Por Mateus Lincoln
O turismo no Acre tem ganhado força como um motor de desenvolvimento cultural e econômico. Dados da Secretaria de Estado de Turismo e Empreendedorismo (Sete) indicam que o setor movimenta mais de 50 segmentos, contribuindo para a valorização da floresta, da história, da culinária e do artesanato local.
Entre as principais atividades estão o turismo de observação de aves, ecológico, de aventura, religioso, de negócios, etnoturismo e experiências culturais.
O Acre, localizado na região Norte do Brasil, guarda riquezas culturais e naturais que surpreendem muitos visitantes.
De acordo com o guia de turismo Tássio Fúria, que atua na capital Rio Branco e em cidades do interior, o estado tem como diferencial a integração entre tradições locais, atrativos ecológicos e história. Apesar de ser considerado distante, é um destino que combina custo acessível com experiências autênticas.
"O Acre é a terra do último pôr do sol do Brasil. Aqui, você se diverte muito sem gastar muito", afirmou o guia.
Cultura e religiosidade
Entre os aspectos que mais despertam o interesse dos turistas está a religião do Santo Daime, originária do estado. A prática religiosa mistura elementos do catolicismo com tradições indígenas e o uso ritualístico do ayahuasca.
"Muitas pessoas não fazem ideia de que o Acre tem uma religião própria, que nasceu aqui", explicou Tássio.
Além disso, os visitantes se surpreendem com as características do dia a dia local, como a forte presença da gastronomia regional. A culinária acreana, por exemplo, chama atenção por seus sabores marcantes.
"Os temperos da comida do dia a dia aqui são considerados muito fortes pelos visitantes", observou o guia.
Alimentos como a banana chips, conhecida localmente como "bananinha", estão em todos os cantos, vendidos em carrinhos de rua ou em frente às escolas e faculdades. Essa iguaria é feita com a banana comprida, cortada em fatias finas e frita em óleo quente, sendo uma opção doce ou salgada.
O açaí do Acre: tradição e diferencial
Outro destaque gastronômico é o consumo do açaí, que no Acre é tratado mais como um lanche do que como acompanhamento de refeição.
"Aqui, o açaí é mais uma merenda do meio da tarde, um lanche", disse Tássio. O estado possui uma variedade exclusiva desta fruta, conhecida como Açaí Solteiro, típico da cidade de Feijó (AC).
Fruto da palmeira Euterpe precatoria e endêmico (exclusivo) da região, foi o primeiro açaí a receber certificado de origem no Brasil, recebendo, em 2023, o certificação de Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), reconhecendo a qualidade única do produto devido ao solo, vegetação, clima e métodos de cultivo da região.
O açaí solteiro se diferencia pelo sabor e por nascer em árvores de caule único. A cidade de Feijó, conhecida como a Terra do Açaí, realiza anualmente um festival dedicado à fruta. Segundo Tássio, em Feijó é possível encontrar o açaí processado na hora em sorveterias e quiosques espalhados pela cidade.
"Com poucos reais, você pode provar diferentes tipos e tomar açaí até se satisfazer. Os preços variam entre R$2 e R$10", relatou.
O festival atrai visitantes de todo o estado e reforça a relevância cultural e econômica dessa tradição, legado dos povos originários aos descendentes acreanos.
Etnoturismo e ecoturismo
O etnoturismo tem atraído visitantes interessados nas vivências indígenas. Regiões como Cruzeiro do Sul se destacam por trilhas, passeios de barco e camping, onde a floresta permanece mais conservada.
Ali, cada rota promove a interação entre turistas e comunidades tradicionais. Os festivais das etnias Huni Kuin, Puyanawa e Yawanawa, organizados em parceria com a Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas, trouxeram benefícios econômicos e sociais às comunidades.
Além disso, na Expoacre Juruá 2024, óculos de realidade virtual permitiram que os visitantes tivessem experiências imersivas no Parque Nacional da Serra do Divisor, uma das áreas de conservação mais importantes da Amazônia.
A iniciativa foi elogiada como uma maneira inovadora de divulgar as belezas naturais do Acre. A proximidade entre as áreas urbanas e a floresta é outro fator que impressiona os turistas. Em Rio Branco, o deslocamento de poucos minutos de carro permite acesso a regiões de mata preservada.
"O contato com rios limpos e a integração entre cidade e natureza são aspectos que surpreendem principalmente visitantes de regiões como o Sudeste", comentou o guia.
Fúria também destacou a riqueza cultural de cidades como Xapuri, conhecida pela história de Chico Mendes, e Epitaciolândia, marcada pelo ciclo da borracha. Ele enfatizou a autenticidade do açaí acreano, vendido em praças de cidades menores por preços acessíveis.
Desafios e conscientização
O artesanato acreano é um dos pilares do turismo local. A Casa do Artesanato Acreano foi inaugurada em outubro, em Rio Branco, para destacar a riqueza cultural do estado.
Produtos inovadores, como bolsas, sapatos e acessórios feitos de látex, ganharam destaque. Artista famoso na região, o artesão José Rodrigues de Araújo, conhecido como Dr. da Borracha, chegou a expor peças diversificadas, como colares e até brinquedos feitos do material, durante o Salão do Turismo, realizado no Rio de Janeiro em agosto.
Para apoiar os artesãos, a Sete realizou o cadastramento no Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab) em diversos municípios, como Brasiléia, Feijó e Cruzeiro do Sul. O registro facilita a emissão da Carteira Nacional do Artesão, permitindo acesso a políticas públicas, microcrédito e participação em feiras nacionais e internacionais.
O Dr. da Borracha é visita carimbada nos roteiros do guia, mas, apesar dos atrativos, Tássio ressalta que ainda existe uma falta de valorização local pelo potencial turístico do estado.
"Muitos acreanos têm dificuldade em enxergar a riqueza da própria história e cultura", afirmou.
Para ele, é necessário ampliar a conscientização sobre a importância do turismo como ferramenta de desenvolvimento econômico e social.
Tássio utiliza as redes sociais para promover o Acre e compartilha conteúdos que mostram a singularidade do estado. Ele também defende que o turismo local deve ser acessível, permitindo que mais pessoas conheçam a região e vivenciem experiências únicas.
"Convido todos a descobrirem o Acre, um lugar com muito a oferecer e que merece ser explorado", concluiu o guia.