Athos Bulcão está na fachada externa do Teatro Nacional. Está na parede ao fundo do Salão Verde da Câmara dos Deputados. E em diversas outras partes. Seus famosos azulejos e outras obras de arte são parte tão importante do cenário de Brasília quanto os prédios de Oscar Niemeyer e os jardins de Burle Marx.
Responsável pela preservação desse acervo, a Fundação Athos Bulcão completa, nesta quarta-feira (18), 32 anos. A instituição se configura como uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública distrital, qualificada como Organização da Sociedade Civil do Interesse Público, para preservar e divulgar a obra e vida do artista plástico.
Para promover cultura e as obras dos artistas, a fundação organiza uma curadoria em palestras, exposições, desenvolve pesquisas, projetos educacionais, turísticos, reúne documentos para conservá-los, dentre outras atividades.
O acervo da instituição tem mais de 700 obras entre pinturas, esculturas e os famosos azulejos.
Construção
Ao Correio da Manhã, a secretária executiva da fundação, Valéria Cabral, conta que Athos Bulcão chegou em Brasília no início para colaborar com a construção da cidade.
“Athos veio para Brasília, convidado pelo seu amigo Oscar Niemeyer, em 1958, para colaborar com a construção da cidade. Foi responsável por auxiliar na integração da arte na arquitetura de Brasília. Foi o único construtor que ficou aqui até a sua morte, em 2008. Sua importância está em nossos caminhos, nas escolas onde as crianças o estudam e desenvolvem um sentimento de pertencimento pela cidade, nos hospitais, nos parques e outros”.
Ela destaca o projeto “Descobrindo Athos”, que teve como foco oficinas e palestras em escolas públicas que foram abertas ao público. O projeto começou em 2023 e continuou em 2024.
“O projeto Descobrindo Athos Bulcão, realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), tem como objetivo oferecer uma programação diversificada, gratuita e aberta ao público com atividades em educação patrimonial, formação de plateia e arte-educação”.
Ministra
O Correio da Manhã ouviu também a ministra da Cultura, Margareth Menezes, que destacou a importância do legado deixado pelo artista, tanto para Brasília quanto para o país.
“Temos muito o que celebrar nestes 32 anos da Fundação Athos Bulcão. O legado deixado pelo Athos Bulcão, seja para a arquitetura e, consequentemente, para a construção cultural de Brasília, é de extrema relevância para o Brasil e o mundo. Brasília é um museu a céu aberto, e caminhar pela cidade é apreciar o Athos nos mínimos detalhes, com suas cores e formas. Todos os brasilienses e aqueles que adotaram nossa capital federal como morada devem se orgulhar da sua história. No Ministério da Cultura, reconhecemos e admiramos o legado deixado por ele para as atuais e futuras gerações”, disse a ministra, com exclusividade.
260 obras
São mais de 260 obras inseridas nos patrimônios do Distrito Federal. Presente em todos os cantos, o pintor, escultor e desenhista Athos Bulcão insere cor e movimento à capital do Brasil.
Os famosos azulejos podem ser encontrados nas paredes arquitetônicas do Aeroporto, no Parque da Cidade, na Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, na Câmara dos Deputados, no Cine Brasília, em hotéis, embaixadas, escolas e outros pontos.
Mas Athos não está somente em Brasília. No Rio de Janeiro, sua obra pode ser encontrada na Fundação Getúlio Vargas, no Sambódromo, no prédio que foi sede do Jornal do Brasil, entre outros pontos.
Em são Paulos, no Memorial América Latina em São Paulo. Há também obras em Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Vitória (ES), Sergipe (SE) e mais alguns outros lugares do Brasil. E fora do país. Como o painel de azulejos e forro com placas metálicasá na Sede do Partido Comunista Francês em Paris.
Destruição
O dia 8 de janeiro de 2023 ficou marcado pela invasão dos prédios dos três poderes. E a destruição também atingiu obras de Athos Bulcão. Como o painel de azulejos, de 1971, apelidado pelos frequentadores de Ventania, instalado no Jardim Interno do Salão Verde da Câmara dos Deputados. Ou o painel vermelho em madeira laqueada, de 1978, no Salão Nobre do Congresso Nacional.
Athos Bulcão
Athos Bulcão nasceu no Rio de Janeiro em 2 de julho de 1918 e passou sua infância em uma casa ampla em Teresópolis. Perdeu a mãe, Maria Antonieta da Fonseca Bulcão, de enfisema pulmonar antes dos cinco anos e foi criado com seu pai, Fortunato Bulcão, entusiasta da siderurgia, amigo e sócio de Monteiro Lobato.
Aos 21 anos, os amigos o apresentaram a Cândido Portinari, com quem trabalhou como assistente no Mural de São Francisco de Assis na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte (MG).
Athos faleceu após uma parada cardiorespiratória no dia 31 de julho de 2008, aos 90 anos, no Hospital Sarah Kubitschek.
"Artista eu era. Pioneiro eu fiz-me. Devo a Brasília esse sofrido privilégio. Realmente um privilégio: ser pioneiro. Dureza que gera espírito. Um prêmio moral" – Athos Bulcão