O Brasil, apesar de ser a pátria de Falcão, considerado por muitos como o maior atleta de Futsal da história e eleito quatro vezes o melhor jogador do mundo pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), enfrenta um sério problema de desvalorização do esporte. Embora seja um dos esportes mais praticados no país, profissionalmente muitos atletas precisam buscar novas oportunidades no exterior.
Miguel Kenji, brasileiro de 23 anos que atualmente reside na Espanha e atua na equipe do Córdoba na Liga Nacional Espanhola de Futsal, é um exemplo disso. Em entrevista ao Correio da Manhã, Kenji compartilhou sua trajetória do futsal brasileiro para o exterior.
"Minha primeira oportunidade surgiu quando eu tinha 18 anos. Minha mãe sempre me acompanhava nos jogos e me filmava. Um dia, fiz um compilado com meus melhores momentos e enviei para alguns empresários. Depois de um tempo, surgiu a proposta de ir para os Emirados Árabes", disse Kenji.
Kenji, que posteriormente se transferiu para a Espanha, destacou a valorização do futsal na Europa e a forma como foi recebido no clube. "Por ter muitos brasileiros no time, acabou facilitando. É difícil ficar longe da família. Então, esse contato com os brasileiros ajudava nessa questão", explicou.
Estrutura
Ele também comentou sobre a estrutura das quadras na Espanha. "Na Primeira divisão, todas as quadras precisam ser de madeira. Então, fica muito mais fácil jogar e desgasta menos o joelho, o tornozelo do atleta. No Brasil, um dia você joga em uma quadra de cimento, outro dia na de madeira, com viagens de 10, 15 horas pra jogar. Isso dificulta muito a prática do futsal", lamentou.
Quando questionado sobre o futsal não ser considerado uma modalidade olímpica, Kenji expressou sua opinião. "É um assunto bem complicado e polêmico. É claro que gostaríamos de estar nas Olimpíadas. Não entendo as justificativas para não inserir a modalidade. Não vejo motivos para o futsal não ser colocado nas Olimpíadas e penso que se fosse inserido como modalidade olímpica, isso ajudaria muito para o esporte evoluir", afirmou.
A temporada 23/24 terminou com o Córdoba garantindo sua permanência na primeira divisão. Kenji, que possui dupla nacionalidade (ítalo-brasileiro), alimenta o sonho de representar alguma seleção e jogar uma Copa do Mundo.
Treinamento
Enquanto isso, no Brasil, a Liga Nacional de Futsal (LNF) busca atrair mais visibilidade e, consequentemente, uma maior valorização. Wellerson Santos, preparador físico do Brasília Futsal, falou sobre a importância do futsal e o trabalho sério feito para valorizar e incentivar o esporte.
"Hoje em dia, temos o futsal como um dos esportes mais praticados no mundo. Desde cedo, vemos as crianças praticando o futsal. A base de grande parte dos jogadores de futebol de campo hoje em dia é feita nas quadras. E ainda assim, nosso esporte não possui a valorização necessária", disse Santos.
Sobre a solução para a valorização do futsal no Brasil, Santos pontuou o trabalho a ser feito pelas mídias. "É importante que a liga continue buscando novas transmissões, como estamos tendo agora a transmissão em canais como o Sportv. A própria CazéTV transmite alguns jogos no YouTube. Essas transmissões fazem com que o futsal aumente sua visibilidade, popularizando a modalidade, e conseguindo até mesmo mais investimento, seja feito nos clubes, nas quadras, e na própria remuneração dos jogadores", concluiu.
Wellerson também fez questão de enfatizar a frustração pelo futsal não ser considerado uma modalidade olímpica. "O futsal, mesmo sendo um esporte popular no mundo inteiro, não estar incluso nas Olimpíadas é algo que nos chateia, pois é exatamente essa visibilidade que nós precisávamos, esperamos que nos próximos anos seja feita essa inclusão", afirmou.
Apaixonado pelo esporte, Wellerson Santos é formado em Educação Física e almeja ver o crescimento da modalidade, conquistando a devida valorização que o futsal merece.