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Trump anuncia que EUA sairão do Acordo de Paris

Donald Trump assume segundo mandato como 47º presidente dos Estados Unidos | Foto: Reuters/Folhapress/Carlos Barria

Por Giuliana Miranda (Folhapress)

Horas após voltar oficialmente à Presidência dos EUA, Donald Trump anunciou que irá retirar seu país do Acordo de Paris, pacto assinado pela comunidade internacional em 2015 com o objetivo de reduzir as emissões de gases-estufa que agravam o aquecimento global.

A decisão, comunicada menos de uma semana depois de a ONU (Organização das Nações Unidas) confirmar que 2024 foi o ano mais quente já registrado, era uma promessa desde a campanha eleitoral do republicano, que tomou a mesma atitude em seu primeiro mandato.

Desta vez, contudo, a saída efetiva do entendimento será mais rápida: em um ano após a formalização do pedido pela via oficial.

Quando Trump anunciou a intenção de deixar o pacto pela primeira vez, foi preciso esperar mais tempo, uma vez que uma regra impede que os pedidos de saída ocorram menos de três anos após a entrada em vigor do acordo. Embora já se falasse no assunto desde as primeiras negociações para transição, em 2016, ele comunicou oficialmente a medida em 2017.

Com isso, a decisão só entrou em vigor no em 4 de novembro de 2020, um dia após a eleição presidencial daquele ano. Ao assumir o cargo, Joe Biden anunciou a reintegração dos EUA ao Acordo de Paris ainda no dia da posse, em 20 de janeiro de 2021.

Especialistas consideram que a saída do maior emissor histórico de gases-estufa e vice-líder dos dias atuais, atrás apenas da China, trará consequências negativas para os esforços para controlar as mudanças climáticas, ainda que as dimensões dessas mudanças ainda não estejam claras.

"Com o retorno de Trump à Casa Branca, enfrentamos uma renovada incerteza e desafios significativos no enfrentamento da crise climática global. Seu mandato anterior resultou em uma pausa perigosa nos esforços para mitigar as mudanças climáticas. Outro atraso é algo que não podemos nos dar ao luxo de suportar", diz Johan Rockström, diretor do PIK (Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático).

Para Ani Dasgupta, presidente do think thank WRI (World Resources Institute), a saída dos EUA do pacto acaba reduzindo o posicionamento dos EUA no mundo.

"Todos os anos, muitas comunidades americanas são bombardeadas por incêndios florestais, inundações e furacões que não conhecem fronteiras. Ao mesmo tempo, a transição para uma economia de baixo carbono já está em curso. Abandonar o Acordo de Paris não protegerá os americanos dos impactos climáticos, mas dará à China e à União Europeia uma vantagem competitiva na florescente economia da energia limpa e resultará em menos oportunidades para os trabalhadores americanos", avaliou.

Com a decisão, os EUA voltarão a ser o único país que já saiu do acordo. Ambientalistas temem, porém, que o posicionamento americano possa incentivar outras nações com lideranças de ultradireita, como a Argentina e a Turquia, a replicarem a manobra.

Trump também anunciou a intenção de declarar uma situação de "emergência energética". O objetivo é acelerar a extração de petróleo e gás nos EUA, o que contribuiria para a redução dos preços da energia para os consumidores.

Combustíveis fósseis

Em seu discurso de posse, Trump voltou a exaltar os combustíveis fósseis, que são responsáveis pela maior parte dos gases acumulados na atmosfera que, nas condições atuais, colocam o planeta em uma trajetória de aquecimento superior a 2,4°C.

"Temos algo que nenhuma outra nação manufatureira jamais terá: a maior quantidade de petróleo e gás de qualquer país na Terra, e nós vamos usá-los," afirmou. "Nós vamos perfurar, baby, perfurar", completou, repetindo um dos slogans usados em seus comícios.

Fatores econômicos tornam improvável, contudo, que Trump consiga reverter inteiramente a trajetória de descarbonização da matriz energética do país. Há muitos americanos, incluindo em Estados comandados por republicanos, faturando alto com a transição.

Por isso, é possível que o novo presidente encontre resistências, inclusive dentro de seu partido, para esvaziar a Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), sancionada por Biden em 2022.

 

Multidão de apoiadores encara frio extremo

Diogo Bercito (Folhapress)

Sob uma sensação térmica que chegou a -12°C, dezenas de milhares de apoiadores de Donald Trump lutaram na manhã desta segunda-feira (20) por um espaço no ginásio Capital One Arena. Esperavam acompanhar, em pessoa, o discurso do novo presidente, iniciando seu novo mandato.

Foi uma tarefa inglória, porém. A campanha do republicano tinha distribuído 220 mil ingressos para as celebrações ao ar livre. Com a mudança de última hora para o espaço fechado justificada pelo frio polar em Washington o evento pôde comportar apenas 20 mil pessoas.

As filas serpenteavam desde a madrugada pelo centro da capital americana, onde simpatizantes de Trump se acotovelavam sem saber se conseguiriam entrar. Agonizavam diante da perspectiva de não conseguir nem sequer ver a cerimônia oficial de posse enquanto esperavam na fila.

Quando se aproximaram as 12h (14h em Brasília), tomaram seus celulares nas mãos congeladas para assistir Trump ser declarado presidente. Aplaudiram e entoaram a sigla do país, em inglês: "USA! USA! USA!". A fila começou a se agitar e a se apertar ainda mais entre as grades.

Logo ouviram os anúncios da polícia de que os portões estavam fechados. A decepção foi evidente. O nova-iorquino Christian, 50, tinha passado cinco horas na fila com a mulher e os filhos, envoltos em cachecóis, luvas e aquecedores de mão. "Viemos ser corpos na multidão representando o povo americano", disse. "Queríamos mostrar nosso apoio à causa em que a maioria votou. É um momento histórico."

Vendedores de souvenirs tentaram aproveitar o frio extremo para fazer negócio. Havia barraquinhas e ambulantes oferecendo bonés, camisetas e penduricalhos. Os mais procurados eram as toucas, que custavam cerca de US$ 5, o equivalente a R$ 30. Eram itens necessários para quem não tinha vindo preparado para um frio que oferecia algum risco para a saúde.

Costuma fazer frio em toda posse, é claro, já que sempre é realizada no inverno do hemisfério Norte. Mas esse é um problema relativamente recente, ao menos nestas dimensões. Até os anos 1930, as investiduras ocorriam em geral no dia 4 de março ainda frio, mas mais agradável.

O frio não foi apenas um contratempo, do ponto de vista do novo governo. Trump queria encher os gramados diante do Capitólio com seus apoiadores para responder a quem disse que a sua primeira posse, em 2017, estava vazia. Teve que lidar, porém, com imagens de menos impacto.

A mudança de planos afetou também a segurança do evento. Foi um desafio controlar as multidões na região central, onde fica a arena, em meio a prédios residenciais, hotéis, restaurantes e bares. Estações de metrô foram fechadas e o público teve que encontrar caminhos entre barreiras policiais rumo ao Capital One.

Isso incomoda, em especial, porque os simpatizantes do republicano tinham tomado aviões e ônibus e reservado hotéis contando com uma visão de Trump. Houve também os doadores que desembolsaram fortunas por um assento VIP. Seus ingressos perderam todo o valor nesse novo arranjo.

Na fila, a reportagem cruzou com alguns brasileiros que esperavam ver Trump na arena. A brasiliense Daniela, que mora em Washington, estava com a tia, Ana. Desistiram após algumas horas. Já Fernando Rodrigues, 40, que tinha vindo de Rondônia, tentou até o fim. Disse que lhe entusiasmava a possibilidade de o governo Trump fortalecer seus aliados no Brasil. "É um movimento universal de direita."

Com o anúncio de que já não havia mais vagas no ginásio, a multidão começou devagar a se dispersar. Alguns permaneceram na fila mesmo sabendo que não havia mais a possibilidade de entrar. Outros, esfregando as mãos, corriam para os restaurantes dos entornos para por fim se aquecer.

Musk e donos de big techs têm lugar de honra na posse

Por Folhapress

Entre as dezenas de bilionários e políticos poderosos que participaram da cerimônia de posse de Donald Trump nesta segunda-feira (20), estavam os fundadores e presidentes das principais empresas de tecnologia do mundo. Mas, ao contrário da maioria, eles receberam alguns dos melhores assentos para acompanhar o evento.

Os CEOs da Meta, Mark Zuckerberg, do X, Elon Musk, e da Amazon, Jeff Bezos, sentaram-se à frente de todo o gabinete de Trump, um sinal da importância que o republicano dará a esses magnatas da tecnologia em seu governo. Na fileira também estavam os presidentes do Google, Sundar Pichai, e da Apple, Tim Cook.

Robert F. Kennedy Jr., que vai chefia o Departamento de Saúde, e Pam Bondi, escolhida para liderar a Justiça, ficaram atrás dos executivos. Marco Rubio, que vai chefiar a diplomacia do país, era um dos poucos visíveis ao lado dos bilionários.

A proximidade do novo governo com esses magnatas interessa aos dois lados. Trump depende das plataformas controladas por Zuckerberg e Musk, por exemplo, para aumentar o engajamento com seus eleitores no passado, quando Trump teve sua conta excluída do Twitter (agora, X), o republicano precisou criar uma rede social para chamar de sua, o que naturalmente acabou diminuindo seu alcance.

Trump é tão próximo de Musk que o bilionário destinou mais de US$ 250 milhões para a campanha do republicano no ano passado. Em troca, recebeu um cargo feito sob medida no novo governo e agora será responsável por criar ideias para, em tese, enxugar a máquina pública.

Por outro lado, ter um bom relacionamento com o novo presidente dos EUA garante aos donos das empresas de tecnologia saídas mais fáceis para problemas recentes envolvendo agências reguladoras americanas, Justiça e Congresso. O governo de Joe Biden, por exemplo, intensificou medidas antitruste contra o Google e ações para diminuir a disseminação de notícias falsas em redes sociais.

Em outros países, como os da União Europeia, Canadá, Austrália e o próprio Brasil, essas empresas também têm sido alvo de ações dos governos locais.

O interesse dos dois lados em manter uma boa relação também explica a presença do CEO do TikTok, Shou Zi Chew, na cerimônia, ainda que ele não estivesse tão bem posicionado quanto os magnatas americanos.

O último fim de semana foi marcado por um vaivém na disputa entre autoridades americanas e a empresa chinesa que controla a plataforma. Em tese, o TikTok deveria parar de funcionar nos EUA a partir de domingo (19), devido a uma legislação do país, mas a suspensão durou poucas horas, à medida que Trump sinalizava que permitiria o funcionamento da rede social assim que assumisse o poder.

A decisão de Trump apenas adia a suspensão do TikTok, mas já aponta o interesse do republicano em manter uma boa relação com os executivos da plataforma. O americano, aliás, sugeriu que a ByteDance, dona do TikTok, vendesse metade de seu capital para os americanos, o que afrouxaria as acusações de espionagem contra a plataforma.

A proximidade de Trump com esses bilionários gerou alerta de Biden. Em discurso na semana passada, o agora ex-presidente americano disse que "há uma perigosa concentração de poder nas mãos de pouquíssimas pessoas extremamente ricas".

"Hoje, está se formando na América uma oligarquia de riqueza, poder e influência extremas que literalmente ameaçam toda a nossa democracia, nossos direitos e liberdades básicos e uma chance justa para todos progredirem", afirmou o democrata, que deixou a Casa Branca também nesta segunda.

*Magnatas da tecnologia
na posse de trump

Elon Musk, CEO da Tesla

e dono do X

Musk, o homem mais rico do mundo, é dono da Tesla, SpaceX e X. Ele gastou mais de US$ 250 milhões para ajudar a eleger Trump e agora será líder de um departamento voltado para tornar o governo dos EUA mais eficiente.

Jeff Bezos, dono da Amazon

Bezos, o segundo homem mais rico do mundo, é fundador e dono de cerca de 10% da Amazon, o maior e-commerce do mundo. Ele também é dono da empresa de foguetes Blue Origin e do jornal The Washington Post. No ano passado, defendeu que seu jornal não endossasse um candidato presidencial dos EUA, excluindo a possibilidade de o veículo defender Kamala Harris. O Prime Video, serviço de streaming da Amazon, transmitiu a posse de Trump.

Mark Zuckerberg,

dono e CEO da Meta

Nas últimas semanas, Zuckerberg talvez tenha sido o magnata da tecnologia que mais apareceu na mídia. Isso porque a Meta, dona de Facebook, Whatsapp e Instagram, anunciou que eliminaria seu programa de verificação de fatos nos EUA, uma ferramenta bastante criticada por Trump. No passado, o republicano ameaçou prender o bilionário.

Sundar Pichai, CEO do Google

A Google, juntamente com Amazon e Meta, doou US$ 1 milhão para o fundo inaugural de Trump, que deve reduzir algumas das políticas antitruste criadas por Biden contra o buscador.

Shou Zi Chew, CEO do TikTok

Um dia antes da posse de Trump, o TikTok agradeceu a ele por seu papel na restauração do aplicativo para usuários americanos. Chew já precisou ir ao Congresso americano dar explicações sobre o aplicativo e, no ano passado, não conseguiu reverter uma lei que bania a plataforma dos EUA.

Sam Altman, CEO da OpenAI

Programador e investidor americano, é considerado o pai do ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial desenvolvida pela OpenAI que revolucionou a indústria. Altman era CEO da empresa, foi demitido no dia 17 de novembro de 2023, recebeu oferta de emprego da Microsoft, mas foi realocado na antiga empresa cinco dias depois. Ele também doou US$ 1 milhão para a posse de Trump.