Cultura organizacional
Como implantar seus valores nos pequenos e médios empreendimentos
Normalmente, ao pensar em abrir o próprio negócio a primeira coisa que vem na mente do empreendedor é
o tipo produto que pretende oferecer, o público que planeja atingir, como enfrentar a concorrência e levantar informações sobre a necessidade ou não de investimento. Mas, independente do tamanho do empreendimento, é importante pensar na cultura organizacional da empresa desde o seu início, de modo a estar preparada para crescer e enfrentar novos desafios.
A vice-presidente de Pessoas, Cultura e Gestão da Contabilizei, Michele Heemann, explica que a cultura organizacional é o conjunto de ações, valores, práticas e políticas que guiam os colaboradores na empresa. Sem esses elementos estabelecidos, possivelmente o negócio será impactado pela falta de engajamento das pessoas, pela alta rotatividade de funcionários, baixa produtividade, falta de credibilidade no mercado e outros fatores determinantes para a sustentabilidade.
Nesta entrevista, para quem está iniciando um negócio, ela orienta que o primeiro passo é definir a missão e os valores que nortearão toda a organização da empresa e que outro ponto importante é se atentar ao processo de
recrutamento e seleção dos profissionais que comporão o quadro de colaboradores, para que a empresa encontre profissionais alinhados aos seus valores.
Veja as seguir outras orientações da Michele e a importância de implantar a cultura organizacional desde o início do empreendimento.
Correio da Manhã - Como os micros e pequenos empresários devem agir para criar entre os funcionários e colaboradores comportamentos que favoreçam o crescimento e a sustentabilidade da empresa?
Michele Heemann - Os colaboradores são alicerces de sustentação da empresa. Eles devem ser valorizados enquanto indivíduos e, também, como profissionais para que possam melhorar comportamentos e desenvolver bons resultados. Algumas medidas simples, mas que podem ajudar nesse processo são: estimular o espírito de equipe, fornecer feedbacks, oferecer boas ferramentas de trabalho e investir em desenvolvimento e reconhecimento.
C.M. - O que os pequenos e médios empreendedores precisam conhecer para implantar uma cultura que ajude a definir a sustentabilidade e o crescimento da empresa?
M.H. - Nunca podemos esquecer que cultura é o nosso jeito de fazer as coisas, é aquilo que acreditamos. Uma empresa que está iniciando esta jornada precisa conseguir traduzir isso em valores e materializar estes valores
em práticas constantes. Esse é o grande sucesso no processo.
C.M. - Existem cursos para orientar os colaboradores no relacionamento com os colegas de trabalho e com os clientes?
M.H. - Sim. No portal do Sebrae, por exemplo, há cursos gratuitos e no formato online que podem auxiliar tanto no relacionamento com colegas de trabalho quanto com os clientes. Na Contabilizei desenvolvemos
alguns programas com temas focados neste objetivo, como comunicação assertiva, empatia, inteligência emocional, visão sistêmica, entre outros.
C.M. - Que medidas o empreendedor deve adotadar em caso de comportamentos inadequados?
M.H. - Depende muito do tipo de comportamento adotado pelo colaborador e do nível de seriedade do caso. É importante ter um processo claro do que é considerado uma falha, mas passível de ajuste, e o que não é tolerado naquela organização. Um bom guia de conduta ou código de ética, sempre ajuda neste alinhamento entre todos envolvidos na organização. Algumas situações são ajustáveis com feedback formal, um plano de
ação e acompanhamento para evitar que isso aconteça novamente. Um processo bem desenhado geralmente envolve etapas de feedback registrado, advertência verbal ou escrita, e em algumas situações desligamento, para problemas recorrentes ou de alta gravidade.
C.M. - Encontros fora do ambiente do trabalho para estreitar o relacionamento entre os colaboradores e clientes são recomendados?
M.H. – Toda e qualquer atividade, independente de local, mas que foca na integração do time, ajuda a aproximação entre colegas. Ações que propiciem que as pessoas se conheçam, saibam mais da carreira ou da vida dos pares, ajuda a engajar o time e aumenta a afinidade do grupo de trabalho.
C.M. - Quais os valores e práticas que devem ser compartilhados entre os funcionários e clientes?
M.H. - A cultura de uma empresa se sustenta por um processo bem definido de como trazer os valores como pano de fundo em tudo o que ela faz. Aqui na Contabilizei sempre nos questionamos se a maneira como estamos conduzindo está promovendo ou detratando os nossos valores. Isso nos ajuda muito no ajuste de
rota de como tomar uma decisão, como construir um processo e até em decisões sobre ambientes físicos e remotos. O importante é ter clareza do que é importante na empresa e estar constantemente atento às propostas e mudanças que podem ser feitas.
C.M. - O trabalho home office prejudica o desenvolvimento de uma cultura organizacional?
M.H. - Pelo contrário. Nossa empresa é um exemplo de organização que obteve resultados positivos com o home office. Este modelo permitiu agilizar processos seletivos para encontrar profissionais com as características desejadas, além de ampliar as taxas de retenção. Atualmente, temos mais 1.200 colaboradores que atuam em modelos de trabalho remoto, híbrido e presencial, nos escritórios de Curitiba (PR) e São
Paulo (SP), além das mais variadas localidades do país. Independentemente de onde as pessoas estão
alocadas, a cultura da organização precisa ser pensada dentro dos processos e não apenas na fala. Os comportamentos e ações que são tomadas é o que é percebido no dia a dia das pessoas.
C.M. - A troca de mensagens via ferramentas da internet atrapalha no relacionamento entre os colaboradores?
M.H. - Ferramentas de comunicação ajudam e dão agilidade para a condução e entrega de processos e resultados. O ideal é que a própria empresa estabeleça canais oficiais para comunicação entre os colaboradores, como e-mail, intranet ou chats corporativos. Para que o relacionamento entre as pessoas aconteça é importante
ter ritos ou agendas que propiciem essa aproximação e trocas. A aproximação não está ligada a estar presente ou próximo, mas em conhecer a pessoa com quem você trabalha, estreitar vínculos e aumentar o nível de confiança.
C.M. - Quais as orientações que devem ser passadas aos pequenos e médios empreendedores visando a construção de um ambiente profissional que transmita confiança e respeito entre os colaboradores e clientes?
M.H. - A confiança e o respeito são essenciais para que os colaboradores se sintam seguros e empenhados na empresa e, consequentemente, motivados para lidar com os clientes. Para isso, também é importante escolher
com atenção quem vai liderar a equipe, a fim de garantir a consolidação da cultura organizacional da empresa. Cabe ao gestor o papel de ouvir, direcionar e colaborar com as pessoas que ele lidera, fazendo assim com que
todos trabalhem em prol de um objetivo comum. Um líder precisa ser um representante do que a empresa acredita e estar alinhado aos seus valores para conseguir promovê-los. Nunca podemos esquecer que cultura é o nosso jeito de fazer as coisas, é aquilo que acreditamos. Uma empresa que está iniciando esta jornada
precisa conseguir traduzir isso em valores e materializar os valores em práticas constantes. Esse é o grande sucesso no processo.
Michele Heemann é vice-presidente de Pessoas, Cultura e Gestão da Contabilizei. Psicóloga formada pela PUC-RS com MBA em Gestão de Pessoas e Gestão Empresarial pela FGV e MBA em Transformação Digital pela PUCRS, reúne especializações em Gestão Estratégica pela ESPM e Certificação Internacional em Metodologia 6Ds. Com mais de 20 anos de experiência em recursos humanos, consultoria empresarial e coaching, anteriormente passou por empresas como Crédito Real, Mind On, Kley Hertz Farmacêutica. Hoje mantém o
foco na transformação digital em gestão de pessoas e no apoio aos desafios estratégicos ligados ao ecossistema de startups em um cenário de desenvolvimento acelerado e de cultura escalável.