Por Sônia Paes
A primeira chuva torrencial de abril que atingiu a Costa Verde - principalmente Angra dos Reis, que teve acumulado de 390mm em 72 horas - deixou a olhos vistos a fragilidade das estradas da região, que abriga duas usinas nucleares do país em operação e uma terceira com obras paralisadas. Na noite de sexta-feira (04), a Rio-Santos (BR-101), um dos pilares do Plano de Emergência Nuclear, começou a ter trechos interditados. No sábado pela manhã (05), foram paralisados do km 503 ao 500 (Angra dos Reis), km 542 ao 528 (Paraty), km 473 ao 455 (Angra dos Reis) e km 433 ao 428 (Mangaratiba). A Rodovia Saturnio Braga (RJ-155), que liga Angra a Barra Mansa-RJ, ficou em meia pista na altura de Rio Claro, após uma cratera abrir no KM 19.
A estrada foi totalmente liberada somente no final da noite de sábado (05), mas os motoristas tiveram que redobrar os cuidados ainda devido ao risco de queda de barreiras e até mesmo de árvores. A rodovia atravessa a Mata Altântica, um bioma rico em belezas naturais.
E mais: em razão do fechamento da BR-101, algumas linhas do transporte coletivo urbano de Angra dos Reis ficaram também temporariamente fora de operação no sábado (05). Além das fortes chuvas que enfrentavam, a população e as equipes de socorristas ficaram com a mobilidade restrita por conta dos trechos fechados pela CCR RioSP, que ganhou a concessão da rodovia por nada menos do que 30 anos.
- Nos locais interditados há sinalização e equipes orientando o fluxo de veículos. Há possibilidade de outros trechos serem bloqueados se o chuva persistir. A CCR RioSP segue monitorando os boletins meteorológicos de forma constante, uma vez que há risco de ocorrer outras interdições devido ao alto volume de chuva previsto para as próximas horas nos 270 km da rodovia - informou a CCR, por meio de nota.
Tempestade é acompanhada pela CNEN
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) informou, no sábado (05), que acompanhava de forma contínua as condições operacionais da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos Reis (RJ), devido às fortes chuvas.
De acordo com a Comissão, o monitoramento foi realizado por inspetores residentes, que permaneceram atuando no local. "Até o momento, não há qualquer impacto nas operações das usinas, que foram projetadas para suportar eventos naturais severos, incluindo chuvas intensas e possíveis deslizamentos de terra", informou a CNEN, por meio de nota.
O órgão ressaltou ainda que Angra 1 foi desconectada do Sistema Elétrico Interligado Nacional à 1h da madrugada do dia 5 de abril, iniciando a parada programada. "Portanto, a usina encontra-se temporariamente desligada. Já a Unidade 2 segue operando com estabilidade, em plena capacidade, a 100% de potência nuclear, sem qualquer registro de intercorrências", disse a CNEN. E concluiu:
- Como medida preventiva, está sendo realizada a limpeza da tomada d'água, a fim de evitar riscos de obstrução decorrentes de materiais trazidos pela ressaca ou por possíveis deslizamentos.
A CNEN reforçou que todas as diretrizes de segurança estão sendo rigorosamente seguidas, de acordo com os procedimentos estabelecidos para situações de contingência climática, garantindo a integridade das instalações, dos trabalhadores e da população. As usinas nucleares seguem operando em condições seguras, sob fiscalização contínua da Comissão.
A Eletronuclear - responsável pela operação das usinas - também reforçou à população que, mesmo diante das fortes chuvas, não havia qualquer risco no complexo Almirante Álvaro Alberto.
- Importante ressaltar ainda que a empresa também já se colocou à disposição da prefeitura de Angra dos Reis para apoiar nas ações de enfrentamento aos impactos das fortes chuvas, incluindo o fornecimento de máquinas e equipamentos que possam auxiliar nos trabalhos emergenciais - informou a Eletronuclear.
Reavaliação após tragédia no Japão
Ao informar que o complexo nuclear de Angra dos Reis-RJ está preparado para qualquer fenônemo climático extremo, a Eletronuclear disse que, após o acidente de Fukushima, por exemplo, foi realizada uma reavaliação da base de dados geológica e meteorológica da região, com a aplicação de metodologias atuais de análise probabilística. "Estudos conduzidos com especialistas apontam margens de segurança satisfatórias para resistir a tais eventos", disse a empresa.
-A Eletronuclear vem a público tranquilizar a população de Angra dos Reis e das regiões vizinhas quanto à segurança da Central Nuclear. A empresa permanece disponível para colaborar com as autoridades locais e prestar os esclarecimentos necessários à sociedade - completou.
Simulados de emergência
O complexo nuclear dispõe de planos de resposta. Um deles é o Plano de Emergência Local (PEL) voltado à proteção dos trabalhadores da área interna das usinas e do público na propriedade da Eletronuclear. Já o Plano de Emergência Externo (PEE) é coordenado pela Secretaria de Estado de Defesa Civil do Rio e tem participação de órgãos federais, estaduais e municipais nas Zonas de Planejamento de Emergência.
São feitos exercícios simulados anualmente. Nos anos ímpares, o Exercício Geral, que simula evacuação voluntária. Nos anos pares, acontece o Exercício Parcial.