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Justiça condena delegado por falsidade ideológica

Maurício está preso desde 2021, quando foi alvo da operação "Carta de Corso" | Foto: Henrique Coelho / g1 Rio

Por Gabriel Rattes

O delegado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Maurício Demétrio Afonso Alves, foi condenado pela 1ª Vara Criminal Especializada a nove anos, sete meses e seis dias de prisão em regime fechado, com a perda do cargo público. No dia 24 de novembro de 2023, o GAECO/MPRJ denunciou o delegado e outras cinco pessoas pelo crime de falsidade ideológica. De acordo com o GAECO/MPRJ, o delegado recebeu 11 multas por infrações de trânsito no intervalo de 13 de abril de 2020 até 04 de maio de 2021. Em sete dessas 11 multas foram inseridas falsas declarações em relação ao nome do real condutor do veículo. As fraudes nas multas foram negociadas a R$ 500 cada.

A denúncia foi feita pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da 1ª Promotoria de Justiça junto às 1ª, 2ª e 3ª Varas Especializadas em Organização Criminosa. Maurício está preso desde 2021, quando foi alvo da operação "Carta de Corso", deflagrada pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ).

Nesta condenação, Maurício terá que pagar ainda uma multa no valor de cinco salários mínimos, em torno de R$ 7 mil. "O réu cuida-se de um Delegado de Polícia, situação que, por si só, demonstra culpabilidade mais elevada. Cuida-se justamente de profissional incumbido de promover as investigações de crimes, sendo um paradoxo atuar no sentido de embaraça-las. Pessoa em quem a sociedade deposita grande confiança e da qual muito espera em prol da Segurança Pública. Pessoa de quem se espera exemplo, e não, comportamentos deploráveis como os verificados nos autos. Assim, é a condição que revela maior censurabilidade", diz o documento de decisão.

Ainda de acordo com o documento, foram colhidas provas de que o Demétrio externa um padrão de riqueza altíssimo. "São inúmeros os registros de gastos de altíssimos com o aluguel constante em mansões em Angra, utilização rotineira de lanchas e jet-ski, viagens internacionais constantes (em classe executiva), proprietário de diversos carros blindados de altíssimo padrão, assim como residência fixada em imóvel luxo. Além disso, o acusado possuía altíssimo valor (centenas de milhares de reais) em espécie em sua casa, objeto de apreensão. Vida abastada que o próprio acusado resume como sendo uma 'vida de mensaleiro'", enfatiza.

Operação Carta
de Corso

Em 2021, o MPRJ obteve decisão liminar favorável em ação civil pública ajuizada contra o delegado de polícia Maurício Demétrio, três policiais civis, um perito criminal e outras seis pessoas por atos de improbidade administrativa.

A investigação criminal conduzida pelo GAECO/RJ, que deflagrou a Operação Carta de Corso, revelou a existência, entre os anos de 2018 e 2021, da organização criminosa que se instalou na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM). Ficou constatado que, ao invés de reprimir a prática de delitos como a "pirataria" no famoso Polo de Moda da Rua Teresa, em Petrópolis, os acusados exigiram dos lojistas o pagamento de vantagens financeiras para que estes continuassem comercializando roupas falsificadas.

Além disso, o MPRJ comprovou que os réus, utilizando as estruturas da Polícia Civil, praticaram diversos atos de obstrução às investigações em curso contra esta organização criminosa, incluindo a destruição de aparelhos celulares apreendidos pelo Estado, que continham provas contra o grupo, e a deflagração de duas fases da Operação intitulada "Raposa no Galinheiro".

A primeira, forjada para prender o delegado de polícia Marcelo Machado, que investigava Maurício Demétrio na Corregedoria da Polícia Civil, e para degradar a imagem de outros delegados que também participavam desta investigação. A segunda para conduzir para a DRCPIM pessoas que testemunharam contra os réus, visando sua intimidação, tendo Mauricio se aproveitado destas ações para obter espaço nos veículos de comunicação de forma a caluniar, coagir e desacreditar quem se colocava como empecilho para a atuação da organização.

Outras acusações

Além dos crimes citados, Maurício é acusado de agir, em 2021, contra o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. "A quebra de dados telemáticos ainda foi possível identificar a prática de atos tendentes à criminalização de autoridades públicas, incluindo um suposto outro flagrante preparado, por tráfico de drogas, de um delegado que teria atuado na Corregedoria da Polícia Civil e, por corrupção, do então candidato a prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (às vésperas das eleições)", detalha o documento da Justiça.

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