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Eletronuclear treina futuros operadores em reator

Sala de controle da usina Angra 1, que fica no complexo nuclear em Angra dos Reis, no Estado do Rio | Foto: Divulgação/Eletronuclear

*Por Redação

A Eletronuclear realizou, entre os dias 13 e 24 de janeiro, o Curso Introdutório para Operadores de Reator de Pesquisa (CIORP) na sede do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN), no Rio de Janeiro. O treinamento é direcionado a profissionais em processo de licenciamento, como operadores, instrutores, engenheiros e físicos que precisam adquirir experiência prática na operação de reatores do tipo PWR (Pressurized Water Reactor), os mesmos utilizados nas usinas nucleares brasileiras.

Durante o período, os participantes realizaram nove experimentos em física de reatores e instrumentação nuclear, com todas as manobras operacionais supervisionadas. Esta é a primeira vez que a Eletronuclear realiza o treinamento no IEN/CNEN, no Rio de Janeiro, utilizando o reator Argonauta, um dos três reatores no Brasil capacitados para este tipo de formação.

As edições anteriores ocorreram no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, e no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Minas Gerais.

-Este treinamento prático é essencial para que os profissionais compreendam a dinâmica real de um reator em funcionamento. Apesar das diferenças entre reatores de pesquisa e os reatores de geração de energia, a experiência adquirida neste curso é indispensável para formar operadores capacitados e seguros de suas ações - destaca Lívia Werneck, chefe do departamento de treinamento da Eletronuclear.

O processo de obtenção de licença

A licença para operar uma usina nuclear exige um rigoroso processo de formação, com duração entre três e cinco anos. Esse percurso inclui treinamentos teóricos, aulas práticas em reatores de pesquisa e em simuladores próprios da Eletronuclear, em Angra dos Reis, construídos como réplicas idênticas às salas de controle das usinas. A grade é complementada por avaliações teóricas, orais e prático-orais realizadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

A formação de novos profissionais é fundamental para garantir a continuidade de todos os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos no setor nuclear, considerado altamente estratégico e que necessita de mão de obra qualificada. Além disso, reforça o compromisso da Eletronuclear, em conjunto com os órgãos reguladores, com a segurança na operação das usinas nucleares brasileiras.

Decisão sobre Angra 3

A decisão sobre as obras da usina nuclear Angra 3 pode ser tomada ainda esta semana. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), vinculado ao Ministério de Minas e Energia (MME), pode se reunir novamente, até o final de janeiro, e bater o martelo sobre o assunto.

Em dezembro, o tema foi discutido mas não houve consenso. Na ocasião, os integrantes do CNPE - composto por 17 ministérios e pela Empresa de Pesquisa Energética - afirmaram que era necessário mais tempo para analisar a resolução sobre a retomada das obras, que precisa de recursos da ordem de nada menos do que R$ 23 bilhões. Detalhe: o custo para abandonar a obra é de R$ 21 bilhões. Se a construção tiver prosseguimento, Angra 3 pode entrar em operação comercial em 2031.

O valor a cobrança é outro impasse que emperra a discussão sobre a usina nuclear. O valor é considerado alto. Um estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estimou a tarifa em R$653,31 por megawatt-hora (MWh).

Obras paradas desde 2015

Na Costa Verde do estado do Rio de Janeiro, um imenso canteiro de obras se destaca entre o azul do mar e o verde da Mata Atlântica. É a construção da Usina Nuclear Angra 3, parada praticamente desde 2015.

O projeto de construção do que pode ser a terceira e mais potente usina nuclear do país data da década de 1980. E mais: cerca de 80% dos equipamentos da usina já estão comprados e precisam ser submetidos a um rigoroso controle de manutenção, para que o tempo de "hibernação forçada" não os comprometa.

A reportagem da Agência Brasil visitou o canteiro de obras de Angra 3 a convite da Eletronuclear e pôde perceber que, enquanto a construção civil está parada, muita atenção é despejada para os 35 galpões que armazenam maquinário. "Viramos especialistas em preservar equipamentos", diz o engenheiro Bruno Bertini, responsável pelo Departamento de Montagem.

A frase traz um teor de lamentação pelo fato de a obra não deslanchar, mas também tem um grau de demonstração de orgulho, por conseguir manter conservada por tanto tempo uma grande quantidade de maquinário, alguns itens desde 1984.

Nos galpões, 12 mil volumes de equipamentos - a maioria importada - são cuidadosamente alocados, catalogados e inspecionados regularmente. Alguns ficam envoltos em uma espécie de capa térmica e expostos à sílica - substância que evita a oxidação.

Como Angra 3 é um projeto "gêmeo" de Angra 2, já aconteceu de peças armazenadas serem usadas para substituir alguma que precisou ser trocada na usina vizinha.

Bertini adianta qual será o procedimento a partir do momento em que a construção for reiniciada: "os equipamentos vão passar por inspeção geral, e serão trocados itens suscetíveis a envelhecimento."

Apesar da pequena participação na matriz elétrica brasileira, Zaroni destaca que, além de ser considerada limpa e cercada de procedimentos que garantem a segurança da operação, a energia nuclear tem a vantagem de a geração ser praticamente integral e ininterrupta.

"A geração tem um fator de disponibilidade muito alto, a usina fica o ano inteiro gerando 100% da capacidade, diferentemente de outras fontes, como a hidrelétrica e a solar, que ficam oscilando", compara Zaroni.

*Com informações da Agência Brasil