Por:

Importância de consumir pescado o ano todo

Por Felipe Masid

Com a proximidade da Semana Santa, a comercialização e consumo de pescado aumentam significativamente, impulsionados pela tradição cristã de evitar carnes vermelhas durante o período, representando o momento do ano de maior consumo dessa proteína. O consumo de pescado traz inúmeros benefícios à saúde, uma vez que peixes, crustáceos, moluscos, répteis, anfíbios, quelônios e outros animais aquáticos, são uma excelente fonte de proteínas de alto valor biológico e ácidos graxos essenciais para o organismo. 

Segundo André Medeiros, médico veterinário especializado em qualidade e segurança na cadeia produtiva do pescado e assessor na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços do Rio de Janeiro (SEDEICS-RJ), o pescado se destaca por seu alto teor de ômega-3, um tipo de gordura saudável que contribui para a saúde humana cardiovascular, ajudando a reduzir o colesterol "ruim"(LDL) e aumentar o colesterol "bom" (HDL). Além disso, o ômega-3 possui propriedades anti-inflamatórias, auxiliando na prevenção de doenças crônicas como hipertensão e artrite. Rico em vitaminas e minerais como ferro, zinco e selênio, o consumo regular de pescado fortalece o sistema imunológico, melhora a função cerebral e pode até reduzir os riscos de depressão. 

Entretanto, para garantir todos esses benefícios, é fundamental a escolha de um pescado de qualidade. Por isso, André aponta que, na hora da compra, é importante observar as condições de higiene do estabelecimento comercial, assim como características anatômicas do pescado, para verificar o teor de frescor dele. 

"É fundamental que o ponto de comércio e os manipuladores possuam boas condições de higiene. O ambiente deve estar limpo e organizado, sem odor forte; os manipuladores, utilizando vestuário limpo, sem o uso de adornos, como anéis e pulseiras, e outros possíveis perigos, e a lavagem frequente de mãos, especialmente na manipulação ; e o pescado, caso fresco, mantido sob gelo, em balcões de aço inox ou outros materiais facilmente laváveis, sem o uso de jornal, vegetais, papelão, isopor e outros materiais em conjunto, que podem contaminar para o produto."

Quanto às características anatômicas do peixe inteiro ou inteiro eviscerado fresco, o consumidor deve observar: Olhos, que devem estar brilhantes, translúcidos e salientes, ocupando a órbita ocular; Pele úmida, com brilho natural metálico e coloração apropriada da espécie, sem manchas, com as nadadeiras e escamas bem fixadas; Brânquias, ou seja, as popularmente conhecidas guelras, devem estar avermelhadas e sem muco; Odor leve, que lembra "cheiro do mar"; Carne firme, que ao ser pressionada, deve voltar à posição original rapidamente; Ânus fechado, sem aparecimento das vísceras externamente e sem formato. 

É importante frisar que, pela legislação higiênico-sanitária brasileira, pescado fresco é aquele que não recebeu nenhum método de conservação a não ser o gelo. Porém, usualmente utiliza-se o termo fresco como sinônimo de um produto recente e bem conservado, de boa qualidade e ideal para consumo, o que pode causar confusão nos consumidores. 

Caso a opção seja por peixes congelados, André informa que o consumidor deve verificar se há presença de cristais de gelo na embalagem, pois isso pode indicar um descongelamento e recongelamento inadequados. Além disso, observar se o produto está dentro do prazo de validade e armazenado em condições e temperaturas adequadas, assim como apresentar o carimbo do Serviço de Inspeção sanitária no rótulo, o que certifica que o produto foi inspecionado na indústria e está apto para consumo. 

O especialista retrata que o Brasil ainda apresenta baixo consumo per capita do pescado frente à outras proteínas de origem animal, e é necessário atenção e maior incentivo para ampliação do consumo para o ano todo . Por exemplo, considera-se atualmente o consumo médio de pescado de 10Kg/hab/ano por brasileiro, enquanto na carne de aves, este valor figura em cerca de 40 a 45Kg/hab/ano. E a média mundial figura em torno de 22Kg/hab/ano. 

Embora o país tenha uma vasta costa e um grande potencial aquícola, alguns fatores são relevantes e influenciam o baixo consumo. Podem ser citados a falta de hábito de consumo; a presença das espinhas; o preço, considerado elevado, se comparado a alta oferta de outras proteínas animais de fácil acesso; a eventual dificuldade de distribuição; o desconhecimento sobre espécies e preparo; além de características culturais e regionais. 

Apesar dos desafios, devemos aumentar o consumo da proteína durante todo o ano, não somente em épocas festivas ou especiais. "É importante utilizar a educação alimentar e a valorização da produção nacional como frentes. Seja grelhado, assado ou cozido, incluir o peixe na alimentação contribui para uma dieta equilibrada e rica em nutrientes essenciais para o bem-estar e saúde humana. Por isso, o consumidor deve fazer escolhas conscientes e aproveitar os benefícios desse alimento tão versátil e saboroso. A proposta, enfim, é tornar o pescado um item comum no nosso dia-a-dia", finaliza André Medeiros.