No Dia Mundial da Capoeira, celebrado na última sexta-feira (5), os mestres e mestras dessa tradição centenária afro-brasileira tiveram um motivo para comemorar. A Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa lançou o edital de credenciamento "Iê Meu Mestre", com cem vagas e premiação total de R$ 1,5 milhão. Esta é a primeira chamada pública voltada especificamente para o segmento na história do estado do Rio de Janeiro. As inscrições abrem nesta segunda-feira (8/07), às 18h, na plataforma Desenvolve Cultura.
"Estamos atentos às demandas da população e foi através do processo de escuta que desenhamos este edital. A Roda de Capoeira e o Ofício de Mestra e Mestre de Capoeira são bens culturais de todos os cidadãos brasileiros, incluindo os que habitam os 92 municípios do Rio de Janeiro, e nós, enquanto poder público, devemos cumprir com o papel de garantir que tais bens sejam salvaguardados", ressalta a secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros.
O edital é voltado apenas a Mestres e Mestras de Capoeira, com idade igual ou superior a 50 anos completos na data de inscrição da proposta, e vai garantir premiações de R$ 15 mil. O planejamento de políticas públicas para o segmento foi possível a partir do Cadastro Fluminense da Capoeira, realizado neste ano pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), com o objetivo de mapear informações sobre a prática da capoeira e o ofício dos Mestres e Mestras no estado.
"Nessa fase do cadastro, 350 capoeiristas cumpriram com todos os requisitos, ou seja, além de preencherem o formulário, enviaram a documentação comprovatória demonstrando as suas formações e atuações. Foi um grande esforço organizar todos esses documentos que, agora, estão arquivados formando uma base de informações sólida. Além do mais, com os dados poderemos pensar em outras ações, como um mapeamento mais profundo, por exemplo", explica Ana Cristina Carvalho, diretora do Inepac.
No ato da inscrição, serão aceitas propostas voltadas para o desenvolvimento de ações que promovam a manutenção, a produção artística, a difusão de conhecimento e a salvaguarda do patrimônio cultural, com atuação comprovada no Estado do Rio de Janeiro e cadastrada pelo Inepac como Mestre ou Mestra de Capoeira. O formato pode ser em roda de conversa, roda de capoeira, encontro de grupos, oficinas de capoeira e oficinas de instrumentos ou musicalidade ligados ao segmento.
História de lutas e conquistas
Os primeiros registros da palavra "Capoeira" correspondem ao início do século XIX. Ela foi desenvolvida de maneiras distintas em cidades portuárias do Brasil Império, como o Rio de Janeiro, Salvador e Recife, e era, então, realizada em sua grande maioria por escravizados africanos de origem banto e, com algumas exceções, por membros do exército e da polícia.
Por muito tempo, a Capoeira sofreu preconceito e foi considerada uma luta violenta, sendo alvo de repressão policial e coibida em âmbito legal. Foram necessárias décadas de desconstrução e conscientização e, a partir de 1930 e 1940, a prática começa a livrar-se, aos poucos, desse estigma e começa a ser reconhecida como um saber genuinamente brasileiro.