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Conclave: entenda os próximos passos após sepultamento do Papa Francisco

Corpo do Papa Francisco foi sepultado na Basílica de Santa Maria Maior sob aplausos e cântigos emocionados; cerca de 400 mil pessoas estiveram presentes na Cidade do Vaticano | Foto: Fotos Ricardo Stuckert/PR

Em cerimônia carregada de emoção, milhares de fiéis e dezenas de chefes de Estado se despediram, neste fim de semana, do Papa Francisco, que faleceu no último dia 21 de abril, aos 88 anos. O velório se estendeu por três dias na Basílica de São Pedro, onde uma impressionante fila de peregrinos se formou ao longo da Praça de São Pedro e das ruas vizinhas. Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas passaram diante do corpo do pontífice argentino, conhecido por sua simplicidade, compaixão e defesa dos mais pobres.

O funeral, realizado no sábado (26), seguiu o ritual tradicional dos funerais papais, mas com adaptações solicitadas pelo próprio Francisco, que havia deixado instruções claras para uma cerimônia sóbria. Presidida pelo Decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Giovanni Battista Re, a Missa foi concelebrada por mais de 200 cardeais e centenas de bispos e sacerdotes. O Papa Emérito Bento XVI, falecido em 2022, havia aberto precedente para a presença de um decano em vez de um novo Papa, e agora o Vaticano repetiu a fórmula.

Entre as autoridades presentes, chamou a atenção a numerosa comitiva brasileira, liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado da primeira-dama Janja da Silva, do ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira e do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Jaime Spengler. Lula discursou brevemente à imprensa internacional, destacando o "legado de amor e justiça social" deixado por Francisco e ressaltando a "ligação especial que o Papa cultivava com o Brasil e com a América Latina".

Outros líderes mundiais também marcaram presença, como o presidente da Argentina, Javier Milei; o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump; o presidente da França, Emmanuel Macron, e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. 

Sepultamento

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Enterro do Papa, cerimônia sóbria como ele pediu | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Após a missa fúnebre, o caixão de cipreste, simples como ele desejava, foi levado em procissão até a Basílica de Santa Maria Maior, onde foi sepultado às 13h30 (horário local); sob aplausos e cânticos emocionados dos fiéis. O corpo do Papa foi sepultado no túmulo que anteriormente havia abrigado João Paulo II, antes da transferência deste para a Basílica superior. Uma lápide de mármore branco, apenas com seu nome e as datas de nascimento e morte, foi assentada sobre o local, em respeito ao pedido de humildade deixado por Francisco.

Carta encontrada

Poucas horas após o funeral, o Vaticano confirmou a existência de duas cartas encontradas no quarto do Papa Francisco, nas quais ele expressava sua vontade de excluir o cardeal Angelo Becciu do próximo conclave. Becciu, de 76 anos, foi destituído de suas funções em 2020 após acusações de corrupção financeira, incluindo a compra irregular de um imóvel em Londres, e condenado em 2023 a cinco anos e meio de prisão por fraude fiscal, abuso de poder e malversação de fundos. 

As cartas, assinadas pelo próprio Francisco, foram apresentadas pelo cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, durante as reuniões preparatórias do conclave. Nelas, o Papa argumentava que a participação de Becciu poderia comprometer a integridade do processo de eleição do novo pontífice.

A revelação gerou debate entre os cardeais, já que o direito canônico garante a participação no conclave a todos os cardeais com menos de 80 anos. Becciu, por sua vez, insiste em seu direito de votar, alegando que não há uma ordem escrita válida que o proíba. 

Os próximos passos: o conclave

Com a morte do Papa Francisco, a Sé Apostólica foi declarada vacante. O Camerlengo da Santa Igreja Romana, Cardeal Kevin Farrell, já assumiu as funções administrativas temporárias do Vaticano, zelando pela transição até a eleição do novo pontífice.

O conclave será oficialmente iniciado dez dias após a morte do Papa, respeitando o prazo canônico que permite a chegada de todos os cardeais eleitores a Roma. Assim, os 133 cardeais com direito a voto — aqueles com menos de 80 anos — se reunirão a portas fechadas na Capela Sistina para o processo de eleição.

O funcionamento do conclave é rigidamente regulado por normas estabelecidas em documentos como a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis e atualizações posteriores. Após um juramento de segredo absoluto, os cardeais serão trancados sem acesso a comunicações externas, e a eleição se dará por sucessivas votações. Para ser eleito, o novo Papa precisa alcançar a maioria qualificada de dois terços dos votos.

As votações serão realizadas duas vezes pela manhã e duas vezes à tarde. A cor da fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina anunciará ao mundo o resultado de cada rodada: fumaça preta para sinalizar que não houve eleição e fumaça branca para indicar que um novo Papa foi escolhido.

Expectativas e o futuro da Igreja

Com um colégio cardinalício diverso e representativo de todos os continentes, especialistas apontam para a possibilidade de continuidade da linha pastoral de Francisco, centrada em temas como justiça social, meio ambiente e acolhida dos marginalizados. Entretanto, setores mais conservadores também articulam alternativas para um possível realinhamento doutrinário.

O mundo aguarda, em oração e expectativa, a definição do sucessor de Jorge Mario Bergoglio, o Papa que, com sua ternura e coragem, marcou profundamente a história da Igreja Católica e dos povos de todo o mundo.

'Franciscus'

O papado de Francisco deixa um legado eterno de amor, misericórdia, perdão e inclusão. Foi preciso que um sul-americano assumisse o posto de Papa para recordar ao mundo o poder do amor e do perdão. Foram cerca de 12 anos como Bispo de Roma, em que dedicou sua influência para não apenas trazer o povo para perto da Igreja, mas principalmente trazer a Igreja para perto do povo. Ele pediu atenção para os pobres, abriu mão de luxos e pregou o amor e a inclusão como chaves para o fim de conflitos. Em suas viagens oficiais, o Papa se autodefiniu como pecador, visitou comunidades e locais marginalizados, falando sempre com muita humildade e bom humor.

Infelizmente, os últimos meses foram de muita luta para o Santo Padre. No início de fevereiro, o papa foi internado no hospital Agostino Gemelli para tratar de uma crise de bronquite. Porém, foi descoberta uma infecção polimicrobiana, que é causada por diferentes tipos de microrganismos. O quadro se desenvolveu para uma pneumonia bilateral. Ou seja, afetando ambos os pulmões. Após 38 dias internado, porém, o Papa Francisco recebeu alta em 23 de março. E mesmo com a recomendação de repouso e isolamento, Bergoglio buscou forças para manter sua rotina papal e se fazer presente na vida dos fiéis. Fontes do Vaticano relatam que o Papa realmente fez um esforço sobre-humano para ressaltar a importância da semana santa e da Páscoa, o momento que celebra a ressurreição de Jesus Cristo e passa uma mensagem de perdão e recomeço para os fiéis.

Inclusive, sua última mensagem para os fiéis foi justamente no domingo de Páscoa. Na Praça de São Pedro, no Vaticano, Francisco concedeu a Benção Urbi et Orbi, falando especialmente aos líderes do mundo, para "todos os que, no mundo, têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento", clamou Francisco.

Ele pregou a favor do desarmamento, clamou pelo fim da violência nas famílias e pediu para que as pessoas voltem a confiar e ter esperança nos irmãos de mundo.

"Quanto desejo de morte vemos todos os dias em tantos conflitos que ocorrem em diferentes partes do mundo! Quanta violência vemos com frequência também nas famílias, dirigida contra as mulheres ou as crianças! Quanto desprezo se sente por vezes em relação aos mais fracos, marginalizados e migrantes! Neste dia, gostaria que voltássemos a ter esperança e confiança nos outros, mesmo naqueles que não nos são próximos ou que vêm de terras distantes com usos, modos de vida, ideias e costumes diferentes dos que nos são familiares, porque somos todos filhos de Deus!", afirmou.

Na Benção, ele também pediu a união dos povos e das religiões, tomando como partido a Páscoa deste ano, que foi celebrada por católicos e ortodoxos no mesmo dia. "Gostaria que voltássemos a ter esperança de que a paz é possível! A partir do Santo Sepulcro, Igreja da Ressurreição, onde este ano a Páscoa é celebrada no mesmo dia por católicos e ortodoxos, se irradie sobre toda a Terra Santa e sobre o mundo inteiro a luz da paz. Sinto-me próximo dos cristãos que sofrem na Palestina e em Israel, bem como do povo israelita e palestiniano. É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se está a espalhar por todo o mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se ao povo, em particular, à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil. Apelo às partes beligerantes que cheguem a um cessar-fogo, que se libertem os reféns e se preste assistência à população faminta, desejosa de um futuro de paz!", disse.

Ele pediu paz para países como Palestina, Israel, Sudão, Iêmen, Sudão, Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Sahel, Lagos, Azerbaijão, Armênia, Mianmar e Ucrânia fossem iluminados pela Luz Pascal.

Sua última mensagem foi um desejo de "Feliz Páscoa para todos!".