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Castro, Paes e entidades se manifestam sobre possível mudança no Santos Dumont

Por Rafael Lima

Após a informação, nesta quarta-feira (4) de que o Governo Federal estaria avaliando liberar mais voos para o aeroporto Santos Dumont, no Rio, em 2025, a pedido da Infraero, o governador do Rio, Cláudio Castro; o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes; e entidades do estado se manifestaram contrários a esta possível mudança. 

O assunto tomou as redes sociais, dividiu opiniões e o próprio Ministério de Portos e Aeroportos emitiu nota à imprensa. Lembrando que em janeiro deste ano, passou a valer a resolução que restringe o número de passageiros no terminal aéreo localizado no Centro do Rio. Atualmente, há um limite de 6,5 milhões de passageiros por ano no Santos Dumont.

O governador Cláudio Castro, após ter conhecimento da possível mudança, afirmou que "é importante a gente lembrar que essa foi uma briga de dois anos que o Governo do Estado, junto com a Prefeitura e o governo federal, travaram para a gente entender qual deveria ser o tamanho do Santos Dumont e do Galeão. Naquela época, o Galeão estava completamente sucateado e o Santos Dumont excessivamente lotado", ressaltou.

Castro continua: "Nós entendemos, junto com o estudo da Anac, que era importante que esses voos fossem para o Galeão para que nós pudéssemos fortalecer o equipamento, que é tão importante para o turismo e para o desenvolvimento econômico do Estado. E vem dando certo. Achamos positiva a questão do estudo, desde que a perspectiva seja de aumentar o número de turistas e não de tirar voos do Galeão e passar esses voos para o Santos Dumont. Ainda vamos analisar o estudo, mas de forma alguma vamos aceitar que se tire voos do Galeão e se coloque no Santos Dumont, a não ser na perspectiva de aumentarmos os voos dos dois aeroportos", finalizou.

Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes, através das redes sociais, afirmou que "o lobby dessa gente é um negócio inacreditável! Não acontecerá. Não bastasse o impacto no Galeão e na economia do Rio, as restrições ambientais e no trânsito da região já são motivos mais do que suficientes para normas Estaduais e municipais serem aplicadas impedindo esse aumento", publicou.

O chefe do Executivo carioca acrescentou ainda que conta com o apoio do presidente Lula para manter a resolução. "Sabemos que o presidente @LulaOficial tem enorme respeito pelos interesses do Rio!".

Fecomércio RJ

Em nota, a Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ) trouxe o "seu absoluto inconformismo diante da proposta de ampliar o número de usuários no aeroporto Santos Dumont, conforme apontado em entrevista do Secretário de Aviação Civil do Ministério de Portos e Aeroportos, Sr. Tomé de Souza. A rigor, a limitação de passageiros no SDU foi uma decisão conquistada pelo Rio de Janeiro em consequência de um longo e árduo processo de luta e mobilização dos setores público e privado da cidade e do estado. Além disso, tal decisão está alicerçada em fundamentos técnicos e legitimada pela ausculta dos próprios usuários, através de pesquisa realizada pelo IFEC (Instituto Fecomércio de Pesquisa), que indicou a conveniência da transferência de voos para o GIG. O aumento do fluxo aéreo doméstico e internacional para o RJ é uma realidade positiva, o que demonstra o acerto da medida, indicando o fortalecimento do hub aéreo no GIG. Qualquer mudança neste promissor rumo significa um inaceitável retrocesso. Essa iniciativa será fatal para a economia e o turismo do RJ. Por que e a quem interessa desvirtuar a política adotada? A Fecomércio RJ está ao lado das forças políticas e privadas para registrar sua repulsa e atuar contra qualquer mudança no limite de passageiros no SDU".

ACRJ e FIRJAN

A Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) e a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), por meio de seus presidentes, Josier Villar e Luiz Césio Caetano, respectivamente, também se manifestaram contrárias à possível mudança. 

"Mais uma vez, alguns representantes da aviação civil, inexplicavelmente, tentam esvaziar a exitosa operação de retomada de voos nacionais e internacionais para o Aeroporto do Galeão, propondo o retorno dos voos nacionais para o Santos Dumont e enfraquecendo o principal aeroporto da segunda maior economia do país.

Essa nova tentativa absurda de esvaziar o Galeão vai totalmente na contramão dos interesses do nosso estado e de todos os municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro, e parece ter um claro interesse de inviabilizar economicamente o Galeão favorecendo aeródromos de outros estados.

Não faz o menor sentido querer transferir voos nacionais para o já sobrecarregado Aeroporto Santos Dumont, que já opera no seu limite físico, com filas de espera monstruosas para seu estacionamento, sem falar nos aspectos de segurança já intensamente demonstrados.

O Galeão está retomando seu protagonismo como porta de entrada dos voos internacionais mediante o hub de conexões com outras cidades que a recente medida de limitar a 6.5 milhões o número de passageiros para o Santos Dumont permitiu retomar.

Desde a implementação da limitação de 6,5 milhões de passageiros anuais no Santos Dumont, o Galeão registrou um aumento significativo na movimentação de passageiros internacionais de janeiro a outubro de 2024, em relação ao mesmo período do ano anterior, onde foi observado crescimento de 31,2% no período. Além de um crescimento de 49,4% no transporte de cargas, no mesmo período. A recuperação da conectividade aérea internacional pelo Galeão, que concentra voos de longa distância e operações de grande porte, é um reflexo direto da reorientação do tráfego aéreo, consolidando o Rio de Janeiro como uma importante porta de entrada no Brasil.

É inaceitável para o turismo, para a captação da movimentação de cargas, para os cidadãos que aqui vivem e para negócios da cidade que agora as autoridades responsáveis federais pela aviação comercial brasileira queiram mais uma vez retroceder e contribuir para o esvaziamento econômico do nosso estado mesmo depois da posição pública e clara do presidente da República, do governador do Estado e do prefeito do Rio de Janeiro no compromisso dessa retomada.

Ao contrário do que desejam, deveríamos estar criando políticas de incentivos de melhoria de logística de acesso para colocação de mais voos no Galeão, que possui ainda  muito espaço para crescer.

O trabalho de lobby pelo esvaziamento que tornaria insustentável economicamente o Galeão torna-se um vergonhoso desrespeito com a população carioca e com a economia fluminense.

Em defesa de um Rio de Janeiro atrativo para se viver, trabalhar, empreender, investir e visitar é fundamental um aeroporto internacional pujante e moderno.

O Rio de Janeiro não aceita o esvaziamento do seu icônico Galeão eternizado na música de Tom Jobim".

Governo Federal

Por volta das 15h30, o Ministério de Portos e Aeroportos emitiu uma nota de esclarecimento sobre o assunto em seu site. Confira a seguir:

"O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), por meio da Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC), esclarece que não há nenhuma alteração na portaria que trata sobre a limitação operacional de passageiros no aeroporto Santos Dumont, estabelecida em janeiro deste ano, após um amplo debate envolvendo a Prefeitura e o Governo do Estado do Rio de Janeiro, Infraero, Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Tribunal de Contas da União (TCU), companhias aéreas, concessionárias e este Ministério.

Adicionalmente, informamos que o MPor, atendendo à orientação do Tribunal de Contas da União, realizará, em 2025, uma avaliação após o término de um ano de restrição, para verificar a viabilidade de atender à solicitação da Infraero, que propõe uma pequena ampliação na movimentação de passageiros, sem comprometer a qualidade dos serviços no Aeroporto Santos Dumont. Em relação ao Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), o Ministério tem trabalhado desde o início para fortalecer as operações também neste terminal. Vale destacar que, desde a implementação da medida, a movimentação de turistas nos aeroportos do Rio de Janeiro cresceu 4,5%, enquanto a movimentação de cargas aumentou 25%.

Ressaltamos que, para o próximo ano, é necessário desenvolver uma visão estratégica para fortalecer ainda mais a aviação no estado do Rio de Janeiro, em colaboração com todos os atores envolvidos. Além disso, é importante avaliar a necessidade de a Infraero expandir suas fontes de receita".