Empresa assume contratos com turmas de Medicina lesadas

Ao menos 145 fundos de formatura tiveram os valores desviados, totalizando R$ 22 milhões em prejuízo para as turmas do Estado do Rio e Minas Gerais

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Fachada da sede da empresa em Juiz de Fora-MG

Por Ana Luiza Rossi e Leandra Lima

O Grupo Vision, responsável por marcas como SIM! Formaturas, 3° Grau Formaturas, Vision Formaturas e Start Formaturas, anunciou nesta terça-feira (10) que assumiria a gestão financeira e administrativa dos contratos da empresa de formatura Phormar. A medida foi tomada em meio às investigações conduzidas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que apuram o suposto desvio de R$ 22 milhões de 145 fundos de formatura de colégios e faculdades, abrangendo cidades de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e Volta Redonda, Valença, Vassouras e Petrópolis, no Estado do Rio.

Em comunicado, o Grupo Vision afirmou que realizará uma auditoria completa na documentação e nas tratativas com fornecedores, clientes e colaboradores da Phormar. "Nosso objetivo é proporcionar tranquilidade e segurança a todos os formandos, familiares e fornecedores", destacou a nota. Nos próximos dias, a empresa pretende entrar em contato com cada comissão de formatura para alinhar detalhes operacionais e esclarecer dúvidas.

Reprodução/Google - Algumas turmas de Medicina estavam há poucos meses da tão sonhada festa de formatura e foram surpreendidos pelo golpe e prejuízo

Milhões desaparecidos

A Phormar está sob suspeita de manipular recursos destinados à organização de formaturas. Entre os relatos apurados pelas redações do Correio Sul Fluminense e Correio Petropolitano, a turma de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) denunciou que os extratos bancários fornecidos pela empresa foram falsificados. Segundo os estudantes, a conta bancária deveria conter R$ 175 mil, com um investimento adicional de R$ 220 mil. Entretanto, após obterem acesso direto ao aplicativo do banco, foi constatado que o saldo real era de apenas R$ 5.400. "Os extratos apresentados eram fraudulentos, e a empresa negava acesso ao aplicativo sob pretexto de segurança", afirmaram. Ainda na região do Vale Paraíba, a turma Med 102 de Vassouras também foi vítima do suposto golpe. A ação foi a mesma: realizou transações bancárias não autorizadas, causando um prejuízo de R$ 435 mil, a apenas seis meses da formatura, segundo o veículo Informe do Vale.

Situações semelhantes foram relatadas em outras instituições. A turma de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde/Suprema (FCMS/JF), em Juiz de Fora, apontou transferências bancárias não autorizadas, que resultaram no desaparecimento de R$ 700 mil do fundo de formatura. A comissão tentou dialogar com o proprietário da Phormar, Luiz Henrique Queiróz, mas decidiu acionar a Justiça após não obter garantias de ressarcimento.

Em Petrópolis, a comissão da turma 56 da Faculdade de Medicina (FMP/Fase) relatou o sumiço de mais de R$ 500 mil, acumulados desde 2021. A descoberta ocorreu após verificarem uma denúncia online sobre as irregularidades. Ao consultarem a conta bancária, constataram que estava zerada.

- Esse era nosso sonho, que se transformou em pesadelo. Estamos mobilizados para arrecadar fundos e manter viva a esperança de celebrar nossa conquista - disseram os estudantes que, inclusive, organizam rifas e uma vaquinha online para financiar a formatura.

Depoimentos e apreensões

Aliás, o proprietário da empresa de formaturas Phormar, Luiz Henrique Queiróz, foi intimado nesta segunda-feira (09) a prestar depoimento para a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). Luiz apresentou, de forma espontânea, seu passaporte e se comprometeu a não sair da comarca.

As equipes de polícia da 7ª Delegacia Distrital da comarca de Juiz de Fora-MG, realizou apreensão do aparelho celular de Luiz, como computadores da empresa, documetnos e contratos dos fundos de formatura para análise. As investigações seguirão sob sigilo. As contas da empresa também foram bloqueadas por decisão judicial, segundo jornalista Ricardo Ribeiro.

Inclusive, outro agravante levantado na empresa foi de que funcionários da empresa foram demitidos em paralelo aos crescentes relatos do golpe nas redes sociais.

Além da demissão - sem qualquer comunicado formal do desligamento - os salários de novembro não foram pagos e que várias parcelas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) estavam em atraso, segundo a apuração do Uol Notícias.

Abeform se pronuncia

Com a grande repercussão do caso, a Associação Brasileira de Empresas de Formatura (Abeform) lamentou o caso e destacou, inclusive, que a Phormar não era sequer associada a entidade.

- Os faltos relatados pelos fundos de formatura definitivamente não representam o setor, as práticas e a conduta que a associação defende. Ao tomar conhecimento dos fatos, a Abeform acionou as empresas associadas da região, solicitando que buscassem alternativas, junto à rede de fornecedores, para que de alguma forma conseguissem oferecer aos fundos de formatur afetados a oportunidade de viabilizar, mesmo que de forma mais simplificada, as suas formaturas - afirmou.

Reprodução/Redes sociais - Nota na fachada da empresa nesta última sexta-feira (06)

Outras empresas se mobilizam

Aliás, outras empresas de formatura se mobilizaram para amparar as famílias afetadas com o desaparecimento dos fundos. Em nota publicada nas redes sociais, a Viva Eventos - que também é uma empresa tradicional da região Sul Fluminense - afirmou que está junto aos principais fornecedores do mercado para tentar viabilizar os eventos. "As equipes das unidades Viva de Juiz de Fora, Petrópolis, Ubá e Volta Redonda, além de todo tima da Viva Brasil, estão totalmente mobilizadas neste sentido. Montamos uma operação especial para acolher a todas as turmas que têm buscado nosso apoio. Estamos estudando caso a caso", afirmaram.