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Investimentos bilionários

Por Daniele Madureira (Folhapress)

O Brasil investiu R$ 43,4 bilhões nos esportes olímpicos nos últimos 20 anos, período em que conquistou 84 medalhas (25 delas de ouro). Considerando as Paralimpíadas, foram 351 medalhas ao todo (112 de ouro). Este montante não engloba recursos destinados à infraestrutura para os Jogos Pan-Americanos de 2007, a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas de 2016, todos realizados no Brasil.

Os dados pertencem a uma pesquisa da consultoria em imagem e reputação Ponto MAP, à qual a reportagem teve acesso com exclusividade. Os valores foram atualizados até dezembro de 2023, pelo IPCA, e tomam como base as informações do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Ministério do Esporte e o portal Transparência no Esporte, da UnB (Universidade de Brasília).

Do total de R$ 43,4 bilhões, R$ 6,5 bilhões correspondem ao patrocínio de marcas por meio do programa de incentivo ao esporte do governo federal, a partir de renúncias fiscais. O setor privado, por sinal, deu um salto nos investimentos no evento a partir de 2021, acompanhando o maior interesse da opinião pública: os recursos do último triênio (2021, 2022 e 2023) somaram R$ 1,9 bilhão, valor 48% superior ao aporte que antecedeu as Olimpíadas de Londres em 2012.

"Além do entretenimento, os grandes eventos são expressões da cultura, que geram engajamento do público", diz Marília Stábile, fundadora da Ponto MAP. "Essas reações podem ser positivas ou negativas e englobam as marcas apoiadoras. Daí a necessidade de medir o impacto social, no caso das Olimpíadas, e o quanto se espera das marcas, para além de um logotipo estampado na camiseta", afirma.

Entre 2003 e 2004, o Brasil investiu R$ 1,5 bilhão e conquistou 10 medalhas, segundo o levantamento. "Já entre 2017 e 2020 - um período maior, porque houve o hiato da pandemia -, o país injetou R$ 7,3 bilhões nas Olimpíadas e somou 21 medalhas", diz Givovanna Masullo, CEO da Ponto MAP. "Ou seja, quanto mais o país investe em esportes olímpicos, mais medalhas ele conquista."

O interesse pelas Olimpíadas, no entanto, não é algo linear entre o público. Outro levantamento da Ponto MAP, agora em parceria com a empresa de pesquisas V-Tracker/V-Ask, identificou que a classe A é a que mais vê valor nos Jogos Olímpicos. Para 40% desse estrato social, as Olimpíadas são um evento "muito importante" e outros 45% consideram o assunto "importante". No extremo oposto, 16% da classe DE avalia o evento como "muito importante", enquanto 26% o veem como "importante".

"Um dos entrevistados da classe DE chegou a responder a pesquisa com um questionamento: 'Vocês pegam ônibus?'", diz Marília, chamando a atenção para o nível de prioridade de quem está na base da pirâmide. "Mas para 54% da classe C, o evento é 'muito importante' ou 'importante', o que mostra o quanto as marcas poderiam estar presentes no dia a dia dessas pessoas, fazendo mais para tornar o esporte acessível, com o apoio à reforma de quadras ou espaços de lazer, por exemplo", afirma.

A pesquisa com a V-Tracker, realizada em 10 de julho com 1.067 pessoas em 380 municípios de todos os estados do país, com margem de erro de 3%, apontou que os entrevistados veem as Olimpíadas principalmente como uma forma de incentivo ao esporte (28% das respostas), além de dar mais visibilidade aos atletas e às modalidades (23%). Para 17%, os jogos olímpicos movimentam a economia.

No âmbito do consumo, 27% dos entrevistados disseram associar roupas esportivas às Olimpíadas. Para outros 20%, os equipamentos esportivos são mais frequentemente associados aos jogos. "Mas existem ainda 18% que relacionam Olimpíadas com marcas de bebidas, 13% com tecnologia e 11% com alimentos", afirma Giovanna.

Quanto às formas de assistir ao evento que começa no próximo dia 26, a maior fatia do público (43%) pretende optar pela própria casa, via TV aberta ou fechada. Outros 18% responderam que também vão assistir aos jogos em casa, mas pela internet (Youtube ou Twitch, plataforma de jogos online ao vivo). Já 11% optaram pelas redes sociais - ou seja, 29% pretendem acompanhar as Olimpíadas de Paris pela internet.