Pedro Sobreiro
Forte, veloz como uma flecha e dono de um queixo avantajado que rendeu o apelido de Queixada, Ademir de Menezes arrancava, cortava para dentro e chutava firme para pegar os goleiros de surpresa. Seu estilo de jogo único de atacante que flutuava pelas laterais do setor ofensivo do campo deu origem a posição conhecida como “ponta de lança” e obrigou os técnicos rivais a adotarem a linha de quatro zagueiros para tentar impedir as famosas arrancadas do craque.
Revelado pelo Sport, onde foi tricampeão pernambucano, o atacante se transferiu para o Vasco da Gama em 1942 e liderou o maior elenco da história do clube. Apelidado de “Expresso da Vitória”, o esquadrão conquistou 18 títulos em dez anos, incluindo o Sul-Americano de 1948 e o Rivadavia Corrêa Meyer, sucessor da Copa Rio. Segundo levantamento da EstudeVasco, de 1949 a 1950, Ademir marcou impressionantes 110 gols em 86 partidas, incluindo jogos do Vasco e da Seleção.
Ademir também ficou marcado por sua breve passagem pelo Fluminense, onde se consagrou campeão carioca de 1946. Nas Laranjeiras, o técnico tricolor, Gentil Cardoso, cunhou a famosa sentença: "Deem-me Ademir, que eu lhes darei o campeonato". E assim foi. Com o brilhantismo do artilheiro, o Fluminense se consagrou campeão carioca.
Pelo Brasil, 31 gols em 39 jogos e cinco títulos. Vestindo a camisa da Seleção, Ademir marcou o primeiro gol do Brasil no Maracanã e se tornou o maior artilheiro brasileiro em uma única edição de Copa do Mundo, marcando nove gols em 1950. Esse recorde, inclusive, permanece até hoje. Quem mais chegou perto de se igualar a Ademir de Menezes foi Ronaldo Fenômeno, que marcou oito gols na Copa de 2002.
Com seu jogo e muito carisma, o Queixada virou ídolo nacional e passou a estampar diversas campanhas publicitárias, fazendo dele o primeiro grande astro do futebol profissional brasileiro. A idolatria era tão grande que ele foi homenageado pelo Sport com uma estátua de 2m de altura na sede do clube pernambucano. No Vasco, onde marcou 301 gols, ele foi considerado ídolo máximo até o surgimento de Roberto Dinamite, outro artilheiro fenomenal do Cruz-maltino. Com a camisa do Gigante da Colina, Ademir imortalizou a frase: “Sou um homem dominado pelo coração e meu coração é dominado pelo Vasco”.
Vítima de um câncer de medula, o craque - que conseguiu o incrível feito de ser ídolo de três grandes torcidas do Brasil - faleceu em 11 de maio de 1996, ignorado pela imprensa, que relegou ao esquecimento ele e tantos outros talentos da gloriosa geração vice-campeã do mundo em 1950. Recentemente, porém, vem havendo um resgate da memória dessas lendas por parte de alguns veículos e dos próprios clubes de futebol. Que nesta data, Ademir de Menezes possa ser mais reconhecido pelos torcedores brasileiros como um craque revolucionário.