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Elas no comando!

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Mulheres são a maioria no atendimento do Sebrae Rio

O Projeto Comunidades, voltado aos empreendedores de favelas de todo o estado do Rio de Janeiro, já realizou mais de 41 mil atendimentos e os principais setores desse púbico são: gastronomia, turismo, eventos, artesanato, moda e beleza.

Ao fazer um perfil desses clientes, a gerente de Empreendedorismo Social do Sebrae Rio, Carla Panisset, comenta que metade possui ensino médio completo, 29% têm ensino superior incompleto e 19% curso superior
completo, sendo que 60% são mulheres e 40% são homens.

Para estes empreendedores o Sebrae Rio faz plantão de atendimento sobre gestão empresarial, palestras,
oficinas e atende também potenciais empreendedores em mais de 30 territórios de favelas e periferias, como
Cidade de Deus, Rocinha, Maré, Rio das Pedras, entre outros.

Outro programa social é o “Sebrae Delas”, que atende mulheres empreendedoras de todo o estado do
Rio de Janeiro, independentemente de estarem ou não dentro de alguma comunidade. Os principais ramos
de atuação das participantes deste programa são gastronomia e beleza.

Entre outros temas, nesta entrevista Carla Panisset, fala sobre os desafios que estas mulheres enfrentam, tanto no ambiente doméstico, quanto na vida empresarial.

Caderno Empreendedorismo – O Sebrae Delas, criado em 2019, está em sua quarta edição. Como está o programa e quais as expectativas para 2024?

Carla Panisset – O programa cresce desde quando foi criado e a cada ano tem um número maior de empreendedoras e iniciativas sendo disponibilizadas. Nossa expectativa para 2024 é chegar a mais municípios, atender um número maior de mulheres e oferecer um programa ainda mais robusto. Hoje estamos presentes em 87 municípios, em todas as regiões do Estado do Rio de Janeiro, por meio das 14 regionais do Sebrae Rio.

Todo ano lançamos o programa no dia 08 de março. O Sebrae Delas vai de abril a dezembro, visando melhorar os negócios para as mulheres, em termos de mercado, faturamento e conexões.

C.E – Qual o tipo de apoio que o Sebrae Delas oferece?

C.P – O projeto é dedicado às mulheres, as vezes elas trazem seus companheiros, mas quem manda no projeto são elas. Nós criamos uma trilha com conteúdo educacional, palestras, cursos, consultorias. Os conteúdos educacionais levam conhecimentos e a consultoria leva a transformação de fato. O programa é pautado por
três pilares: conhecimento sobre gestão, consultorias e network.

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C.E – O número de inscrições está crescendo? Quantas são esperadas para o ano que vem?

C.P – Sim, e cresce a cada ano, pois as próprias mulheres indicam o programa umas para as outras. Esperamos pelo menos 1.5000 mulheres inscritas em 2024.

C.E Em 2023, das 1040 inscritas foram selecionadas 406, divididas em 14 turmas. Como é feita essa seleção e como ficam as demais?

C.P – Para selecionar nós olhamos um pouco o negócio dessa mulher, se ela tem uma presença nas redes sociais, se o negócio é formalizado, se está dentro do Rio de Janeiro. As mulheres que não são selecionadas recebem um conjunto de ações online.

Portanto, além desses cursos de transformação, o Sebrae Delas tem ações digitais, seminários online para todas as mulheres, tanto as que passaram no Sebrae Delas como as que não passaram, que passam a fazer parte da rede de mulheres empreendedoras do Sebrae e podem ter acesso a todos os conteúdos disponibilizados.

C.E – Além da formação empreendedora o Sebrae realiza algum estudo com as participantes, que podem ajudar o segmento como um todo?

C.P – O Sebrae Delas também realiza estudos e pesquisa sobre o empreendedorismo feminino. Procuramos entender por que existem tantas condições assimétricas entre homens e mulheres. Os resultados desses estudos estão todos no site do Sebrae. Esta é uma contribuição relevante para a sociedade, dando luz ao cenário existente. O programa também revela o que é o empreendedorismo feminino, quais são suas oportunidades e desafios.

Vivenciamos muitas histórias de transformação, mesmo de mulheres que eram acometidas por situação de violências, que não tinham autonomia financeira e que por conta do programa conseguiram sair daquela situação de violência absurda. Isso é o que nos motiva a continuar com o programa.

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C.E – Qual a idade média das empreendedoras?

C.P – 39 anos, essa é a idade média, mas temos clientes jovens, pessoas do grupo 60 mais, mas na média falamos com a mulher adulta.

C.E – Como a escolaridade influencia no sucesso do empreendimento?

C.P – Sabemos que existe uma relação até quando olhamos para o mercado de trabalho. Quanto maior a escolaridade, mais chances de emprego. E isso se reproduz também no empreendedorismo. O fato de a pessoa ser mais educada, dá mais conhecimento para usar em prol da sua atividade. Mas isso não é um impeditivo para quem não é escolarizado deixar de empreender. Temos muitos clientes com o ensino fundamental, até
porque o empreendedorismo para essas pessoas vem da luta para superar dificuldades.

C.E – No caso da gastronomia e beleza, se a empreendedora souber fazer comida ou maquiagem também precisa de estudo?

C.P – Muitas vezes a empreendedora tem conhecimento do ofício, mas não tem ideia de como vai oferecer o seu produto, qual o melhor fornecedor, como obter crédito, quais os riscos, então, esse conhecimento da gestão para o empreendedorismo é fundamental para que essas iniciativas se perpetuem e consigam obter cada vez
mais faturamento.

C.E – Isso é o que elas procuram no Sebrae?

C.P – Elas procuram aprender como ganhar dinheiro com o que sabem fazer.

C.E – Essas mulheres são casadas, têm companheiro, vivem sozinhas, como é a vida pessoal delas?

C.P – Em torno de 40% são chefes de família. Quando olhamos a base da pirâmide constamos que as mulheres empreendedoras são sim, muitas vezes, as responsáveis por seus lares. E isso traz desafios específicos, como a
administração do tempo, porque quando não existe outro adulto na casa para dividir as responsabilidades com as crianças ou com os pais idosos, a empreendedora tem menos tempo para os seus negócios.

C.E – Quais são as consequências para o negócio delas?

C.P – Atrapalha inclusive o acesso a novos mercados. Se ela não tem com quem deixar os filhos, como vender num bairro longe de casa? Tem questões que são do mundo feminino que as empreendedoras têm que encarar com dupla e até tripla jornada de trabalho.

C.E – O Sebrae vai até elas ou precisam ir até o Sebrae?

C.P – O Sebrae tem diferentes formas para chegar até elas, inclusive o atendimento todo online. Temos grupos
didáticos online, temos aulas digitais, fazemos grande parte do atendimento em plataforma online para que elas possam acessar de casa.

Também temos ações presenciais no território onde os negócios delas estão instalados. Realizamos fóruns
estaduais e trazemos essa rede de mulheres para a capital, para se conhecerem, fazerem network e terem mais chances de progredir. Temos diferentes formatos de atendimento para que todas elas possam participar.

C.E – E sobre o Projeto Comunidades, presente em 30 territórios dentro de favelas. Qual a região que tem mais procura para as oficinas do Sebrae?

C.P – Temos intenso atendimento na região metropolitana do Rio. Na verdade, o empreendedor da base da pirâmide é muito raçudo, ele corre atrás de oportunidades em todos os territórios. Com a adversidade da vida, as dificuldades, a falta de acesso, faz com que valorizem bastante essa rede de suporte do Sebrae Rio. 

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C.E – As mulheres têm mais dificuldades que os homens para empreender?

C.P – Existem dados do Sebrae que apontam que as empreendedoras são mais escolarizadas que os
homens, em torno de 18% do total. Mas elas faturam quase 20% a menos devido a questão do tempo, da maior dificuldade para obter linha de crédito, isso porque para obter crédito é preciso ter lastro, e geralmente este lastro está no nome do homem. Essa a questão cultural impacta o empreendedorismo feminino.

C.E – Os bancos também dão mais preferência aos homens?

C.P – Sim. As mulheres que têm acesso a recursos bancários pagam mais em dia, mas as taxas para elas são maiores. Isso tem a ver com a questão patrimonial, porque o crédito não gosta de riscos. Quanto menos patrimônio, mais difícil obter crédito. Isso recai mais cruelmente sobre as mulheres do que sobre os homens.

Tem outro ponto, além do crédito, que são essas próprias redes de network. É comum, no mundo dos negócios, as pessoas irem tomar um chope para fechar negócio, sair à noite para conversar, o que é mais difícil para as mulheres devido a sua tripla jornada de trabalho. Muitas clientes do Sebrae Delas falam que não vão em eventos porque não tem como sair à noite, portanto, existe a questão de acesso ao crédito e existe também a questão de tempo das mulheres para o acesso a network.

C.E – O que elas fazem para vencer essas dificuldades?

C.P – Elas procuram o Sebrae. O que temos visto é a importância das redes de apoio. Quando essas empreendedoras estão em grupo e compartilham dificuldades, passam a fazer parcerias. Às vezes elas têm
dificuldade ao crédito, mas se juntam a outras empreendedoras que vendem um produto paralelo ao delas, ou que prestam um serviço complementar. Essas redes oferecem possibilidades para que possam enfrentar essas dificuldades.

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