Tecnologia em mercados ainda aquém do esperado
Carrinho de compras 'inteligente' patina em alguns estabelecimentos
A experiência de fazer compras no supermercado sem enfrentar filas tem potencial de trazer eficiência dos lojistas e conveniência para os consumidores. No mundo, o mercado para esses equipamentos atingiu US$ 1,82 bilhão em 2023 e pode saltar para US$ 5,67 bilhões até 2028, segundo estudo da Research And Markets, uma das principais fontes de relatórios de pesquisa de mercado e dados de mercado internacional.
No Brasil, a tecnologia foi introduzida em 2022, em Campinas, e mais recentemente chegou a Ribeirão Preto, em São Paulo, além de Florianópolis e Chapecó, em Santa Catarina.
A adoção por grandes redes, que planejam expandir a tecnologia para as capitais, pode ajudar a superar desafios como a cautela dos lojistas em relação à viabilidade do sistema e a resistência inicial dos consumidores em aceitar a inovação.
Na loja do Bistek em Florianópolis, os Smart Carts, que permitem o pagamento direto no carrinho, estão em operação há um mês, mas ainda passam boa parte do tempo à espera de clientes.
Apesar disso, aqueles que testaram a tecnologia aprovaram sua utilização, com uma taxa de satisfação de 97%, segundo dados coletados pela Nextop, desenvolvedora da tecnologia no país.
"As pessoas avaliam positivamente o fato de poderem acompanhar quanto estão gastando enquanto fazem compras, além de não enfrentarem filas", diz Juliano Camargo, CEO da Nextop.
Já as avaliações negativas, segundo Camargo, estão mais relacionadas a dificuldades de uso que podem ser melhoradas, como a limitação a um número reduzido de itens e restrições para o deslocamento com carrinhos fora das lojas até o estacionamento, entre outros.
"Os carrinhos são equipados com câmeras nas laterais e a nossa orientação é que estas câmeras não sejam encobertas, mas isso não implica que seja necessário um número tão pequeno de itens", diz Camargo. O equipamento tem três etapas de verificação das compras, além das câmeras, pelo código de barras e a balança.
Tatiana Mendonça, diretora de tecnologia do Bistek, observa que a adesão aos carrinhos inteligentes é maior em determinados horários, especialmente nos finais de semana, quando muitos consumidores experimentam a tecnologia pela primeira vez. "Os clientes que costumam frequentar a loja nos horários de pico já consideram o carrinho inteligente uma opção mais rápida."
A rede ainda está em período inicial de implantação dos carrinhos inteligentes e monitorando como é seu uso na loja.
O comerciante José Roberto de Souza, que mora na região continental de Florianópolis, viu a novidade pela internet e percorreu mais de 15 quilômetros para experimentar o carrinho inteligente, mas não encontrou o equipamento na loja. "Eu procurei e não encontrei, só vi agora, depois das compras", disse, dizendo que voltará outro dia para experimentar.
Pioneirismo em São Paulo
O primeiro carrinho de compras inteligente da América Latina foi lançado pela rede Enxuto em 2022, em Campinas, com o objetivo de reduzir em até 30% o tempo de compras com filas no caixa. Em dois anos, a rede ampliou o número de carrinhos inteligentes e expandiu a tecnologia para outras lojas.
No Shopping Iguatemi de Ribeirão Preto, a tecnologia foi implantada no Savegnago Supermercados há menos de um ano e aos finais de semana, segundo o empreendimento, há filas para usar o carrinho inteligente.
Atualmente, a Nextop mantém pouco mais de 100 equipamentos em funcionamento no país e, segundo Camargo, a empresa tenta uma negociação com grandes redes para levar os carrinhos inteligentes para as grandes capitais. "Estamos fazendo testes com um grande player que pode introduzir 1.200 carrinhos no país. Ainda estamos na fase de negociação".
A Nextop é a única no Brasil a produzir a tecnologia. Foram seis anos de desenvolvimento do sistema, com um investimento de R$ 8 milhões. Desde o início, o projeto tinha como objetivo permitir a compra sem passar pelo caixa.
"Na época nós vimos que a experiência da Amazon [Just Walk Out], não funcionaria no Brasil, e iniciamos o projeto do carrinho. Toda a tecnologia foi desenvolvida aqui no Brasil a partir de um projeto próprio".
A própria Amazon implantou seu sistema de carrinhos inteligentes, Dash Carts, considerados mais seguros que o sistema anterior, criticado pela contratação de indianos para fazerem a conferência manual das compras.
A cautela dos lojistas, segundo Camargo, vai desde a expectativa de que a inovação se torne uma tendência no mercado até o receio da perda dos equipamentos, que custam cerca de R$ 50 com toda a tecnologia embarcada no carrinho de compras.
Por Fábio Bispo (Folhapress)