Por: Igor Gielow (FP)
Em um discurso em Minsk, o ditador de Belarus, Aleksandr Lukachenko, disse que foi o responsável por evitar quer Vladimir Putin matasse o líder mercenário Ievguêni Prigojin durante o motim do fim de semana na Rússia.
Mesmo para os padrões usuais de Lukachenko, adepto de um estilo bufão, seu relato das tensas horas do sábado (24), quando ficou claro que o chefe do Grupo Wagner iria enviar suas tropas a Moscou, é de um desassombro teatral.
O ditador contou que o colega russo estava determinado a "eliminar" os rebeldes. "Eu disse para o Putin: sim, nós podemos matá-lo, não seria um problema. Se não der certo na primeira vez, então na segunda. Eu disse a ele: não faça isso", afirmou. Já para Prigojin, que segundo a versão oficial da crise resultou no acordo, Lukachenko disse: "Eles vão te esmagar como um inseto".
Segundo o relato do ditador, por volta das 8h de sábado ele recebeu informações de "algo estava errado no sul da Rússia". "Sabe como é, há uma guerra, sempre há muitas informações", disse. Logo depois, veio um chamado do Kremlin dizendo que Putin queria conversar "de forma urgente". Ficou combinado que falariam 10h30, mas às 10h10 o presidente russo já estava na linha.
"Ele me explicou tudo e disse: 'Sacha [diminutivo de Aleksandr], não tem jeito, ele [Prigojin] não quer ouvir ninguém, nem atende o telefone'. Eu o aconselhei a não fazer aquilo [matar o rebelde]", disse Lukachenko para uma claque de altos oficiais das Forças Armadas.
Segundo seu relato, ele conseguiu falar com Prigojin por volta das 11h, e ao meio-dia os três protagonistas da crise estavam em uma conferência telefônica. A essa altura, já havia combates entre as forças mercenárias e a Força Aérea Russa, que perdeu pelo menos cinco helicópteros e um avião de comando e controle na crise.
Enquanto a coluna com tanques montados em carretas, blindados e outros veículos do Wagner ia para Moscou, houve outras seis rodadas de conversas, mas Lukachenko não disse se Putin participou de todas elas. Ao fim, já na noite de sábado, o acerto foi divulgado, com Prigojin insistindo que só queria salvar seu grupo da intervenção propostas pelos rivais do Ministério da Defesa, e não derrubar o governo.