O primeiro dia da Reunião de Chanceleres do BRICS, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (28), finalizou alinhada a uma crença comum: a cooperação multilateral é a resposta para a promoção da paz e do desenvolvimento. Abordagem das crises globais e regionais; Reforma das instituições internacionais para uma governança mais inclusiva e sustentável; e Papel do Sul Global no reforço do multilateralismo foram os temas guia dos três painéis de debate.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, o embaixador Mauro Vieira, no discurso de abertura dos trabalhos, salientou a posição única do grupo para promoção do diálogo e reforçou a igualdade soberana das nações. "O BRICS como grupo reconhece os interesses estratégicos e os legítimos interesses econômicos e de segurança de cada membro, tanto em suas respectivas regiões quanto em todo o mundo. Isso faz parte da nossa contribuição para uma distribuição justa de poder nos assuntos globais, condição para que a paz, o desenvolvimento e a sustentabilidade sejam alcançados. Defendemos a diplomacia em vez do confronto e a cooperação em vez de unilateralismo", colocou o embaixador.
Busca da paz no mundo
Mauro Vieira, cobrou a atuação diplomática de países do Brics para a busca de solução de guerras e conflitos regionais. Em 2023, o mundo registrou um número recorde de 183 conflitos, o maior em décadas, com guerras e confrontos intra e entre nações. Esse número representa um pico sem precedentes nos últimos 30 anos, aproximando-se dos índices da época da Guerra Fria.
"O sofrimento humano jamais deve ser instrumentalizado. O BRICS deve continuar a defender um sistema humanitário global neutro, despolitizado e genuinamente universal. O caminho para a paz não é fácil nem linear, mas o BRICS pode e deve ser uma força para o bem, não como um bloco de confronto, mas como uma coalizão de cooperação", disse o ministro e coordenador dos trabalhos da Reunião.
Foram feitos destaques sobre a deterioração das condições de segurança humanitária e econômica no Haiti, a escalada das tensões no Sudão e na região dos Grandes Lagos africanos, o impacto do conflito na Ucrânia e o cenário devastador nos territórios palestinos ocupados.
Em relação à Ucrânia, o ministro enfatizou a urgência de uma solução diplomática que respeite os princípios da Carta das Nações Unidas e recordou o "Grupo de Amigos da Paz", criado em setembro do ano passado, por iniciativa de Brasil e China, em Reunião de Alto Nível de Países do Sul Global em Nova York, Estados Unidos da América.
Quanto à situação na Palestina, o embaixador voltou a condenar a obstrução contínua da ajuda humanitária à Gaza e a retomada dos bombardeiros israelenses. Vieira demarcou a necessidade de assegurar a retirada total das forças israelenses de Gaza, bem como a libertação de todos os reféns. O Brasil é signatário da solução de dois estados, com o Estado da Palestina independente e viável dentro das fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital.
Multilateralismo
Mauro Vieira afirmou ainda que o Brics está unido em torno da ideia de que a paz não pode ser imposta, e, sim, construída. Além disso, afirmou que o grupo "reconhece os interesses estratégicos e os legítimos interesses econômicos e de segurança de cada membro".
"Esta reunião acontece em um momento em que nosso papel como grupo é mais vital do que nunca. Enfrentamos crises globais e regionais convergentes, com emergências humanitárias, conflitos armados, instabilidade política e a erosão do multilateralismo. Com onze estados-membros representando quase metade da humanidade e uma ampla diversidade geográfica e cultural, o Brics está em uma posição única para promover a paz e a estabilidade baseadas no diálogo, no desenvolvimento e na cooperação multilateral", declarou Vieira.
A reunião se inscreve na história do grupo como a primeira agenda oficial de ministros das Relações Exteriores do BRICS após a expansão do grupo. Levando em conta a composição plena que durou quatorze anos (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o aumento de países, membros e parceiros, implicados formalmente nos objetivos de cooperação do Sul Global é de 300%. Nesta terça-feira (29), os ministros devem finalizar e publicizar uma declaração conjunta, que subsidiará a Declaração Final do BRICS em 2025. Esta será chancelada pelos chefes de Estado e governo do grupo na Cúpula de Líderes em julho, também no Rio de Janeiro.