Por: Reynaldo Rodrigues

Brasil duplica usuários de PrEP em menos de dois anos

Campanha de saúde Dezembro Vermelho é voltada para consciêntização e prevenção de HIV | Foto: Imagem de Freepik

No último mês, o Brasil se destacou ao atingir a marca de 104 mil usuários de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicação que previne a infecção pelo HIV. Em 2022, o número era de 50,7 mil usuários. Este marco reforça o compromisso do governo brasileiro na resposta ao HIV e à Aids, garantindo que mais pessoas tenham acesso a estratégias de prevenção eficazes e seguras. Distribuída gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), a medicação é considerada pelo Ministério da Saúde uma das principais iniciativas para a eliminação da doença como problema de saúde pública até 2030.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) é uma estratégia consolidada mundialmente e apresenta evidências robustas de impacto na redução de novas infecções. Porém, é importante destacar que essa medida está associada a um conjunto de ações, denominado Prevenção Combinada, com o objetivo de potencializar seus benefícios. Essas ações incluem, principalmente, o uso de preservativos e gel lubrificante, a testagem regular para o HIV, o tratamento imediato de pessoas infectadas, a imunização contra hepatite B e HPV, o diagnóstico e tratamento de outras ISTs e o controle da transmissão vertical (transmissão de uma infecção de mãe para filho, por exemplo).

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Busca por PrEP aumentou 57% na rede pública e 43% na rede privada | Foto: Divulgação/ SES-DF

Acesso facilitado no DF

No Distrito Federal, o acompanhamento pode ser realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2021. Atualmente, o atendimento para a prescrição e a dispensação de PrEP está disponível no CEDIN (Centro Especializado em Doenças Infecciosas), na Policlínica de Taguatinga, na Policlínica de Ceilândia e no HUB (Hospital Universitário de Brasília). Durante muito tempo, falar sobre o assunto era um tabu, principalmente fora do âmbito da comunidade LGBTQIA+. No entanto, ao longo dos anos, cada vez mais usuários têm feito questão de mostrar que o ato de prevenir é também uma questão de saúde pública.

É o caso do gerente de projetos Everton Farias, que utiliza a medicação desde o ano de 2020. Segundo ele, o primeiro contato com o assunto foi em 2015, por meio de uma comunidade online que discutia questões sexuais. Interessado em prevenir-se e ter relações sexuais mais seguras, buscou na rede privada a oportunidade de iniciar o uso.

"Fui atrás da PrEP para me sentir mais seguro, mais confiante na hora das relações e também ficar mais à vontade para ter liberdade sexual. Em 2021, fiquei sabendo, por meio de uma nota técnica, que quem fazia acompanhamento particular também poderia pegar o remédio no SUS. Curiosamente, na mesma época, o Hospital Dia abriu vagas para acompanhamento gratuito, e desde então passei a usar o serviço", explicou Everton.

Além disso, a PrEP prescrita por médicos da rede privada pode ser retirada nas farmácias das seguintes unidades: Farmácia Escola do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Policlínicas de Taguatinga, Ceilândia, Gama, Planaltina e Lago Sul. Com a reorganização da rede de atenção à saúde, desde fevereiro deste ano, a prescrição e o acompanhamento das pessoas elegíveis à PrEP também estão disponíveis na Atenção Primária à Saúde (APS), podendo ser realizados por médicos, enfermeiros e farmacêuticos.

"Como faz parte do programa, você é obrigado a realizar um acompanhamento e fazer exames periódicos a cada três meses. Assim, me sinto mais seguro, e, quando tenho dúvidas, há sempre profissionais responsáveis para ajudar. Para mim, vale muito a pena", finalizou o gerente, que garante não sentir mais "peso na consciência" na hora de fazer testagens desde que começou o tratamento.

Informação é tudo

Segundo a médica infectologista do HDT (Hospital de Doenças Tropicais), Josela Palmeira Pacheco, o acesso à informação sobre o medicamento talvez seja o maior desafio, pois a maioria das pessoas desconhece o tema.

"Ampliar a informação sobre a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a testagem para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a sífilis, que pode causar complicações graves e até fatais, é essencial. Essas condições podem afetar órgãos vitais, como o coração e o sistema nervoso. O Hospital de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad, unidade do Governo de Goiás gerida pelo Instituto Sócrates Guanaes (ISG), é referência no tratamento de doenças infectocontagiosas e reforça a importância da prevenção e da testagem regular. O diagnóstico da sífilis é simples e pode ser feito por meio de exames de sangue ou testes rápidos. O tratamento é eficaz com o uso de antibióticos, especialmente importante para gestantes, a fim de evitar a transmissão ao bebê", explicou a médica.

Cobertura regional

A PrEP é indicada para qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade ao HIV. Algumas situações que podem indicar o uso incluem:

  • Não utilizar preservativos com frequência em relações sexuais (anais ou vaginais);
  • Fazer uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV);
  • Apresentar histórico de episódios de ISTs;
  • Participar de relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc.;
  • Praticar chemsex (uso de drogas psicoativas para facilitar ou melhorar experiências sexuais).

Ainda de acordo com a Secretaria de Saúde, o Distrito Federal está passando por uma expansão gradual, e a dispensação da PrEP na APS (Atenção Primária à Saúde) do DF já ocorre em várias Unidades Básicas de Saúde (UBS), como: UBS 1 do Guará, UBS 1 de Águas Claras, UBS 1 da Asa Norte, UBS 1 da Candangolândia, UBS 1 do Cruzeiro, UBS 1 da Estrutural, UBS 1 de Sobradinho, UBS 2 do Recanto das Emas, UBS 2 de Santa Maria, UBS 3 e 7 de Ceilândia, UBS 3 do Gama e UBS 9 de São Sebastião.

Com a participação dessas UBS, nos últimos 12 meses, foram registrados 1.657 novos usuários de PrEP. Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), o DF possui 4.921 pessoas que iniciaram o uso de PrEP desde 2018, sendo 57% da rede pública e 43% da rede privada. O objetivo do MS é, até 2027, aumentar em 142% o número de usuários de PrEP com foco naquelas pessoas sob maior risco de infecção ao HIV.