que tinha artefatos presos ao corpo a um vigilante, deitou-se no chão e acionou um segundo explosivo na nuca.
Celina destacou que, à medida que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) for divulgando mais informações sobre o caso, a imprensa será informada.
Familiares
Divulgada pela Agência Brasil, familiares de Tiu França confirmaram que o filho dele recebeu uma ligação sobre um acidente sofrido pelo pai em Brasília. A família reconheceu o carro pelas imagens da televisão.
Em entrevista à CCN Brasil, o deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC) disse que Wanderley Luiz era um amigo pessoal do parlamentar.